RECIFE, 6 DE DEZEMBRO DE 2006 – QUARTA-FEIRA
NÚMERO 127
CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA
“Boa tarde, afinal, o que realmente significa "BESTA FUBANA". Alguém poderia me esclarecer.” – Ednei Luiz – São Paulo – SP
R. O dramático apelo do caríssimo amigo paulistano merece toda a atenção possível. Peço encarecidamente aos nossos leitores aqui da região que me ajudem a dar uma resposta satisfatória a essa consulta. Seria lamentável se nós, cidadãos da Nação Nordestina, não estivéssemos aptos a resolver um problema tão simples e que tem tudo a ver com nossa alma e nossos costumes. O que danado vem mesmo a ser Besta Fubana??? Me ajudem, por favor!!!
* * *
"Hugo Chávez está sendo reeleito na Venezuela porque fez cair a pobreza e a desigualdade no país, colocou jovens pobres nas universidades, acabou com o analfabetismo e rompeu com o sabugismo de Estado diante dos EUA. O equívoco dos inimigos dele e dos de Lula é igual. Acham que maiorias esmagadoras apóiam os dois presidentes porque são compostas de 'ignorantes' e de desinformados. Bobagem. Brasileiros e venezuelanos votam pelo próprio bem-estar, o que para as elites latino-americanas, acostumadas a ver a ralé votar em prol delas, entende-se que seja incompreensível." - Eduardo Guimarães - São Paulo - SP
R. De fato, as nossas elites não estão com nada. Ainda bem que nosso querido presidente Lula, previdente, sábio e com visão de futuro, se afastou completamente de todas as elites do Brasil: as elites intelectuais, as elites bancárias, as elites políticas, as elites sindicais, as elites religiosas, as elites industriais, as elites estudantis, as elites financeiras, as elites prostitucionais, as elites acadêmicas, as elites jornalísticas, enfim, as elites da casa do caralho, da bixiga lixa, da gota serena e dos cachorros da mulesta e as elites retrógradas e atrasadas que governavam o Brasil desde o seu descobrimento. Estamos salvos ! ! !
* * *
“Olá, Berto, veja a notícia que recolhi no portal Terra, no dia de hoje: Sábado, 2 de dezembro de 2006, 10h20 Atualizada às 10h53:
‘Mulher é presa por sexo com cavalo na Austrália. Uma mulher australiana foi presa e está sendo processada depois que a polícia a pegou nua, em um campo urbano, cometendo atos libidinosos com um cavalo, na cidade de Lismore, Estado de New South Wales, de acordo com o Metro. O incidente ocorreu em torno das 9h de segunda-feira. A polícia foi chamada ao campo depois que uma pessoa viu o que estava acontecendo, disse um porta-voz da polícia. A mulher foi liberada mediante o pagamento de fiança e deve se apresentar ao tribunal no dia 18 de dezembro para ser acusada de bestialidade e comportamento ofensivo. A polícia acredita que muitas pessoas assitiram ao ato. Quem estivesse perto da esquina das ruas Teriana e Wilson teria visto o incidente.’
Comparando essa notícia com a foto exibida no seu site, da moça deitada perto de um jumento, escrevi os versos abaixo:
Veja só meu caro Berto:
o mundo não é diferente,
seja em qualquer continente,
populoso ou bem deserto,
quando o sexo é desperto.
Aqui, o muar, num estalo,
vendo a moça, mostra o falo.
E a mulher, se lhe apetece,
na Austrália se oferece
nua em pêlo a um cavalo.
Um abraço” - Hardy Guedes - (Um fluminense que, pouco a pouco, vai absorvendo a cultural local!) – Recife – PE
R. Meu amigo, em sendo fluminense você tá um glosador arretado! Esse sortudo cavalo australiano foi elevado às culminâncias poéticas por um vate à altura da gulodice da moça, provavelmente uma daquelas galegas dos peitões fartos e dos pentelhos louros. Agora faça o seguinte: mande também uma glosa praquela foto aqui do nosso jegue pidão, olhando a moça deitada com a tabaca ao sol. Tenha piedade da precisão do jumento brasileiro !
* * *
* * *
“Caro Berto, ainda bem que você atendeu aos pedidos dos milhares de leitores do JBF, entre os quais me inscrevo. E, como não sou bobo nem nada, a partir de janeiro escrevo mais, multiplico meus ganhos de R$ 8.437,20 por artigo e repasso todo o meu dinheiro para o PT, colaborando, desde já, para a campanha de Luiz Inácio da Silva à re-reeleição.” – Marcelo Alcoforado – Recife – PE
R. Meu nobre articulista, “A Propósito” eu quero revelar que a gratificação paga pelo JBF aos seus colaboradores foi reajustada. Exatamente por conta desse motivo que você citou, a re-reeleição do Presidente Lula. Por expressa recomendação do Palácio do Planalto. Isto porque os planos do nosso presidente coincidem com os planos do coronel-golpista venezuelano, ou seja, perpetuar-se no poder através da mais nova invenção da Ciência Política: a “ditadura democrática”, que consiste em eternizar um tirano no poder através do voto direto dos bestas. Desculpe. Do voto direto dos eleitores. Essa mania de digitar “besta” a todo momento, por causa do nome do jornal, me leva a cometer esse tipo de gafe. O que interessa é o seguinte: por conta de repasses da Petrobrás, a gratificação, durante o ano de 2007, será de R$ 12.387,34 por cada texto. A única coisa que não entendi é que me pediram recibos de R$ 25.897,98 de cada um na hora de prestar contas. Como não entendo bulhufas de contabilidade, fiquei boiando. Mas vou cumprir o que me pediram, claro.
* * *
“Ontem tive que conviver com o temperamento obtuso de Godolfredo. Pense num cara intransigente... Saímos em missão oficial e havíamos programado ir a diversos lugares. Godô cismou de que não iria sair do primeiro canto que eu fui ontem e foi difícil demovê-lo da idéia. Tive que esperar até que ele refletisse bastante e assentisse... Eu acho que ele está com uma crise de cavalo preguiçoso: só quer voltar para a cocheira: na volta, após quase uma hora aguardando a mudança de temperamento de Godô, parei no Mercado da Madalena para ver se tinha uma carne-de-sol de porco que estava querendo. Nem tinha a carne que eu queria e ele se arretou com a minha parada: fincou pé e não queria mais nem voltar pra casa! Usei a técnica do desprezo: deixei-o à míngua, sentei-me num dos barzinhos do mercado e tomei duas cervejas. Eu acho que ele pensou que eu não iria mais voltar... Ficou tão nervoso... Pegou rápido e veio pra casa trabalhando que era uma beleza. Só fui chegar após as 19:00h! E, de tão P da vida, nem dei seqüência ao trabalho que estava fazendo: comi um bife de alcatra dos que havia comprado no Mercado da Madalena e fiquei lendo até a hora do sono fatal. Carro velho é lasca! Ops! Espero que Godolfredo não ouça e se dê a novas cismas... – Leonardo Leão – Recife-PE
R. Essa minha igreja é uma despensa: a gente encontra de tudo. Esse cardeal andando de carro velho não passa de uma piada, já que o alto-clero da Igreja Sertaneja, a exemplo de Dom Dedé, só se desloca pelas ruas do Recife nas mais recentes maravilhas de tecnologia automobilística.
* * *
“É de véra. Visitem meu blog e deixem comentários. Eu agora tô totalmente internetizado. http://jorgefilo.blog.terra.com.br/Um forte abraço do poeta - Jorge FilóRecife - PE - Brasil
R. Foi no espaço internético do Poeta Jorge Filó que encontrei essa preciosidade, essa pequena obra-prima do meu querido amigo Orlando Tejo. Vejam só:
Como um gripado que se apega ao lenço Faz dias que sentado nesse toco Todas as vozes místicas invoco Face ao enigma que me deixa tenso Que mão de gênio ou cientista imenso Colocou água dentro deste coco Quem desejou dar tanta vida ao oco Ante o mistério quedo me suspenso. Será possível que uma bola hermética Seja violada sem perder a estética Como os templos incólumes de Olinda Este mistério vem dos babilônios E os vinte e três milhões dos meus neurônios Não conseguiram decifrar ainda.
* * *
“Não entendo a provocação gratuita de certos elementos aos nascidos no valoroso Rio Grande do Sul, estado inclusive com semelhanças de comportamento históricas com Pernambuco, na bravura, na defesa de seu folclore e seus costumes, e na "mania" de se espalhar Brasil afora. Grande artista ou não, este tal de Demócrito se me apresenta como um grande preconceituoso, em comentário gratuito, dispensável e tolo, repetindo uma piada tola ouvida há décadas e reproduzida por tolos. Se a intenção era ser engraçado, esse cara não tem a mínima idéia do que é humor.” - Paulo Rocha – Recife-PE - Gaúcho que nunca queimou a rosca nem comeu nordestino viado em Olinda.
R. Danou-se!!! Agora vai queimar é tudo. Mas, para a perfeita compreensão dos nossos leitores, vou reproduzir o que escreveu o pintor Demócrito Borges no último número do JBF:
“Quem visitar o Rio Grande do Sul por via terrestre e avistar uma fumacinha saindo da mata, não deve se preocupar. Não é nada demais. Ou é o Saci Pererê fumando o seu cachimbo ou então é um gaúcho queimando a rosca.”
Tenha paciência, meu caro gaúcho. Tenha calma. Esse Demócrito é um gozador malassombrado e eu tenho certeza que ele não tinha intenção de ofender o brioso Rio Grande do Sul que, como bem diz você, tem muita parecença conosco. Atesto e dou fé. Bah, tchê, te digo pitando a bomba e completamente pilchado: conheço bem aquele torrão lá do extremo sul e por lá fiz muitos amigos e amigas (já fui casado com uma gaúcha). Até aprendi uma piada quando almoçava numa galeteria de Caxias do Sul: o dono da casa, desconfiando que eu era estrangeiro (num sei mesmo porque razão), veio me perguntar se eu sabia qual o motivo pelo qual os catarinenses eram conhecidos por “Barriga Verde”. Diante da minha ignorância, ele completou: “É porque o gaúcho tem capim nas costas”. Como ele era gaúcho, ri educadamente mas, evidentemente, não concordei com a anedota preconceituosa, ridicularizando seus próprios conterrâneos. E, de troco, contei uma piada pra ele. Disse que no Recife tem tanto viado que os carros não usam cinto de segurança. Mas sim pino de segurança. Que na minha cidade de nascença, Palmares, quem não quisesse morar no meio de dois frangos tinha que alugar uma casa de esquina. E que estavam construindo uma estrada entre Recife e João Pessoa, a BR 24, que já havia sido batizada de Transviadônica. Contei-lhe, também, um fato verdadeiro acontecido comigo quando viajava pelo interior da Paraíba e, ao parar pra abastecer o carro, perguntei ao frentista: “Meu amigo, tem muito boiola nessa terra?”. E ele me respondeu candidamente: “Declarado mesmo só tem 3. Mas incubado nós somos pra mais de 600”. E contei mais aquela antiga do pernambucano que quis empulhar o gaúcho afirmando que “no nordeste só tem macho”, e o gaúcho respondeu “pois no Rio Grande do Sul, metade é macho e metade é fêmea e a gente vive muito bem”. E terminei contando a anedota do filho do senhor de engenho pernambucano que fez sexo pela primeira vez e o pai, todo orgulhoso, se dirigiu ao filho: “Parabéns! Quando é que você vai fuder de novo?”. E o menino lhe respondeu: “Quando a bunda parar de arder”. Não precisava nem você ter afiançado que era um “gaúcho que nunca queimou rosca”. Nós temos certeza disso. Assim como temos certeza do seu bom humor, da sua tolerância, do seu espírito de brasilidade, do companheirismo entre coestaduanos e da sua ciência em conviver com opostos. Só o fato de você agüentar morar no Recife, um verdadeiro garajau de frangos, boiolas, baitolas, adamados e frescos de todos os tipos, já diz bem de sua tolerância e paciência. Estamos certos que você jamais fará como o português do Mercado da Encruzilhada, que se suicidou por hemorragia, rasgando a bochecha com o dedo, depois de não mais tolerar ouvir piadas de português no seu boteco. Enfim, não fique aperreado. Lugar de gente queimando rosca é nessa beirada do Capibaribe. E com um detalhe significativo: tudo feliz e contente de levar bimba, nenhum deles ficando puto com o fato de ser chamado de viado. Veja só que coisa espantosa. Agora tem apenas um detalhe: se você ainda não comeu um nordestino viado em Olinda deve ter sido por falta de oportunidade. Porque o que mais tem naquelas ladeiras é frango cacarejando! E não deixe de dar notícias. Um grande abraço!
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“Santidade, Veja a alegria contagiante dessa leitora do Jornal da Besta Fubana , ao tomar conhecimento que essa gazeta da bixiga lixa vai circular mais de uma vez por semana. Fraterno abraço” – Pedro Malta – Rio de Janeiro-RJ
R. Meu nobre conterrâneo, desterrado em terras cariocas: realmente, tá todo mundo numa risadagem da porra. O único que tá chorando sou eu. É aquela velha fábula da pimenta no fiofó alheio.
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"Perón com 78; Tito com 88; Idi Amin com 79; Stroessner com 92; Salazar, Franco e Fidel já com noventa e tantos anos. E agora Pinochet sofre infarto agudo com 91. Por outro lado, João do Rio com 39; Augusto dos Anjos com 30; Isidore Ducasse com 24; Chopin com 39; Rimbaud com 37. E isso mencionando apenas alguns nomes que podem sugerir uma espécie de complô universal contra os loucos talentosos e a favor da mediocridade dos ditadores. Daí a idéia de que o diabo seria muito otimista se acreditasse que pode transformar o mundo e a vida em algo ainda mais contraditório, incompreensível e absurdo do que já são." - Ezio Flavio Bazzo - São Paulo – SP
R. E o bigodudo Stalin, num cabe nessa sua lista não???!!! Você esqueceu dos patrícios Castro Alves, Noel Rosa e Carlos Pena Filho, três talentos que partiram jovens, deixando uma obra ainda incompleta e em progressão. Esses porras desses tiranos estão enquadrados naquele dito popular que afiança que “vaso ruim demora a quebrar”. Agora só tem um detalhe: você botou Fidel no mesmo bisaco que Salazar e Franco, que já desencarnaram e estão prestando contas nas profundas. O barbudo ídolo de Lula, além de não ter 90, continua ainda correndo malassombro na infeliz ilha do Caribe.
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“Prezado Papada, felizmente consegui um emprego temporário, para este final de ano: Meu tio Aloysio arrumou para eu trabalhar como baiana cover, no quiosque de acarajé dele. É só fazer essa cara de quenga, adquirida no próprio estabelecimento (após o consumo excessivo de comidas a base côco). A clientela que quiser ser atraída por mim, é só comparecer ao "Acaraxé & Cia", no estacionamento do Shopping Outlet (bairro do IPSEP). Foi o melhor trabalho que consegui, depois de perder a vaga de atendente na banca de revistas da Tamarineira. A "Banca do Otário" funciona na calçada do Hospital dos Alienados e sobrevive basicamente da venda de revistas Veja para os internos. Mas, após a derrota de Alckimim, estava recrutando apenas candidatos tucanos. Felizmente, agora vai dar pra pagar minhas aulas de Português, na esquina da Rua da Soledade. O professor, que também é chaveiro e amolador de tesoura, cobra apenas 1 real para ensinar letras feias, com especialização em palavras erradas e extensão em frases mal pontuadas. Desculpe a falta de parágrafo no cartaz dele. Muito axé!” - Gustavo Arruda - Ex-critor e ex-pírita – Recife – PE
R. Conforme eu já afirmei no último número, não é por falta de rezas e novenas que essas coisas aparecem na minha frente. E, pra bem pagar os meus pecados, essa Banca do Otário fica do outro lado da rua onde está o posto no qual paro sempre pra abastecer o carro e pra olhar os fartos peitos da moça do caixa.
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“Quando morava no Recife, ficava a imaginar como seriam aqueles sobrados da Rua Nova e Imperatriz, hoje com lojas e depósitos nos andares superiores. Encontrei essa imagem e digitalizei, quanta surpresa!! Só tem uma coisa, pra comer tinha que subir 4 andares, acho que ficaria com fome!! O que comesse já tinha acabado quando descesse as escadas. Um grande abraço.” - Inês Carvalho – Triunfo-PE
R. Veja bem: observei atentamente essa planta do sobrado e não consegui localizar o cagador. Você está preocupada com o fato de ter que subir 4 andares pra comer. Eu estou imaginando quantos andares teria que percorrer para descomer. Ou será que naqueles tempos o povo obrava na beira do rio? Esse mistério me intriga profundamente.
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“Berto véio, amuntei na Besta Fubana, centei-lhe o par das esporas e naveguei o velho Una da Serra da Boa Vista até bater dentro do mar sagrado lá pras bandas de São José da Coroa Grande. Foi então que vi, com esses óios que a terra há de comer, o jumento Josimar, devidamente paramentado e, com foçinho mais liso do mundo, farejando a priquita de uma moça, que sem saber o perigo que corria, tomava sol na beira da praia. Aproveitando a conversa fiada, vão duas pérolas do poeta paraibano Manoel Xandú:
Tem coisa da naturezaQue eu vejo e fico surpreso,Uma nuvem carregadaSustentando aquele peso,De dentro de um bolo d`águaSaltar um corisco aceso.
E, em resposta a uma moça que se dizia muito admirada, disparou:
Me admira é o pica-pauComer miolo de angico,Tem hora que é taco-tacoTem hora que é tico-tico,Nem sente dor de cabeçaNem quebra a ponta do bico.
Um abraço – Bernardo – Maceió-AL
R. Meu amigo,o jumento Josimar tá é morrendo de inveja do jumento aqui do jornal. Que continua sendo glosado (epa) pelos poetas do Nordeste.
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CARNAVAL ANTIGO
MARCHINHA E SAMBAS
“Comunico aos nobres amigos que acabo de recompor o compartilhamento de Carnaval Antigo, expirado na semana passada. São 240 faixas, assim distribuídas: da 001 à 120, marchinhas; da 121 à 240, sambas carnavalescos. Só os 4Sharedianos podem avaliar a pedreira que foi isso. A todos, um bom proveito.” – Raimundo Floriano – Brasília-DF
http://www.4shared.com/dir/1421080/2b5edd2c/Carnaval_Antigo.html
R. Mais uma vez o Mestre Raimundo compartilha conosco o resultado do seu trabalho e de sua pesquisa, colocando à nossa disposição 240 faixas de músicas dos antigos carnavais, compostas de marchinhas e sambas. Essa foi uma das iniciativas que mais causaram sucesso nessa gazeta da bixiga lixa, com uma quantidade espantosa de acessos. Somos imensamente grato pela gentileza e ficamos torcendo pra que seu trabalho seja sempre coroado de sucesso como até agora tem sido.
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“Berto, este trecho da entrevista do Ricardo Anísio com o Vandré me deixou encucado. È que, logo após a o lançamento da "Canção da Despedida" pela Elba, o Geraldo Azevedo também gravou. Antes de começar a cantar, ele explica que fez a canção em parceria com o Vandré, antes dele se auto-exilar (pra não ser morto, pois estava sendo caçado, por sugestão de um artigo do coronel Otávio Costa...). O Geraldo Azevedo, no intróito da música, fala com tanta naturalidade da parceria, que ninguém é capaz de imaginar que ele estivesse fazendo um chaveco. Uma vez, em São Paulo, conversando com o Vandré, falei das suas músicas, da possibilidade dele regravar algumas ou até mesmo lançar um disco com músicas inéditas, pois ele tem muitas... Ele se exaltou e falou que não gravaria de jeito nenhum -, já não bastava o que andavam fazendo com suas músicas?
"Ricardo Anísio - Mas o Geraldo Azevedo também tem uma estória. Você disse que ele nunca foi seu parceiro em "Canção da Despedida". Confirma isso?
Vandré - Claro que confirmo. Eu nunca tive parceiro nessa canção, a escrevi sozinho e ela está gravada no disco que fiz na França ("Das Terras de Bemvirá) mas quando foi lançado no Brasil veio sem essa faixa, não sei porquê, se foi por censura ou algo que o valha. A verdade é que depois que a marca Vandré virou um mito monstruoso apareceram parcerias que eu nunca fiz. "
Gostaria que o Ricardo Anísio nos desse um melhor esclarecimento. Afinal de contas, quem está com a verdade?” - Natanael Guedes de Ingá do Bacamarte – Brasília - DF
R. Pronto. Com a palavra o nosso grande crítico musical e poeta Ricardo Anísio.
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“Vi essa frase com nexo sobre sexo numa camiseta em João Pessoa: SEXO É...FODA!” – Erasmo Souto Camilo – Recife-PE
R. Menino, nós que somos daquele tempo em que existiam apenas os sexos Masculino e Feminino, concordamos integralmente com essa afirmativa.
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A PALAVRA DO PASTOR, DOM BERTO I
1) O Cardeal Zelito Nunes editou um livro que botou pra vender no Box Sertanejo do Mercado da Madalena. O livro, cuja capa reproduzo abaixo, me foi dado de presente e eu me interessei imediatamente pelo seu conteúdo, haja vista que estou enquadrado na faixa etária a que se refere o título. Agora, vejam só a safadeza: lá dentro, no miolo do livro, só tem páginas em branco... Nada. Ou seja, tudo que o homem pode fazer depois dos 60. Um gozador escroto esse cardeal. O volume só serve mesmo como bloco para anotações.
2) Abaixo, dois flagrantes do Concílio da Igreja Sertaneja, realizado na casa de Tia Amara, que contou com a presença de todos os componentes do Sacro Colégio Cardinalício e foi animado por um espetáculo inesquecível de Irah Caldeira e seu conjunto de forró pé-de-serra. A propósito desse memorável encontro, leiam logo após as fotos o que escreveu o jornalista Ricardo Anísio em sua coluna no jornal O Norte, de João Pessoa. E leiam, também, o poema de Haidée Fonseca nessa edição.
RECIFE, 6 DE DEZEMBRO DE 2006 – QUARTA-FEIRA
NÚMERO 127
CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA
“Boa tarde, afinal, o que realmente significa "BESTA FUBANA". Alguém poderia me esclarecer.” – Ednei Luiz – São Paulo – SP
R. O dramático apelo do caríssimo amigo paulistano merece toda a atenção possível. Peço encarecidamente aos nossos leitores aqui da região que me ajudem a dar uma resposta satisfatória a essa consulta. Seria lamentável se nós, cidadãos da Nação Nordestina, não estivéssemos aptos a resolver um problema tão simples e que tem tudo a ver com nossa alma e nossos costumes. O que danado vem mesmo a ser Besta Fubana??? Me ajudem, por favor!!!
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"Hugo Chávez está sendo reeleito na Venezuela porque fez cair a pobreza e a desigualdade no país, colocou jovens pobres nas universidades, acabou com o analfabetismo e rompeu com o sabugismo de Estado diante dos EUA. O equívoco dos inimigos dele e dos de Lula é igual. Acham que maiorias esmagadoras apóiam os dois presidentes porque são compostas de 'ignorantes' e de desinformados. Bobagem. Brasileiros e venezuelanos votam pelo próprio bem-estar, o que para as elites latino-americanas, acostumadas a ver a ralé votar em prol delas, entende-se que seja incompreensível." - Eduardo Guimarães - São Paulo - SP
R. De fato, as nossas elites não estão com nada. Ainda bem que nosso querido presidente Lula, previdente, sábio e com visão de futuro, se afastou completamente de todas as elites do Brasil: as elites intelectuais, as elites bancárias, as elites políticas, as elites sindicais, as elites religiosas, as elites industriais, as elites estudantis, as elites financeiras, as elites prostitucionais, as elites acadêmicas, as elites jornalísticas, enfim, as elites da casa do caralho, da bixiga lixa, da gota serena e dos cachorros da mulesta e as elites retrógradas e atrasadas que governavam o Brasil desde o seu descobrimento. Estamos salvos ! ! !
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“Olá, Berto, veja a notícia que recolhi no portal Terra, no dia de hoje: Sábado, 2 de dezembro de 2006, 10h20 Atualizada às 10h53:
‘Mulher é presa por sexo com cavalo na Austrália. Uma mulher australiana foi presa e está sendo processada depois que a polícia a pegou nua, em um campo urbano, cometendo atos libidinosos com um cavalo, na cidade de Lismore, Estado de New South Wales, de acordo com o Metro. O incidente ocorreu em torno das 9h de segunda-feira. A polícia foi chamada ao campo depois que uma pessoa viu o que estava acontecendo, disse um porta-voz da polícia. A mulher foi liberada mediante o pagamento de fiança e deve se apresentar ao tribunal no dia 18 de dezembro para ser acusada de bestialidade e comportamento ofensivo. A polícia acredita que muitas pessoas assitiram ao ato. Quem estivesse perto da esquina das ruas Teriana e Wilson teria visto o incidente.’
Comparando essa notícia com a foto exibida no seu site, da moça deitada perto de um jumento, escrevi os versos abaixo:
Veja só meu caro Berto:
o mundo não é diferente,
seja em qualquer continente,
populoso ou bem deserto,
quando o sexo é desperto.
Aqui, o muar, num estalo,
vendo a moça, mostra o falo.
E a mulher, se lhe apetece,
na Austrália se oferece
nua em pêlo a um cavalo.
Um abraço” - Hardy Guedes - (Um fluminense que, pouco a pouco, vai absorvendo a cultural local!) – Recife – PE
R. Meu amigo, em sendo fluminense você tá um glosador arretado! Esse sortudo cavalo australiano foi elevado às culminâncias poéticas por um vate à altura da gulodice da moça, provavelmente uma daquelas galegas dos peitões fartos e dos pentelhos louros. Agora faça o seguinte: mande também uma glosa praquela foto aqui do nosso jegue pidão, olhando a moça deitada com a tabaca ao sol. Tenha piedade da precisão do jumento brasileiro !
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“Caro Berto, ainda bem que você atendeu aos pedidos dos milhares de leitores do JBF, entre os quais me inscrevo. E, como não sou bobo nem nada, a partir de janeiro escrevo mais, multiplico meus ganhos de R$ 8.437,20 por artigo e repasso todo o meu dinheiro para o PT, colaborando, desde já, para a campanha de Luiz Inácio da Silva à re-reeleição.” – Marcelo Alcoforado – Recife – PE
R. Meu nobre articulista, “A Propósito” eu quero revelar que a gratificação paga pelo JBF aos seus colaboradores foi reajustada. Exatamente por conta desse motivo que você citou, a re-reeleição do Presidente Lula. Por expressa recomendação do Palácio do Planalto. Isto porque os planos do nosso presidente coincidem com os planos do coronel-golpista venezuelano, ou seja, perpetuar-se no poder através da mais nova invenção da Ciência Política: a “ditadura democrática”, que consiste em eternizar um tirano no poder através do voto direto dos bestas. Desculpe. Do voto direto dos eleitores. Essa mania de digitar “besta” a todo momento, por causa do nome do jornal, me leva a cometer esse tipo de gafe. O que interessa é o seguinte: por conta de repasses da Petrobrás, a gratificação, durante o ano de 2007, será de R$ 12.387,34 por cada texto. A única coisa que não entendi é que me pediram recibos de R$ 25.897,98 de cada um na hora de prestar contas. Como não entendo bulhufas de contabilidade, fiquei boiando. Mas vou cumprir o que me pediram, claro.
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“Ontem tive que conviver com o temperamento obtuso de Godolfredo. Pense num cara intransigente... Saímos em missão oficial e havíamos programado ir a diversos lugares. Godô cismou de que não iria sair do primeiro canto que eu fui ontem e foi difícil demovê-lo da idéia. Tive que esperar até que ele refletisse bastante e assentisse... Eu acho que ele está com uma crise de cavalo preguiçoso: só quer voltar para a cocheira: na volta, após quase uma hora aguardando a mudança de temperamento de Godô, parei no Mercado da Madalena para ver se tinha uma carne-de-sol de porco que estava querendo. Nem tinha a carne que eu queria e ele se arretou com a minha parada: fincou pé e não queria mais nem voltar pra casa! Usei a técnica do desprezo: deixei-o à míngua, sentei-me num dos barzinhos do mercado e tomei duas cervejas. Eu acho que ele pensou que eu não iria mais voltar... Ficou tão nervoso... Pegou rápido e veio pra casa trabalhando que era uma beleza. Só fui chegar após as 19:00h! E, de tão P da vida, nem dei seqüência ao trabalho que estava fazendo: comi um bife de alcatra dos que havia comprado no Mercado da Madalena e fiquei lendo até a hora do sono fatal. Carro velho é lasca! Ops! Espero que Godolfredo não ouça e se dê a novas cismas... – Leonardo Leão – Recife-PE
R. Essa minha igreja é uma despensa: a gente encontra de tudo. Esse cardeal andando de carro velho não passa de uma piada, já que o alto-clero da Igreja Sertaneja, a exemplo de Dom Dedé, só se desloca pelas ruas do Recife nas mais recentes maravilhas de tecnologia automobilística.
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“É de véra. Visitem meu blog e deixem comentários. Eu agora tô totalmente internetizado. http://jorgefilo.blog.terra.com.br/ Um forte abraço do poeta - Jorge FilóRecife - PE - Brasil
R. Foi no espaço internético do Poeta Jorge Filó que encontrei essa preciosidade, essa pequena obra-prima do meu querido amigo Orlando Tejo. Vejam só:
Como um gripado que se apega ao lenço Faz dias que sentado nesse toco Todas as vozes místicas invoco Face ao enigma que me deixa tenso Que mão de gênio ou cientista imenso Colocou água dentro deste coco Quem desejou dar tanta vida ao oco Ante o mistério quedo me suspenso. Será possível que uma bola hermética Seja violada sem perder a estética Como os templos incólumes de Olinda Este mistério vem dos babilônios E os vinte e três milhões dos meus neurônios Não conseguiram decifrar ainda.
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“Não entendo a provocação gratuita de certos elementos aos nascidos no valoroso Rio Grande do Sul, estado inclusive com semelhanças de comportamento históricas com Pernambuco, na bravura, na defesa de seu folclore e seus costumes, e na "mania" de se espalhar Brasil afora. Grande artista ou não, este tal de Demócrito se me apresenta como um grande preconceituoso, em comentário gratuito, dispensável e tolo, repetindo uma piada tola ouvida há décadas e reproduzida por tolos. Se a intenção era ser engraçado, esse cara não tem a mínima idéia do que é humor.” - Paulo Rocha – Recife-PE - Gaúcho que nunca queimou a rosca nem comeu nordestino viado em Olinda.
R. Danou-se!!! Agora vai queimar é tudo. Mas, para a perfeita compreensão dos nossos leitores, vou reproduzir o que escreveu o pintor Demócrito Borges no último número do JBF:
“Quem visitar o Rio Grande do Sul por via terrestre e avistar uma fumacinha saindo da mata, não deve se preocupar. Não é nada demais. Ou é o Saci Pererê fumando o seu cachimbo ou então é um gaúcho queimando a rosca.”
Tenha paciência, meu caro gaúcho. Tenha calma. Esse Demócrito é um gozador malassombrado e eu tenho certeza que ele não tinha intenção de ofender o brioso Rio Grande do Sul que, como bem diz você, tem muita parecença conosco. Atesto e dou fé. Bah, tchê, te digo pitando a bomba e completamente pilchado: conheço bem aquele torrão lá do extremo sul e por lá fiz muitos amigos e amigas (já fui casado com uma gaúcha). Até aprendi uma piada quando almoçava numa galeteria de Caxias do Sul: o dono da casa, desconfiando que eu era estrangeiro (num sei mesmo porque razão), veio me perguntar se eu sabia qual o motivo pelo qual os catarinenses eram conhecidos por “Barriga Verde”. Diante da minha ignorância, ele completou: “É porque o gaúcho tem capim nas costas”. Como ele era gaúcho, ri educadamente mas, evidentemente, não concordei com a anedota preconceituosa, ridicularizando seus próprios conterrâneos. E, de troco, contei uma piada pra ele. Disse que no Recife tem tanto viado que os carros não usam cinto de segurança. Mas sim pino de segurança. Que na minha cidade de nascença, Palmares, quem não quisesse morar no meio de dois frangos tinha que alugar uma casa de esquina. E que estavam construindo uma estrada entre Recife e João Pessoa, a BR 24, que já havia sido batizada de Transviadônica. Contei-lhe, também, um fato verdadeiro acontecido comigo quando viajava pelo interior da Paraíba e, ao parar pra abastecer o carro, perguntei ao frentista: “Meu amigo, tem muito boiola nessa terra?”. E ele me respondeu candidamente: “Declarado mesmo só tem 3. Mas incubado nós somos pra mais de 600”. E contei mais aquela antiga do pernambucano que quis empulhar o gaúcho afirmando que “no nordeste só tem macho”, e o gaúcho respondeu “pois no Rio Grande do Sul, metade é macho e metade é fêmea e a gente vive muito bem”. E terminei contando a anedota do filho do senhor de engenho pernambucano que fez sexo pela primeira vez e o pai, todo orgulhoso, se dirigiu ao filho: “Parabéns! Quando é que você vai fuder de novo?”. E o menino lhe respondeu: “Quando a bunda parar de arder”. Não precisava nem você ter afiançado que era um “gaúcho que nunca queimou rosca”. Nós temos certeza disso. Assim como temos certeza do seu bom humor, da sua tolerância, do seu espírito de brasilidade, do companheirismo entre coestaduanos e da sua ciência em conviver com opostos. Só o fato de você agüentar morar no Recife, um verdadeiro garajau de frangos, boiolas, baitolas, adamados e frescos de todos os tipos, já diz bem de sua tolerância e paciência. Estamos certos que você jamais fará como o português do Mercado da Encruzilhada, que se suicidou por hemorragia, rasgando a bochecha com o dedo, depois de não mais tolerar ouvir piadas de português no seu boteco. Enfim, não fique aperreado. Lugar de gente queimando rosca é nessa beirada do Capibaribe. E com um detalhe significativo: tudo feliz e contente de levar bimba, nenhum deles ficando puto com o fato de ser chamado de viado. Veja só que coisa espantosa. Agora tem apenas um detalhe: se você ainda não comeu um nordestino viado em Olinda deve ter sido por falta de oportunidade. Porque o que mais tem naquelas ladeiras é frango cacarejando! E não deixe de dar notícias. Um grande abraço!
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“Santidade, Veja a alegria contagiante dessa leitora do Jornal da Besta Fubana , ao tomar conhecimento que essa gazeta da bixiga lixa vai circular mais de uma vez por semana. Fraterno abraço” – Pedro Malta – Rio de Janeiro-RJ
R. Meu nobre conterrâneo, desterrado em terras cariocas: realmente, tá todo mundo numa risadagem da porra. O único que tá chorando sou eu. É aquela velha fábula da pimenta no fiofó alheio.
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"Perón com 78; Tito com 88; Idi Amin com 79; Stroessner com 92; Salazar, Franco e Fidel já com noventa e tantos anos. E agora Pinochet sofre infarto agudo com 91. Por outro lado, João do Rio com 39; Augusto dos Anjos com 30; Isidore Ducasse com 24; Chopin com 39; Rimbaud com 37. E isso mencionando apenas alguns nomes que podem sugerir uma espécie de complô universal contra os loucos talentosos e a favor da mediocridade dos ditadores. Daí a idéia de que o diabo seria muito otimista se acreditasse que pode transformar o mundo e a vida em algo ainda mais contraditório, incompreensível e absurdo do que já são." - Ezio Flavio Bazzo - São Paulo – SP
R. E o bigodudo Stalin, num cabe nessa sua lista não???!!! Você esqueceu dos patrícios Castro Alves, Noel Rosa e Carlos Pena Filho, três talentos que partiram jovens, deixando uma obra ainda incompleta e em progressão. Esses porras desses tiranos estão enquadrados naquele dito popular que afiança que “vaso ruim demora a quebrar”. Agora só tem um detalhe: você botou Fidel no mesmo bisaco que Salazar e Franco, que já desencarnaram e estão prestando contas nas profundas. O barbudo ídolo de Lula, além de não ter 90, continua ainda correndo malassombro na infeliz ilha do Caribe.
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“Prezado Papada, felizmente consegui um emprego temporário, para este final de ano: Meu tio Aloysio arrumou para eu trabalhar como baiana cover, no quiosque de acarajé dele. É só fazer essa cara de quenga, adquirida no próprio estabelecimento (após o consumo excessivo de comidas a base côco). A clientela que quiser ser atraída por mim, é só comparecer ao "Acaraxé & Cia", no estacionamento do Shopping Outlet (bairro do IPSEP). Foi o melhor trabalho que consegui, depois de perder a vaga de atendente na banca de revistas da Tamarineira. A "Banca do Otário" funciona na calçada do Hospital dos Alienados e sobrevive basicamente da venda de revistas Veja para os internos. Mas, após a derrota de Alckimim, estava recrutando apenas candidatos tucanos. Felizmente, agora vai dar pra pagar minhas aulas de Português, na esquina da Rua da Soledade. O professor, que também é chaveiro e amolador de tesoura, cobra apenas 1 real para ensinar letras feias, com especialização em palavras erradas e extensão em frases mal pontuadas. Desculpe a falta de parágrafo no cartaz dele. Muito axé!” - Gustavo Arruda - Ex-critor e ex-pírita – Recife – PE
R. Conforme eu já afirmei no último número, não é por falta de rezas e novenas que essas coisas aparecem na minha frente. E, pra bem pagar os meus pecados, essa Banca do Otário fica do outro lado da rua onde está o posto no qual paro sempre pra abastecer o carro e pra olhar os fartos peitos da moça do caixa.
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“Quando morava no Recife, ficava a imaginar como seriam aqueles sobrados da Rua Nova e Imperatriz, hoje com lojas e depósitos nos andares superiores. Encontrei essa imagem e digitalizei, quanta surpresa!! Só tem uma coisa, pra comer tinha que subir 4 andares, acho que ficaria com fome!! O que comesse já tinha acabado quando descesse as escadas. Um grande abraço.” - Inês Carvalho – Triunfo-PE
R. Veja bem: observei atentamente essa planta do sobrado e não consegui localizar o cagador. Você está preocupada com o fato de ter que subir 4 andares pra comer. Eu estou imaginando quantos andares teria que percorrer para descomer. Ou será que naqueles tempos o povo obrava na beira do rio? Esse mistério me intriga profundamente.
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“Berto véio, amuntei na Besta Fubana, centei-lhe o par das esporas e naveguei o velho Una da Serra da Boa Vista até bater dentro do mar sagrado lá pras bandas de São José da Coroa Grande. Foi então que vi, com esses óios que a terra há de comer, o jumento Josimar, devidamente paramentado e, com foçinho mais liso do mundo, farejando a priquita de uma moça, que sem saber o perigo que corria, tomava sol na beira da praia. Aproveitando a conversa fiada, vão duas pérolas do poeta paraibano Manoel Xandú:
Tem coisa da naturezaQue eu vejo e fico surpreso,Uma nuvem carregadaSustentando aquele peso,De dentro de um bolo d`águaSaltar um corisco aceso.
E, em resposta a uma moça que se dizia muito admirada, disparou:
Me admira é o pica-pauComer miolo de angico,Tem hora que é taco-tacoTem hora que é tico-tico,Nem sente dor de cabeçaNem quebra a ponta do bico.
Um abraço – Bernardo – Maceió-AL
R. Meu amigo,o jumento Josimar tá é morrendo de inveja do jumento aqui do jornal. Que continua sendo glosado (epa) pelos poetas do Nordeste.
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CARNAVAL ANTIGO
MARCHINHA E SAMBAS
“Comunico aos nobres amigos que acabo de recompor o compartilhamento de Carnaval Antigo, expirado na semana passada. São 240 faixas, assim distribuídas: da 001 à 120, marchinhas; da 121 à 240, sambas carnavalescos. Só os 4Sharedianos podem avaliar a pedreira que foi isso. A todos, um bom proveito.” – Raimundo Floriano – Brasília-DF
http://www.4shared.com/dir/1421080/2b5edd2c/Carnaval_Antigo.html
R. Mais uma vez o Mestre Raimundo compartilha conosco o resultado do seu trabalho e de sua pesquisa, colocando à nossa disposição 240 faixas de músicas dos antigos carnavais, compostas de marchinhas e sambas. Essa foi uma das iniciativas que mais causaram sucesso nessa gazeta da bixiga lixa, com uma quantidade espantosa de acessos. Somos imensamente grato pela gentileza e ficamos torcendo pra que seu trabalho seja sempre coroado de sucesso como até agora tem sido.
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“Berto, este trecho da entrevista do Ricardo Anísio com o Vandré me deixou encucado. È que, logo após a o lançamento da "Canção da Despedida" pela Elba, o Geraldo Azevedo também gravou. Antes de começar a cantar, ele explica que fez a canção em parceria com o Vandré, antes dele se auto-exilar (pra não ser morto, pois estava sendo caçado, por sugestão de um artigo do coronel Otávio Costa...). O Geraldo Azevedo, no intróito da música, fala com tanta naturalidade da parceria, que ninguém é capaz de imaginar que ele estivesse fazendo um chaveco. Uma vez, em São Paulo, conversando com o Vandré, falei das suas músicas, da possibilidade dele regravar algumas ou até mesmo lançar um disco com músicas inéditas, pois ele tem muitas... Ele se exaltou e falou que não gravaria de jeito nenhum -, já não bastava o que andavam fazendo com suas músicas?
"Ricardo Anísio - Mas o Geraldo Azevedo também tem uma estória. Você disse que ele nunca foi seu parceiro em "Canção da Despedida". Confirma isso?
Vandré - Claro que confirmo. Eu nunca tive parceiro nessa canção, a escrevi sozinho e ela está gravada no disco que fiz na França ("Das Terras de Bemvirá) mas quando foi lançado no Brasil veio sem essa faixa, não sei porquê, se foi por censura ou algo que o valha. A verdade é que depois que a marca Vandré virou um mito monstruoso apareceram parcerias que eu nunca fiz. "
Gostaria que o Ricardo Anísio nos desse um melhor esclarecimento. Afinal de contas, quem está com a verdade?” - Natanael Guedes de Ingá do Bacamarte – Brasília - DF
R. Pronto. Com a palavra o nosso grande crítico musical e poeta Ricardo Anísio.
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“Vi essa frase com nexo sobre sexo numa camiseta em João Pessoa: SEXO É...FODA!” – Erasmo Souto Camilo – Recife-PE
R. Menino, nós que somos daquele tempo em que existiam apenas os sexos Masculino e Feminino, concordamos integralmente com essa afirmativa.
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A PALAVRA DO PASTOR, DOM BERTO I
1) O Cardeal Zelito Nunes editou um livro que botou pra vender no Box Sertanejo do Mercado da Madalena. O livro, cuja capa reproduzo abaixo, me foi dado de presente e eu me interessei imediatamente pelo seu conteúdo, haja vista que estou enquadrado na faixa etária a que se refere o título. Agora, vejam só a safadeza: lá dentro, no miolo do livro, só tem páginas em branco... Nada. Ou seja, tudo que o homem pode fazer depois dos 60. Um gozador escroto esse cardeal. O volume só serve mesmo como bloco para anotações.
2) Abaixo, dois flagrantes do Concílio da Igreja Sertaneja, realizado na casa de Tia Amara, que contou com a presença de todos os componentes do Sacro Colégio Cardinalício e foi animado por um espetáculo inesquecível de Irah Caldeira e seu conjunto de forró pé-de-serra. A propósito desse memorável encontro, leiam logo após as fotos o que escreveu o jornalista Ricardo Anísio em sua coluna no jornal O Norte, de João Pessoa. E leiam, também, o poema de Haidée Fonseca nessa edição.
Tia Amara sob a proteção do Papa Berto I
A divina Irah Caldeira, dando vida e alegria ao almoço dos cardeais.
Amizades sinceras
Ricardo Anísio
Poderia ser apenas mais uma confraternização de fim-de-ano mas na verdade foi uma declaração coletiva de amor e de respeito entre seres humanos e artistas. Tendo como mestre de cerimônia o escritor Luiz Berto, autor do seminal livro O Romance da Besta Fubana (Ed. Bagaço) nos reunimos para conversar e ouvir a divina Irah Caldeira cantar as geniais canções de Maciel Melo. Foi um domingo que marcou a minha vida.
Não era mais uma festa etílica – embora os camaradas sorvessem lá seus néctares – porque o mel daquele dia era o afeto, a amizade sincera, como a de Zelito Nunes e João Veiga, uma exemplar relação de amor entre os homens da Veneza Brasileira. Meca Moreno perseguindo as origens árabes da cultura, Alberto Oliveira me fazendo chorar com seu poema ode ao encontro, Haidée Camelo – amiga amada – cantando Gracias A La Vida e lembrando a poesia densa de Violeta Parra. Graças a Vida! Graças às Amizades!
É por essas e outras que Recife me cativa. Pelo carinho pleno de Paulo Carvalho e de Naara Santos, pelos mimos de Xico Bizerra e pela poesia de João Cabral de Melo Neto que parecem correr entre as pontes da cidade, e os sons do violão de Canhoto da Paraíba embalados pelos ventos recifenses. Luiz Berto e Paulo Carvalho me fizeram sentir um poeta entre poetas, e assim continuo a ver as amizades sinceras como o bálsamo destes dias negros de violência e caos. Gracias A La Vida!
Em tempo: foi Recife que acolheu minha poesia - escapando das igrejinhas existentes nesta amada e amarga Filipéia - e meu livro Canção do Fogo – com ilustrações de Clóvis Júnior – já está em fase de confecção na Editora Bagaço, apadrinhado pelo escritor Luiz Berto, de quem todos precisam ler os livros, sobre tudo O Romance da Besta Fubana e Memorial do Novo Mundo.
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A PALAVRA DO EDITOR
1) Na edição de hoje o Jornal da Besta Fubana termina a publicação do texto Viagens com o Presidente, dos jornalistas Eduardo Scolese e Leonencio Nossa, o livro mais vendido dos últimos meses e que já se encontra na quarta edição, mesmo com tão pouco tempo de lançado. Essa gazeta da bixiga lixa, sempre ligada em tudo que acontece ao nosso redor, prestou um relevante serviço aos seus leitores ao transcrever o livro em capítulos ao longo de várias edições, oferecendo um retrato humano e fiel dos bastidores das atividades do Presidente Lula. Juntamente com o livro sobre as andanças do presidente, também publicamos hoje o último capítulo do livro Contra Toda a Esperança, do escritor cubano Armando Valladares, sobre como são tratados os dissidentes políticos na ilha da felicidade e como são as delícias dos cárceres de Fidel.
2) Recebi do leitor Alexandre Gomes um roteiro que achei por bem reproduzir aqui. Trata-se de um verdadeiro “manual de etiquetas” sobre o uso do correio eletrônico. Bem sabemos a dor de cabeça que é receber aquelas mensagens filhas da puta, com anexos e mais anexos, mensagens que vão se desdobrando, quadro a quadro, com vacas voando, passarinhos mugindo, crianças cagando e palavras piegas, além de recomendações inúteis. Algumas mensagens, por puro sadismo ou falta de simancol dos remetentes, ainda chegam acompanhadas de recomendações do tipo “essa é ótima”, “não deixe de repassar”, etc. etc. Putz.... É de doer nos ovos. Tem umas que chegam com um lixo da porra antes de você alcançar o corpo da mensagem propriamente dita. Você fica horas e horas rolando a tela até chegar no texto que, normalmente, é uma tolice. E eu fico rolando a tela e pensando qual a razão pela qual o filho de uma égua que me mandou aquilo não limpou todo aquele basculho antes de clicar no “enviar”. E pra quem é premiado com a quantidade de mensagens que chega no meu computador, por conta da editoração do JBF, receber e ler esse tipo de correspondência é um suplício. Eu falei lá no começo que essas regras que me mandaram são um verdadeiro “manual de etiquetas”, isso porque a primeira coisa que me vem à cabeça quando recebo uma mensagem cheia de sujeira é que o remetente é mal educado. Assim como um sujeito que arrota na frente dos outros ou enfia o dedo no nariz em público. Francamente, se todo mundo seguisse essas regras que vão abaixo transcritas o mundo da internet seria bem melhor ainda do que o que já é. Leiam e concordem comigo:
TREZE DICAS PRA VC USAR BEM SEUS E-MAILS
Regras importantes:
1. Ao encaminhar suas mensagens, encaminhe a mensagem que REALMENTE contém o anexo ou o texto desejado, e não aquela que está em sua "Caixa de Entrada". Fazendo isso, o seu destinatário NÃO terá que abrir 10 anexos antes de chegar ao que realmente interessa. Além disso, aquele montão de endereços eletrônicos pelos quais a mensagem já passou também não aparecerá, para que depois seja "ROUBADO" pelos senhores spammers, que são os chatos que te mandam os e-mails que você não solicitou e não sabe, sequer, de onde vieram. Caso o texto de sua mensagem contenha endereços eletrônicos, apague-os, antes de "re-encaminhar".
2. Quando for mandar uma mensagem para mais de uma pessoa, NÃO ENVIE com o "Para" nem com o "Cc", ENVIE com o "Cco" (Com cópia oculta), que NÃO mostra o endereço eletrônico de nenhum destinatário. A pessoa vai simplesmente recebê-la, mas não saberá quem são os demais destinatários.
3. Retire do título (Assunto) de sua mensagem os "En", "Enc", "Fwd", "Re", Res ", e deixe somente o assunto, porque além de deselegante, essa é uma das formas dos spammers saberem que a mensagem tem muitos endereços ali dando sopa e podem também reparar, que estas mensagens contém, pelo menos, muitos endereços de e-mails diferentes. Quando todos fizermos isso, livraremos a Internet da maioria dos vírus e propagandas indesejadas.
4. NUNCA abra anexos com a extensão exe. Delete-os mesmo que a piada possa ser muito boa (lembre-se que "A curiosidade matou o gato"). Só abra esse arquivo se a pessoa que o mandou for de sua inteira confiança e mesmo assim confirme se essa pessoa realmente te mandou este arquivo.
5. Você NUNCA, mas NUNCA mesmo, deve reenviar qualquer e-mail alertando sobre vírus, antes de primeiro confirmar se um site confiável, de uma companhia real, o tenha identificado. Tente em: < http://www.symantec.com ou < http://www.antivirus.com e mesmo assim, pense duas vezes antes de passar adiante. Lembre-se, alguns vírus podem infectar a máquina só depois de serem lidos no Outlook. É mais um terrível terrorismo on-line.
6. Se você estiver realmente pensando em passar adiante aquela mensagem que já está no décimo degrau da pirâmide (ou na décima geração), tenha pelo menos a delicadeza de cortar aqueles 8 quilômetros de cabeçalhos, de todo mundo que a recebeu nos últimos 6 meses. E você também NÃO vai ficar doente se retirar todos os que começam as linhas.
7. Existem mulheres que estão realmente sofrendo no Afeganistão, e as finanças de diversas empresas filantrópicas estão vulneráveis, mas reenviar um e-mail NÃO ajudará esta causa. Se você quiser ajudar, procure seu deputado, a Anistia Internacional ou a Cruz Vermelha. E-mails de "abaixo-assinados'' geralmente são falsos, e nada significam para quem detém o poder de fazer alguma coisa sobre o que está sendo denunciado. São apenas meios dos hackers de obterem endereços eletrônicos.
8. Você NÃO vai morrer nem ter má sorte no amor ou algo semelhante, se arrebentar " uma corrente". Isso não é questão religiosa.
9. Escrever um e-mail ou enviar qualquer coisa pela Internet é tão fácil quanto rabiscar os muros de uma área pública. NÃO acredite automaticamente em tudo. Observe o texto, reflita e analise tudo isto antes de repassar aos seus amigos.
10. Quando receber mensagens pedindo ajuda para alguém, com alguma foto comovente, não repasse apenas "para fazer a sua parte". Pode haver alguém cheio de más intenções por traz desse e-mail. Analise-o. Se houver dados do enfermo/aleijado, consulte pelo telefone; verifique a veracidade das informações. Se o telefone for um celular, mesmo depois de confirmar dados, não creia. Próximo da sua casa, há sempre alguém carente que você poderá ajudar efetivamente, se esta for sua opção de vida, tão digna, porém, explorada por mal-intencionados.
11. Cuidado! Muito cuidado ao repassar mensagens-lista de dados de pessoas, que cada uma vai assinando, colocando seu endereço e telefone real. Podem facilmente ser utilizados por assaltantes, seqüestradores, meliantes, maus elementos, etc. etc.
12. Mas agora SIM, RE-ENVIE esta mensagem a seus amigos e conhecidos, e ajude-os a colocar ORDEM nessa imensa casa chamada Internet. E lembre-se, cada dia chegam milhares de inexperientes na Internet, e quanto mais pudermos difundir estes ensinamentos será de grande valia a todos. Sempre repasse, ao número máximo de pessoas possível, este tipo de informação. Afinal, estes detalhes não se aprendem em escola, mas aqui, através da boa vontade de uns para com os outros e ensinando-os a exercer este direito.
13. E nunca se melindre por alguém estar lhe corrigindo algum destes erros aqui mencionados. Você pode ser apenas mais uma vitima "cheia de boas intenções" e nem seria preciso repetir aquele provérbio: "De boas intenções o inferno está cheio”.
3) No último domingo fui ao Teatro de Santa Isabel pra me encantar com a fantástica demonstração de pernambucanidade representada pelo espetáculo “Capiba – Madeira Que Cupim Não Rói”, em homenagem ao saudoso compositor pernambucano Lourenço da Fonseca Barbosa, o querido Capiba, que brilhou em todos os gêneros musicais, desde a música clássica até o chorinho, passando pelas valsas e sambas-canções, mas que ficou imortalizado pelos frevos e pela paixão ao Recife e ao Carnaval. O espetáculo, dirigido pelo meu amigo Carlos Carvalho, foi conduzido pelo fabuloso Aldemar Paiva, o criador do slogan Pernambuco Você é Meu, e contou com as vozes de Expedito Baracho e Claudianor Germano, além da participação de bailarinos do Balé Popular do Recife e do Balé da Cultura Negra do Recife. Uma noite inesquecível com músicas, histórias e causos do imortal criador de “Maria Betânia” e “Serenata Suburbana”, um homem feito de madeira que cupim não rói.
Papa Berto I abençoando o espaço sagrado onde brilharam Castro Alves e Tobias Barreto
“Madeira Que Cupim Não Rói” – Um espetáculo da bixiga lixa
4) Em qualquer recanto desse pais os motoristas trafegam pela pista da direita e usam a da esquerda apenas para ultrapassagens. Menos aqui em Pernambuco, especialmente no Recife, onde o Código de Trânsito foi invertido e as pessoas transitam com a cara mais lisa desse mundo sempre pela pista da esquerda. Essa foto ai embaixo foi feita a partir do interior do meu carro, quando chegava ao Recife, pela BR-101 Sul, num trecho onde a via é dupla, com duas pistas de um lado e duas pistas do outro. Vejam que está todo mundo trafegando pela esquerda. O único errado sou eu, que estava na pista da direita. Que aqui é usada pra ultrapassagens. E essa marmota se repete também no trânsito dentro da cidade. Alguém poderia me esclarecer a origem desse fenômeno? O uso freqüente, ininterrupto e abusivo da buzina eu já desisti de entender.
5) Existe aqui no Recife um interessante jornal chamado Ribalta, que é editado mensalmente pela diretoria do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado de Pernambuco – SATEC. Trata-se de uma entidade que congrega pessoas engajadas, atuantes, antenadas, modernas e... vocês sabem mais o quê. Leio no número 71, novembro/2006, a nota que abaixo transcrevo:
E fiquei pensando comigo mesmo: que danado de sacanagem está tramando essa porra dessa TV Globo? Como todos nós sabemos, por trás de tudo que a Globo faz está sempre uma intenção escusa, uma patifaria embutida, um interesse inconfessável e uma safadeza contra os interesses do Brasil. Cuidado artistas e pessoas ligadas ao teatro de Pernambuco. Se vocês precisarem de algum esclarecimento, posso indicar pelo menos uns 6 leitores do JBF que são especialistas em desmascarar as safadezes da Globo, tanto da TV quanto do jornal. Nada que vem desse povo presta. Olho vivo.
* * *
DO LIVRO “VIAGENS COM O PRESIDENTE”
(Dos jornalistas Eduardo Scolese e Leonencio Nossa)
A COMPANHEIRADA
Em junho de 2002, a “Carta ao povo brasileiro” foi divulgada pelo PT dias depois de um encontro entre Lula e Fernando Henrique em Brasília, ainda na época da campanha eleitoral.
- Fernando, o que você acha que vai acontecer?
- Você vai ganhar, Lula. Você vai ser meu sucessor.
Em seguida, Lula pediu que o então presidente convencesse os amigos Bill Clinton, Tony Blair e a turma do FMI sobre as intenções petistas de diálogo.
- Faço a minha parte, convenço meus amigos, Lula. Mas você tem de fazer a sua, segurar seus radicais – respondeu o presidente.
Lula voltou a São Paulo disposto a redigir a carta aos amigos de Fernando Henrique. Em outras palavras, colocou no papel justamente aquilo que os banqueiros queriam ouvir. O PT, com direito a um rígido superávit fiscal, manteria a política econômica tucana de Pedro Malan.
O novo presidente cumpriria os termos da carta. Ele aposentaria o personagem barbudo e gorducho que fazia tremer os banqueiros e os latifundiários do país. No governo, porém, houve um momento em que aquele velho petista deu sinais de vida. Por pouco menos de duas horas, é verdade, saiu do coma e falou como se ainda acreditasse em colocar em prática seus antigos discursos.
O fato se dá em Tóquio, no Japão, no final de maio de 2005. Certo dia, pela manhã, o presidente é informado por assessores que, do outro lado do mundo, o Planalto e os partidos da base aliada haviam sido derrotados na tentativa de barrar a criação da CPI Mista dos Correios, que nos meses seguintes promoveria uma devassa no PT e em setores do governo federal.
À noite, após uma maratona de eventos oficiais, Lula segue para um jantar na residência do embaixador brasileiro no Japão. Entre os convidados, há ministros, assessores, diplomatas, deputados e senadores. Cerca de vinte pessoas. Todos brasileiros. Ele chega com uma aparência péssima. Está visivelmente atordoado por conta do clima de tensão política em Brasília. Se tivesse cancelado a viagem à Ásia, avalia que poderia ter atuado diretamente para impedir a criação da CPI.
Para aliviar esse estresse, nada melhor do que uma dose caprichada de uísque com gelo. Antes mesmo do início do jantar, Lula manda servir o segundo, o terceiro e o quarto copos. Visivelmente alterado, o presidente sai por um momento do coma profundo que o ajudou a eleger-se. O “Lulinha paz e amor” dos marqueteiros não está mais ali. Agora, é o petista das antigas.
Com o quarto copo de uísque pela metade, pede a palavra aos presentes e coloca a política externa de seu governo em discussão. Sua primeira reserva de munição é usada contra os vizinhos sul-americanos do Mercosul, a começar pela Argentina.
- Tem hora, meus caros, que eu tenho vontade de mandar o Kirchner para a puta que pariu. É verdade. Eu tenho mesmo – afirma, aos gritos, para desconforto absoluto dos demais à mesa.
Lula está incontrolável e prossegue sua investida a Nestor Kirchner e à Argentina, que havia se posicionado contra a proposta brasileira de ampliação das cadeiras permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
- A verdade é que nós temos de ter saco para aturar a Argentina. Temos de ter muito saco.
O clima se torna de aflição até para assessores do Planalto acostumados com o palavreado do presidente. Os diplomatas não conseguem acreditar naquilo que presenciam. Sem papas na língua, o petista prossegue com um ataque ao uruguaio Jorge Batlle:
- Aquele lá não é uruguaio porra nenhuma. Aquele lá foi criado nos Estados Unidos. É filhote dos americanos.
Definitivamente não há como controlar o presidente. Ele parece disposto a falar tudo aquilo que está entalado em sua garganta desde a conservadora “Carta ao povo brasileiro”. Tudo aquilo parece ser um grande desabafo de um presidente que, ao ser eleito, fez sua primeira viagem internacional à Argentina e se desdobrou em deslocamentos no intuito de aproximar os vizinhos do continente. Uma política de governo que sofreu fortes críticas de setores internos que privilegiavam a atenção nos Estados Unidos e à União Européia e que nunca acreditaram nas relações com interlocutores em situação econômica igual ou pior que a do Brasil.
O auge dessas críticas ocorre em 2006, quando o presidente da Bolívia, Evo Morales, nacionaliza as reservas de gás e ameaça expropriar bens da Petrobrás. Enquanto a imprensa brasileira e a oposição ao Planalto exigem medidas duras e retaliações contra o miserável país vizinho, Lula prega o diálogo e mantém o respeito à Constituição. O parágrafo único do artigo 4º determina: “A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.”
Na seqüência do jantar, Lula coloca o Chile em debate. Lamenta que o país sul-americano tenha optado por privilegiar seu comércio com os Estados Unidos, e não com os colegas do Mercosul:
- O Chile é uma merda. O Chile é uma piada. Eles fazem os acordos lá deles com os americanos. Querem mais é que a gente se foda por aqui. Eles estão cagando para nós.
Ele ainda está sob o efeito do uísque que o mantém fora do estado de consciência. Depois de concluir o tema internacional, parte então para assuntos caseiros. Evita atacar o Congresso e a oposição, pois entre os convidados há deputados e senadores de diferentes partidos. Sobre Fernando Henrique, limita-se a dizer que a política externa dos tucanos ficou aquém do potencial brasileiro. Sobra então para os fazendeiros.
- Tem que acabar com essa porra de fazendeiros que todo ano vem pedir dinheiro ao governo. Esses caras têm que entender que eles sugaram a nação por décadas e mais décadas. Agora é a hora de a gente botar o MST na terra, criar os assentamentos que temos que criar. Eu estou convencido disso. Não tem jeito.
Duas semanas antes, o MST havia concluído uma caminhada com 15 mil pessoas entre Goiânia e Brasília. Desfilaram por horas pela Esplanada dos Ministérios e depois, por meio de uma comissão, foram recebidos pelo presidente no Palácio do Planalto. No jantar, prossegue suas críticas aos produtores rurais.
- E essa bancada ruralista? Tem que banir essa gente. Toda hora é historinha de refinanciamento de dívida pra cá, refinanciamento de dívida pra lá. Esse pessoal que pede renegociação todo ano tem de ser banido. Tem que acabar com isso – conclui o presidente, que, ao longo de sua gestão, sempre buscou confrontar suas ações com os oito anos de tucano e evitar uma autocomparação com o Lula de tempo atrás.
Os vinte convidados ao jantar assistem atônitos à fala de Lula, enquanto militantes de esquerda, sindicalistas, estudantes, sem-terra, integrantes de movimentos sociais e simples eleitores lulistas, se estivessem ali na embaixada, serviriam mais uísque ao presidente para que tal discurso fosse colocado em prática. Provavelmente, ficariam com a sensação de que Lula deveria ter bebido mais, muito mais em seu governo.
À mesa de jantar está um homem que enfrenta o dilema de representar os dois lados do Brasil. Lula dá mostras de que deve atender a um lado em troca da governabilidade, ao mesmo tempo, tenta deixar claro ainda pertencer ao lado dos que exigem igualdade de oportunidade.
No calor da divergência, o feito de tirar três milhões de brasileiros da miséria*, um recorde desde que o assunto começou a ser pesquisado com rigor, é minimizado ou exaltado de acordo com os interesses políticos.
Na embaixada do Brasil no Japão, o ritmo da bebedeira e o efeito alcoólico de Lula diminuem ao longo da conversa e do jantar. Com isso, na hora da sobremesa e do cafezinho, o presidente retorna ao seu estado de coma profundo, ao menos em relação à imagem vendida nos anos de 1980 e 1990. É de novo o “Lulinha paz e amor” da “Carta ao povo brasileiro”.
*A pesquisa “Miséria em queda”, da Fundação Getúlio Vargas, mostra que em 2004 a taxa de brasileiros na faixa de extrema pobreza caiu 8 por cento em comparação com o ano anterior. Foi o mais baixo patamar desde 1992, quando foi lançada a nova Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, que considera miserável a pessoa que não pode ingerir 2.288 calorias por dia, nível recomendado pela Organização Mundial de Saúde
FIM
* * *
UM POEMA DE RICARDO ANÍSIO
ricardoanisio@jornalonorte.com.br
Divino
(Para Roberta Maria)
Tu, o que das trevas saltaste para ser tocha
E que dentro de mim acampaste feito facho
O que de tão farto se imanta e desfalece
Porém que de tão humilde se agasalha
O que descerraste cárceres de tão puro
E que do pó metálico fizeste a lira
Que inebriado de ruído criaste o pássaro
Mesmo assim a peso d’ouro a mim voaste
Tu, o que tremulas nos lençóis de nuvens
E que nas asas do condor levaste a rama
O que dás às urbes o odor de pólvora
Mas ofertaste ao campônio a aurora eterna
O que ameigas mares de tão terno
E que do aço da espada obraste o gel
Que cortinado de estrelas viste o caos
Porém da chaga funda lambeste o salobro
Tu, o que não contrais tempestades
E que de tão forte castiças as orquídeas
O que revelas tudo sem descerrar almas
E que de tão celestial regeste Terra e Céu
O que me deste a febre do martírio
O que empírico te abraçaste com a falta
O que sobraste quando a fome era tanta
O que faltaste quando a dor era farta
Altíssimo tu que beijaste os grãos de areia
Cujo estandarte usaste como sudário
Tu, o que me deste o labor dos beijos
Tu que me negaste o suplício da cruz
O que voaste como condor sobre a lua
Tu que embriagaste de sol todos os breus
Tu que da tertúlia castigaste os sem lume
Tu que cativaste, tu que foste o enigma
Tu que cantaste os épicos versos brancos
Que dos fardos de algodão tiraste leite
Tu que deste mel aos que amargavam
Tu que da palma da mão criaste os silos
* * *
EPÍSTOLAS DO CARDEAL
DOM CARLITO LIMA DIRETAMENTE DE MACEIÓ
A MENINA DA JANELA
Josemar morou a vida toda no bairro do Tabuleiro do Pinto, perto do aeroporto, aonde nasceu. Quando os filhos cresceram pressionaram o pai a se mudar para orla.
Devido aos tempos modernos, aos apelos dos filhos, à comodidade da família, finalmente Josemar comprou um apartamento na Ponta Verde, perto da praia. Para família foi uma alegria, para ele um sacrifício. Trocou uma casa confortável de 400 m² , enorme jardim de muitas rosas, orquídeas penduradas em frondosa mangueira, por um apartamento de três quartos, 110 m² . Mas a família acima de tudo. O casal ficou com uma suíte, a outra os dois filhos ocuparam e um quarto foi transformado em gabinete. Colocou um computador para se distrair, escrever. Agora, aposentado do Banco do Brasil, onde trabalhou mais de 30 anos, é hora de desfrutar a merecida boa vida. A idéia é passar um ano de pernas pro ar, depois pensar em alguma ocupação.
Pela manhã caminha na orla, encontra amigos, fica a bater papo até às 9:00, hora de tomar um bom café e ler jornais. Retorna à praia às 11:00, se reúne com companheiros para falar do mundo e ficar olhando as saias de quem vive pelas praias coloridas pelo sol. Preenche as tardes no shopping, cinemas, livraria; gosta de ler. Só depois do Jornal Nacional, Josemar se recolhe ao escritório, liga o ar condicionado, entra no computador para pesquisar, ler jornais, enviar e-mails para amigos e escrever. Já plantou várias árvores, tem dois filhos, agora cismou em escrever um livro narrando passagens de sua vida. De sua cadeira em frente à bancada do computador, tem uma ampla visão sobre as janelas dos apartamentos do prédio vizinho. Às vezes ele desliga a luz, para apreciar melhor o panorama. Aprendeu quando serviu ao Exército: observar é ver sem ser visto.
No apartamento em frente uma menina que mora com o pai, chega da Faculdade por volta das 23 horas, ele fica mais ligado, enquanto sua querida Helena, a esposa, dorme no terceiro sono. A moça é um encanto: estatura baixa, cabelos louros escorridos até o ombro, nariz um pouco achatado, lábios finos. Seu corpo é um monumento, seios duros, pontiagudos, cintura fina. A bunda é delirantemente bem torneada e protuberante. Ela não percebeu que o espelho da porta do guarda-roupa reflete todos os movimentos no quarto.
Assim que chega, tira a roupa, se enrola numa toalha e vai para o banho noturno antes de dormir. A cena mais emocionante é ao chegar molhadinha do banho, abre a toalha, nuínha como Deus a fez, veste uma minúscula calcinha, moldando e mostrando a deslumbrante bunda. Coloca um babydoll bem curto antes de deitar. Josemar fica num excitamento de menino. Muitas vezes depois dessa cena muda, ele vai ao quarto, acorda sua amada Helena. O sacana transa pensando na menina da janela.
Ele investigou: o pai é veterinário, trabalha para um fazendeiro perto de Palmeira dos Índios. Só vem para a capital nos fins de semana.
Certo dia, ao cair da tarde, Josemar pegou o carro para ir às compras. Ao longe, no ponto de ônibus, reconheceu a menina em pé, com os livros abraçados ao peito, esperando a condução. Ao cruzar os olhos, ela sorriu, Josemar freou o carro no reflexo. Perguntou sinalizando com o indicador se ela ia à cidade. A moça não se fez de rogada, entrou no carro. Como uma princesa sentou-se ao lado, a mini saia mostrava suas pernas maravilhosas. Deu boa noite, disse que ia para a Faculdade do CESMAC no Farol. Josemar mentiu: também ia para o Farol. Foram conversando amenidades, mas o coração do jovem coroa estava disparado feito um menino. Afinal chegaram no CESMAC.
Naquela noite Josemar ficou esperando ansioso a chegada de sua musa da janela. Compensou a espera, a menina ao chegar, tirou a roupa bem devagar, coisa que nem uma strip profissional faz com tanta sensualidade. Mais tarde sobrou para Helena.
No outro dia, à mesma hora, Josemar passou com o carro e frustrou-se. Dois dias depois, se emocionou quando a viu no ponto de ônibus. Freou o carro, ela entrou mais bonita que nunca. Vilma, assim se chama, 19 anos, faz Direito no CESMAC, é mulher prática, pragmática, perdeu a mãe cedo, vive com o pai, um sacrificado, explorado pelo patrão, levam uma vida de parcimônia. Em certo momento ela foi direta, sorrindo para Josemar:
- Eu acho que você está me paquerando. Diga aí. Não é? Pensa que não percebo você toda noite na janela me olhando. Faço aquela cena de propósito. Tenho esse defeito, adoro que os homens me olhem.
Josemar estremeceu de alegria. Virou o rosto, encarou-a com largo sorriso.
- Mas menina, você é danadinha hein?
- Danadinha ou danadona sei quem é você, casado e aposentado. Sou muito direta. Vou lhe fazer uma proposta indecente: transo com você, e você paga minha faculdade. Que tal? Pense. Estamos chegando, me pegue aqui mais tarde. Às 10 horas, depois de minha última aula. Estou lhe esperando nessa esquina.
Josemar, emocionado, parou o carro. Ela desceu, acenou com os dedos sem olhar para trás.
O difícil foi arranjar uma desculpa para sair de casa às 10 daquela noite. Antes da nove horas ele arriscou:
- Helena, está passando um filmaço no cinema de arte. Topa?
Ficou esperando a resposta. Quando ela disse estar sem vontade, ele quase dava uma gargalhada de felicidade. Perguntou se incomodava de ele ir sozinho.
Quando deu 10 da noite Vilma se aproximou do local, ele já estava plantado. No VIPS motel quase teve um infarto quando saiu do banheiro ao deparar com a menina nua, deitada na cama, chamando-o para o amor.
O aposentado Josemar aumentou sua despesa no orçamento. Mas, feliz da vida, espera as tardes das quartas-feiras para ter sua musa nos braços. E toda a noite não se cansa em vê-la, fica observando, ao longe, a menina da janela.
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UM POEMA DE CRUZ E SOUSA
Caminho da Glória
Este caminho é cor-de-rosa e é de ouro, Estranhos roseirais nele florescem, Folhas augustas, nobres reverdecem De acanto, mirto e sempiterno louro.
Neste caminho encontra-se o tesouro Pelo qual tantas almas estremecem; É por aqui que tantas almas descem Ao divino e fremente sorvedouro.
É por aqui que passam meditando, Que cruzam, descem, trêmulos, sonhando, Neste celeste, límpido caminho.
Os seres virginais que vêm da Terra Ensangüentados da tremenda guerra, Embebedados do sinistro vinho...
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A COLUNA DE GOIANO BRAGA HORTA
PROTESTO CONTRA OS AUMENTOS
Há alguns anos atrás, o brasileiro era freqüentemente atormentado por aumentos os mais diversos. Dos que mais ocorriam era o aumento do pão, que acontecia uma, duas e até três vezes ao mês. A situação tornou-se tão absurda que em um ano ocorreram mais de quinze aumentos do pão, o que acabou tornando quase inviável levar pão para casa.
Esse assunto vem à tona agora, porque recentemente vi a notícia de que estava para ocorrer um aumento do pão.
É de se esperar que a tendência antiga não volte a acontecer.
Um ou outro aumento do pão é suportável, mas aumentos constantes tornam o próprio transporte incômodo.
Felizmente, o aumento anunciado ainda não aconteceu.
Pelo menos foi a informação que recebi do atendente da padaria que freqüento. Quando perguntei a ele se era verdade que o pão tinha aumentado, sua resposta foi categórica: - Não! O pão continua do mesmo tamanho!
Ainda bem. Vejam só, um pãozinho, desses conhecidos como pão francês, chega hoje a medir vinte centímetros. Se houver aumentos freqüentes do pão, dependendo da porcentagem de aumento, um pão francês pode chegar a medir, em pouco tempo, mais de um metro!
E se a moda pega e começam a aumentar outros produtos, como o macarrão, por exemplo? Se resolvem aumentar o sonho, aquele de padaria, que já é grande? Viraria um pesadelo.
Esperamos que o Jornal da Besta Fubana, que é um órgão de grande penetração nos leitores, entre de sola contra os aumentos do pão e de outros produtos, para evitar coisas grotescas, como estarmos carregando pães enormes ou arrastando imensos pacotes de macarrão pelas ruas, lembrando que nem Jesus aumentou os pães, apenas os multiplicou, mantendo-os no tamanho original, justamente para evitar tais ridículos.
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DEU NA INTERNET
“A seleção de Bernardinho é bicampeã mundial, entre outras qualidades, porque não teve nenhum jogador amarrando o tênis em momento decisivo. Nem jogador acima do peso, escalado pela fama. Ou pelo patrocinador.”
(Nem atleta raparigando com quengas modelos)
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PROGRAMA LEITURAS – MAURÍCIO MELO JÚNIOR – TV SENADO
LITERATURA E INTERNET NO LEITURAS COM LIMA TRINDADE
O escritor Lima Trindade é um militante da literatura em tempo integral. Enquanto trabalha sua prosa de ficção, faz um mestrado sobre os escritores João Silvério Trevisan, Reinaldo Arenas e David Leavitt e edita a revista eletrônica Verbo 21, dedicada à criação e à reflexão literárias. Toda esta lida serviu de mote para a conversa com o jornalista Maurício Melo Júnior no programa Leituras, da TV Senado.
Recentemente o escritor fez o duplo lançamento da novela Supermercado da Solidão (LGE) e do livro de contos Todo o Sol Mais o Espírito Santo (Ateliê). Nos livros demonstra uma prosa amadurecida pelo sol das novas vertentes literárias. Em outras palavras, uma prosa urgente e rápida, mas profundamente marcada pelas angústias atuais.
Como editor Lima trabalha de maneira mais aberta e democrática ao elaborar a Verbo 21. A revista abriga todos os gêneros e vertentes. Sua preocupação maior é com a qualidade dos textos. Tenta, assim, valorizar a literatura, para ele ainda um instrumento de transformação humana.
Dica de Leituras No programa serão comentados os livros Ninguém é Inocente em São Paulo, Ferréz (Objetiva) e O Grito dos Mudos, Henrique Schneider (Bertrand Brasil).
Horários Sábados (09:30 e 20:00) e domingos (08:00 e 20:30), além de horários alternativos.
Próximos programas
Data Entrevistado Dica de leituras. 16/12 Ruy Fabiano O Desastronauta, Flávio Moreira da Costa e Melhores Contos, Edla van Steen. 23/12 Charles Kiefer Por Que Sou Gorda, Mamãe?, Cíntia Moscovich e A Altura e a Largura do Nada, Ignácio de Loyola Brandão. 30/12 Luiz de Miranda A Cegueira e o Saber, Affonso Romano de Sant’Anna e O Nariz do Morto, Antonio Carlos Vilaça. 06/01 Reynaldo Jardim
Correspondências: Maurício Melo Júnior SQSW 504 Bloco B Ap. 107 Brasília DF CEP: 70.673-504 E-mail: mmelo@senado.gov.br.
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DEU NA INTERNET
“O presidente Lula contou lorota, ontem: no dia 1º quer “uma posse sóbria, mas com participação popular”. Com povo, tudo bem, mas, “sóbria”?...
(Realmente, uma posse sóbria contraria tudo que a Igreja Sertaneja prega. E que o presidente gosta)
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O AMIGO DA ONÇA
(O Cruzeiro – 15/10/1960)
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HISTÓRIAS DO BERADEIRO ZELITO
PEDRO CELESTINO BATISTA
(PEDRO BIQUARA)
Boêmio, poeta humorista e amigo terminal, é o mínimo que se pode dizer desse matuto nascido em Boi velho, e que tal qual o personagem Buendía do romance "Cem Anos de Solidão" de Gabriel Garcia Marques, fez na vida de tudo um pouco e nada de material lhe restou.
Morreu pobre e cercado pelos muitos amigos que fez ao longo de uma existência onde foi agricultor, comerciante (representante comercial- representava o foto Odeon, que fazia ampliações fotográficas ) tendo sido a atividade mais duradoura a de cambista.
Pedro era amigo dos cantadores, promovia cantorias e lhes dava abrigo dentro dos limites da sua pobreza, era um verdadeiro mecenas. Como as cantorias aconteciam sem à noite e varavam as madrugadas, era muito comum vê-lo dormindo durante o dia, sobre a "banca de bicho".
Contam que um dia num beco de São José, ele foi acordado por uma mulher muito feia que foi logo lhe perguntando:
— Meu senhor, é aqui que passa bicho?
Ao que de imediato respondeu:
— É não minha senhora, mas pode passar!
• • •
Outra ocasião, uma velhinha chegou na banca e lhe consultou:
— Seu Pedro, eu sonhei essa noite, que a minha casa estava pegando fogo, o que é que eu jogo?
E Pedro sem pestanejar:
— Jogue água minha senhora!
• • •
Bem perto de morrer sofrendo de barriga d'água, na cidade de Monteiro, o poeta Zé de Cazuza foi à sua casa e encontrando na sala a sua esposa perguntou-lhe:
— Como está indo Pedro?
Ela respondeu:
— Vai bem não Zé, ainda ontem o médico tirou sete litros de água da barriga dele!
Pedro, deitado numa cama ali junto chamou Zé:
— Pra você ver meu amigo, naquela seca de trinta e dois eu quase morro de sede, agora estou com uma cacimba dentro do bucho!
(Do livro “Histórias de Beradeiro”, de Zelito Nunes - zelitonunes@gmail.com)
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ASSOCIAÇÃO DOS FILHOS E AMIGOS DE SERTÂNIA
Fundada em 04.11.1994 CNPJ 00750861/0001-97
A AFASER – Associação dos Filhos e amigos de Sertânia está lançando um CD CARNAVAL DE SERTÂNIA com músicas de compositores sertanienses. Visando registrar e divulgar, principalmente entre a nova geração, músicas interpretadas nos grandes bailes carnavalescos, do América Esporte Clube de Sertânia, pela Orquestra Marajoara sob a regência do maestro Francisco Dias Araújo (Francisquinho), e hinos dos blocos que fazem o carnaval de rua e na sua grande maioria nunca foram gravados. O primeiro disco conterá as seguintes composições:
1. Hino de Sertânia (em ritmo de frevo)
Compositores: Waldemar Cordeiro/ Nelson Ferreira
Intérprete: Cristina Amaral
2. Batalha de Confete
Compositor: Francisquinho
3. Hino do Bloco da AFASER (Princesinha do Moxotó)
Compositor: Anacleto Carvalho
Intérprete: César Amaral
4. Linda Colombina
Compositor: Anacleto Carvalho
Intérprete: Hugo Araújo
5. Capiba Imortal
Compositor: Anacleto Carvalho
Intérprete: César Amaral
6. Hino do Bloco AGÀ
Compositores: Waldemar Cordeiro/ Francisquinho
Intérprete: Hugo Araújo
7. Você
Compositor: Jairo Araújo
Intérprete: Expedito Baracho
8. De Recife a Sertânia
Compositor: Reginaldo Siqueira
9. Recordações
Compositores: Jairo Araújo/ Hugo Araújo
Intérprete: Hugo Araújo
10. Divagando
Compositor: Anacleto Carvalho
Intérprete: César Amaral
11. O Carnaval do ano que passou
Compositor: Hugo Araújo
Intérprete: Hugo Araújo
12. Hino do Bloco TAÌ
Compositores: Waldemar Cordeiro/ Francisquinho
Intérprete: César Amaral
13. Recife dos meus amores
Compositores: Francisquinho/ João Ismar
Intérprete: Hugo Araújo
14. Relembrando Francisquinho
Compositor: Reginaldo Siqueira
Ficha Técnica:
Arranjos: Edson Rodrigues
Saxofone: Edson Rodrigues
Trompete: Augusto França
Trombone: Miguel França
Teclados: Fábio Valois
Técnico de Gravação: Fábio Valois
Design Capa: Oscar Venegas
Telefone: 81. 92251089 – e-mail: afaser@oi.com.br
Diretoria da AFASER
Presidente: Alexandre Lins
Vice: José Hélio
Dir. Financeiro: Luciano Teixeira
Dir. Social: Gilson Araújo
Reginaldo Siqueira
Dir. Cultura: Eliane Teixeira
Marconi Lafayette
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DEU NO JORNAL
Chile já discute o funeral de Pinochet
“Presidente Bachelet não quer dar ao ex-ditador, internado em estado grave, funerais de Estado com luto de três dias. Solução por enquanto seria uma cerimônia do Exército; boletim médico indica que risco de morte do general diminuiu, mas ainda existe.”
(Já em Cuba, Fidel baixou decreto adiando a própria desencarnação para uma época mais propícia, de tal modo que seus funerais aconteçam quando não houver mais nenhum outro acontecimento relevante no resto do mundo, a fim de que o enterro seja manchete principal em todas as publicações do planeta)
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UM TEXTO DE VANESSA BARBARA
Aí é luta, patuléia!
Uma desavença fonética opõe a jovem guarda aos palindromistas tradicionais – seria “Acena, Vanessa!” aceitável?
Há uma frase em latim que cura mordida de cobra e facilita o parto. É “Sator Arepo Tenet Opera Rotas” (o semeador Arepo mantém o curso com atenção), que ao ser lida da direita para a esquerda é literalmente igual. Ou seja, é um palíndromo. Segundo Otto Lara Resende, uma senhora mineira escrevia cada palavra dessa oração num pedaço de papel, enfiava num bentinho e amarrava no pescoço dos doentes, dizendo que, para coqueluche e asma, era tiro e queda. A frase é considerada o palíndromo mais antigo do mundo, e além disso, se as palavras forem dispostas em pilha, uma embaixo da outra, o sentido é preservado em todas as direções. Há inúmeras traduções possíveis, como “Deus, Criador, mantém com cuidado o mundo em sua rota”, mas ninguém sabe ao certo o que ela quer dizer. O escritor pernambucano Osman Lins baseou seu romance Avalovara nessas cinco palavrinhas enigmáticas.
Existem palíndromos atribuídos ao demônio. Alguns trazem azar. O gramático Napoleão Mendes de Almeida, autor de Questões vernáculas, diz que uma das provas de soberania entre os incas era que seus reis tinham nomes palindrômicos, como Capac. Na década de 70, um casal de Ohio, nos Estados Unidos, batizou seus filhos como Noel Leon, Lledo Odell, Lura Arul, Loneya Ayenol, Norwood Doowron, Lebanna Annabel e Leah Hael. A certa altura, alguém criou a palavra “aibofobia” para designar o medo mórbido e irracional de palíndromos. O termo não tem raiz grega ou latina, mas funciona de trás pra frente.
Junto a restos de churrasco, em uma mesa na calçada, um rapaz de camiseta amarela olha intrigado para a palavra “gnus” escrita em um papel. Ao lado dele, outro jovem rabisca nomes de ditadores numa folha: Hitler, Stálin, Mussolini. De repente, Paulo Werneck descobre que “a gnus” ao contrário dá “sunga”, e se põe a construir uma frase. Chico Mattoso desiste dos totalitários e passa para a palavra “pires”. Naquela tarde de outubro, na mesa de uma churrascaria em Santa Cecília, na região central de São Paulo, a jovem guarda palindrômica trabalha com afinco. Há quem diga que estamos vivendo os tempos áureos dos palíndromos. Nunca se produziu tanto desde um certo período na década de 90, quando um palindromista veterano sofreu um acidente de automóvel e passou três meses de cama, ditando frases invertidas para a esposa.
.Por fim, uma garota sentada na outra ponta da mesa quebra o silêncio e mostra um palíndromo: “… E amamos só mamãe…”, na linha terno-familiar. Aos 25 anos, a moça de vestido longo, cabelos castanhos e voz suave é um dos grandes nomes da jovem guarda de palindromistas. O garçom vai buscar mais cerveja. Marina Wisnik diz que o segredo é não teimar por muito tempo. Se em quinze minutos não deu palíndromo, é melhor desistir e tentar outra palavra.
Representante da velha guarda palindômica, Rômulo Marinho, 74 anos, concorda com Marina: o importante é seguir tentando. Rômulo se intitula rei do palíndromo. Nascido em Guaçuí, no Espírito Santo, o advogado aposentado já compôs mais de 2002 frases. São de sua autoria expressões como “A droga do dote é todo da gorda”, “O rio é de oiro”, “Seco de raiva, coloco no colo caviar e doces” e “E até o papa poeta é” (nos palíndromos, acentos não são levados em conta), além de um poema de 123 letras chamado “Palíndromo do amor total”. Em 1998, publicou o livro Tucano na CUT?, com 202 frases. “Quase todo dia, vendo televisão, faço um palíndromo”, diz ele, “mas já não os anoto mais.” Nos três meses em que ficou de cama, ditando frases para a esposa, chegou a produzir cinco por dia.
Rômulo nasceu em 1932. Demorou mais de sessenta anos para fazer seu primeiro versus cancrinus (em latim: aquele que se comporta como caranguejo). Ele conta que, desde a infância, tinha a mania de ler palavras ao contrário, esperando encontrar algum sentido. Foi quando descobriu os bustrofédons, ou parapalíndromos, palavras que, lidas da direita para a esquerda, formam vocábulos diversos, como amor (Roma), após (sopa), assim (missa) e ar (rã). Pode-se dizer que o bustrofédon é um ponto de partida para o palíndromo. Mesmo assim, Marinho não parou por aí: continuou sem saber que existiam sentenças inteiras em espelho, embora já conhecesse a famosa frase “Roma me tem amor”. Aos 25 anos, tornou-se telegrafista, mais tarde engajou-se na militância sindical e política, foi eleito deputado federal e exerceu inúmeros cargos públicos. Aos 40 anos, formou-se em direito e, aos 59, ganhou o posto de juiz classista em Taguatinga, nos arredores de Brasília. A essa altura, um cardiologista obrigou-o a fazer longas caminhadas matinais. “Para esquecer a distância e o tempo, tentei fazer palíndromos”, lembra. “Passaram-se meses, até que um dia nasceu o primeiro: ‘A base do teto desaba’.” A vantagem desse hábito foi que Rômulo Marinho nunca precisou de papel para criar suas frases.
O palíndromo é uma arte sem planejamento, ou, nas palavras de Millôr Fernandes, uma arte neurótica e maravilhosa, capaz de envergonhar qualquer concretismo. Para começar uma frase (ou terminá-la, no caso), não se deve ter um tema prévio, ou uma intenção a comunicar. “Pegue uma palavra na qual duas consoantes não se encontrem e coloque no meio de uma frase imaginária”, ensina Marinho. “A partir daí, da esquerda para a direita ou vice-versa, vá construindo seu palíndromo.” É a abordagem centrista, utilizada pela maioria dos criadores de palíndromos, em que a frase vai abrindo para as pontas até ganhar sentido. Devem-se evitar advérbios terminados em ente, gerúndios e tritongos, além de letras mudas e a palavra “Volkswagen”.
Apesar da limitação imposta pelo método, os palíndromos não são necessariamente aleatórios e desprovidos de sentido. Rômulo Marinho os divide em “explicitus”, “interpretabiles” e “insensatus”, sendo que os insensatus cuidam apenas de juntar letras ou palavras sem se preocupar com o sentido, como: “Olé! Maracujá, caju, caramelo.” Os interpretabiles têm coerência, mas requerem esforço intelectual do leitor para entendêlos: “A Rita, sobre vovô, verbos atira.” Já os explicitus, mais valiosos, trazem sempre uma mensagem direta, clara e inteligível, como : “A diva em Argel alegra-me a vida.” Marinho se empenha para que os seus tenham significado óbvio. De fato, poucos dos seus versos exigem do leitor um esforço de interpretação. Além disso, segundo ele, “à exceção de certos palindromistas americanos, que vivem em permanente excitação atrás do recorde palindrômico, desprezando, na maioria das vezes, o nexo, todos os palíndromos que se cristalizaram são perfeitamente inteligíveis”. Em português, o mais famoso deve ser “Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos”, de autoria anônima.
* * *
UMA PAISAGEM DE DEMÓCRITO BORGES
(15)
(Os leitores interessados na obra de Demócrito poderão fazer contato através do telefone (81) 3491-1382)
* * *
UM POEMA DE BOCAGE
Já Bocage não sou! . . . À cova escura
Já Bocage não sou! . . . À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento . . .
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.
Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa! . . . Tivera algum merecimento,
Se um raio de razão seguisse, pura!
Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:
"Outro aretino fui . . . A santidade
Manchei . . . Oh!, se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na Eternidade!"
* * *
UM POEMA DE HAIDÉE FONSECA
I
Irah canta
Irah canta
E o mal que, porventura, haja
Em volta se atrofia
Irah canta
E a voz passarinheira
Vem e anuncia
Que a dor lá fora
É só um faz-de-conta
Que quando Irah canta
Doce se alfiniza
Na saliva doce
Dessa voz mineira
Irah canta
E a gente de repente
Acredita sim
Que a paz existe
E é assim, assim
De se pegar com a mão
Irah canta
E a gente pressente
Que a vida volta
A acertar o prumo
Saindo do rumo
Que ia em contramão
* * *
A PROPÓSITO
MARCELO ALCOFORADO
O vendedor
A Carta ao leitor da Veja desta semana, trata do discurso do presidente Luiz Inácio da Silva, proferido quando de solenidade na Confederação Nacional da Indústria, ocorrida semana passada. Cinco itens da fala foram destacados pela revista, todos sobejamente significativos: Não terei medo de vetar qualquer lei que coloque em risco a seriedade da economia brasileira e sua sustentabilidade; Não vamos (o governo) gastar mais do que recebemos; Não vou permitir que o vandalismo econômico volte a tomar conta do país; Não me venham dizer para mudar a Lei de Responsabilidade Fiscal. Nem discuto isso; e, principalmente, Não vendo ilusões.
É bom constatar que o tempo, ao mudar as pessoas, não só lhes acrescenta rugas.
Antes, alvo de objurgatórias, a Lei de Responsabilidade Fiscal é, hoje, reconhecida por quem a atacou, como fundamental para a boa conduta econômica dos governantes.
Defesa tão veemente sugere, até, que, dado a reinvenções e useiro na tentativa de reeditar a prática stalinista de elidir da fotografia figuras de ontem, não tarde a chegada do dia em que a lavra da tal lei passe a ser petista.
O vandalismo econômico, por seu turno, há bom tempo não se vê no país, salvo se o governo assestar suas lentes em busca de um passado próximo, no qual, certamente, enxergará aliados hoje insuprimíveis do desenho de governo que se configura.
Por fim, uma fala em especial prende a atenção: Não vendo ilusões, afirmou o senhor Luiz Inácio da Silva.
Ora, com todo o respeito que impõe a alta magistratura do cargo de presidente da República, pode-se afirmar que vende, sim. Afinal, para ficar apenas em ponto, há quatro anos é prometido um “espetáculo do crescimento” que, na realidade, até agora, não começou.
Não começou, mas a platéia não dá sinais de desapontamento.
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Sopa de letras
Um dos sonhos brasileiros é liderar um bloco de países emergentes para emular os atuais donos do comércio internacional. É a mudança da geografia comercial do planeta tão acalentada pelo governo. De fato, deve ser fascinante ver, por exemplo, a África importando mais produtos brasileiros que os Estados Unidos ou a União Européia, embora ainda não se saiba quando e como tal poderá vir a acontecer.
Ocorre que a liderança almejada tem um custo, que se torna cada vez mais alto. Tão alto, que os países considerados pelo Brasil como aliados estratégicos são, de fato, concorrentes implacáveis e, sobretudo, fortíssimos. É com esses concorrentes que o Brasil contempla o BRIC – junção das letras iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China, sob a liderança, é óbvio, do presidente Luiz Inácio da Silva.
Pergunta-se, então: como deixar a liderança a cargo do Brasil, se dos quatro parceiros somos o país que apresenta o pior desempenho econômico?
A Rússia, esboça-se a certeza, está prestes a reingressar no clube das grandes potências. A Índia, por seu turno, é um gigante que cresce aos saltos, e a China se desenvolve a vertiginosos 11% ao ano. Enquanto isso, o Brasil continua a crescer a taxas haitianas e, mais uma vez, será o penúltimo da fila de um grupo de dezoito países que tiveram o desenvolvimento analisado pelo FMI para este ano. Não seria o caso, então, de ser criada uma nova sigla? Em vez de BRIC, que tal CIRB? Mesmo assim, haveria mais um problema: de 2001 a 2005, os quatro países — China, Índia, Rússia e Brasil —, juntos, cresceram 6,1% ao ano, mas sem o Brasil teriam crescido 7,3%, concluindo-se que nosso país puxa o grupo para baixo.
Ora, se eles não mais quiserem a nossa companhia, é possível formar um bloco mais homogêneo, reunindo Brasil, África e Haiti. Formaremos o BAH.
Bah!
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A ARTE DE BEZERRA NETO
"Na cabeça uma frô"
Maria Bonita e Lampião, fotografados pelo comerciante Benjamin Abraão (1936), que obteve uma carta de recomendação do Padre Cícero. Com esta, conseguiu chegar ao bando e documentar em filme Lampião e a vida no cangaço. Lampião pousa, lendo tranqüilamente o jornal A Notícia onde as suas façanhas tomavam a primeira páginas e outras internas. Enquanto isso, Maria Bonita destrai-se brincando com os cachorros ligeiro e guaraní.Por essa época, a presença de mulheres no cangaço já era novidade. Com a chegada de Maria Bonita, outros cangaceiros reivindicaram o mesmo direito que o chefe, seguindo seu exemplo. Quadro: 90cm de altura por 65cm de largura.
www.bezeneto.ubbi.com.br
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REPENTES, MOTES E GLOSAS
Grandes Nomes, Grandes Improvisos
JOSÉ VICENTE
Só o presente me diz tudo que fiz no passado, caminho certo ou errado, nas caminhadas que fiz, só mesmo o destino quis modificar minha mente, o corpo velho e doente mantém as rugas da cara. A saudade não separa o passado do presente.
JOSÉ ALVES DE MIRA-FLOR
Disse assim o tentador com Jesus na solidão: converte pedras em pão, tentando a Nosso Senhor, o Divino Salvador, com frases que não se somem, mostrou que os justos não comem, repelindo o anjo audaz; retira-te satanás, Nem só de pão vive o homem.
MANOEL DODÔ
Na profissão de carreiro, eu faço tudo e não deixo, compro sebo ensebo o eixo, a canga e o tamoeiro, sete palmos de fueiro medidos na minha mão, uma vara de ferrão, dois canzis de mororó: carro de boi e forró faz eu gostar do sertão.
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COLUNA DE ALLAN SALES - 0 MENESTREL DO CARIRI
GENTE AMIGA.
CONVIDO TODO MUNDO PRA CONVIVER CONOSCO NO SÁBADO À TARDE, A PARTIR DAS 13h, NO BOX SERTANEJO DO MERCADO DA MADALENA. LÁ ESTAREMOS AO VIOLÃO, CANTANDO NOSSA MÚSICA E DECLAMANDO NOSSA POESIA.ABRINDO ESPAÇO AOS QUE DESEJAREM BRINDAR A TODOS COM SUA ARTE.
SEJAM BEM VINDOS(AS)!
Cordas e Cordéis
Variedades poéticas e musicais: O melhor da MPB, música nordestina, literatura de cordel,música instrumental, paródias e canções satíricas.
Contato para apresentações: 81- 3339 5251/ 8845 9991 - allancariri@ig.com.br
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PÉROLAS DO VESTIBULAR
Na América Central há países como a República do Minicana.
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UM TEXTO DE ANTONIA PELLEGRINO
O PRÍNCIPE DE COPACABANA
Como falir sem perder a elegância
Aos 57 anos, Diduzinho Souza Campos tem todos os motivos para ser casmurro, ressentido e rabugento, mas não é. O enfant gâté dos anos 70, que só fazia a barba no Country Club e achou ruim quando se mudou da mansão de cinco andares, em Copacabana, onde vivera 25 anos, para um apartamento debruçado sobre o mar de Ipanema, hoje mora num modesto imóvel de 85 metros quadrados no Corte do Cantagalo. Nenhum bacana mora por ali. Filho único dos jet setters Didu e Tereza Souza Campos, Diduzinho não reclama: “O espaço é pequeno, mas é só abrir a janela que se tem a sensação de amplitude”.
Não que Diduzinho aprecie a vista. Faz 24 anos que seus olhos deixaram de funcionar. Tudo lhe parece completamente desfocado, mesmo com a ajuda de dois óculos, um para longe e outro para perto, ambos fundo de garrafa. “Nem sei o meu grau. Só sei que disso não passa, é o maior que se pode ter. Minha visão piorou com a idade, os óculos não podem acompanhar.” Aos olhos de Diduzinho, as pessoas não envelhecem, tudo é colorido, as luzes resplandecem, as cores brancas brilham como fogos de artifício. “O espetáculo dos fogos no final do ano, eu vejo melhor que todo mundo”, se gaba. A audição tornou-se uma terceira bengala. Certas atividades, como passar a chave na fechadura ou usar o controle remoto, são feitas apenas com o tato. “Tive que reaprender tudo, até a andar”, ele diz, caminhando vagarosamente por Copacabana, o braço esquerdo apoiado na acompanhante, uma bengala de galho de goiabeira na mão direita. Passa uma loira, Diduzinho olha. E pergunta: “É bonita?”.
Diduzinho tinha olho vivo para loiras, ruivas e morenas. Até a noite de 22 de setembro de 1982. Virado já fazia três dias, foi jantar no restaurante Fiorentina e esticou na boate Hippopotamus. De lá, seguiu para casa e, na curva do Calombo, na Lagoa, seu Passat derrapou. Diduzinho foi cuspido através do vidro. “Quando cheguei no pronto-socorro, meu rosto parecia uma rosa”, lembra. Daí seguiram-se quatro meses entre a Clínica São Vicente e tratamentos em Houston. Quando Diduzinho deixou o hospital americano, estava cego do olho direito e com apenas 10% da visão do olho esquerdo.
O ex-playboy andava sem carteira. Nos restaurantes e boates sua assinatura em qualquer papel era tratada como dinheiro. Chegava a gastar o equivalente a 3.500 reais numa noitada. Hoje é aposentado por invalidez no inss e vive apenas com a pensão de mil reais por mês, além de ajudas casuais de familiares e amigos. “Estou sempre devendo ao banco, é um inferno. Me sinto sentado numa bomba. Não sei viver assim. Para mim, as coisas sempre caíram do céu”, conta.
Diduzinho faz várias fezinhas por dia.Começa pela manhã, presenteando a esposa, Carmen de Souza Campos (quinze anos de casados), com duas raspadinhas de 50 centavos: “Eles pagam até 10 mil”. Ainda à mesa do café-da-manhã, Carmen abre o jornal e lê em voz alta o resultado da loteria. Diduzinho aposta religiosamente há mais de quinze anos. Ganhou uma única vez, 86 reais no terno da quina. “Se eu acertar, compro um apartamento no meu prédio mesmo, faço um seguro-saúde e vou para Paris”, ele diz, e emenda animado: “O bom de jogar na loteria é que a gente vai pra cama e esquece os problemas, só pensa no que vai fazer com o dinheiro se ganhar no dia seguinte”.
Herdeiro do título de conde da Graça, concedido pelo rei de Portugal ao seu tataravô, Diduzinho foi criado entre as pradarias do Gávea Golf Club, onde jogava quatro dos seis tempos de pólo no time dos amigos de seu pai, e o Country Club, onde passava a tarde praticando sinuca e tênis, de papo nas grandes mesas de almoço ou nos banhos de piscina. Diduzinho ferveu nas boates Le Bateau, Girau e Zum Zum num Rio de Janeiro fantástico, década de 1970, quando pululavam festas no estilo Grande Gatsby local. “A cidade era muito pequena. Todo mundo se conhecia. Eu chegava na Zum Zum e, pelos carros, antes de entrar já sabia quem estava lá.” Entre outras atividades sociais, chegou a freqüentar diversos cursos na puc. Não se formou em nenhum. “Nunca quis largar a barra da saia de mamãe, não batalhava nem sabia ganhar dinheiro. Sabia dar dinheiro.” E foi o que Diduzinho fez — enquanto pôde.
Já em 1972 apareceram as primeiras dificuldades. A separação dos pais acelerou o processo de venda dos bens da família. “Meu avô, Vilobaldo Souza Campos, foi rico. Meu pai torrou a herança. Era funcionário do Banco do Brasil, tinha uma vida que não condizia com o que ele ganhava”, conta Diduzinho, que aos 25 anos se viu obrigado a pegar no batente. Como adorava fotografia e cinema, foi contratado por Bruno Barreto para fazer fotografia de cena no filme A estrela sobe, mas abandonou o set de filmagens para viajar. Ainda assim, na volta aproveitou a experiência e conseguiu um trabalho de cinegrafista na tv Globo. A vida de estivador não lhe caiu bem. Logo o playboy foi transferido para o departamento de vendas internacionais da emissora. “Minha sala e a do Otto Lara Resende eram vizinhas. Os almoços naquela época demoravam horas. A Globo era glamourosa.” Em outro tom, a festa continuava.
Não continua mais. Diduzinho soube se adaptar. Hoje seu maior interesse é manter a serenidade. Suas terapias são os exercícios na academia de ginástica do 30o andar do Othon Palace, três vezes por semana, e duas sessões semanais nos Alcoólicos Anônimos da rua República do Peru, em Copacabana. “Não faço nada sozinho. Preciso da Carmen pra tudo. Sem a minha mulher eu fico perdido”, diz ele ao entrar na sala dos aa — codinome: Aerolíneas Argentinas —, onde gosta de sentar sempre no mesmo lugar, uma cadeira atrás da pilastra, para se proteger do sol. Na hora de seu depoimento, a voz mansa, calma e pausada dá lugar a uma fala ansiosa e atropelada,como uma catarse: “O cavalo passou selado e eu não montei” e “Acelerei na reta e derrapei na curva” são os seus bordões. “Eu entro chorando e saio rindo”, comenta já no ponto de ônibus, fazendo sinal para o circular. E revela: “Gosto de andar de ônibus. Aqui a gente vê as pessoas e fica imaginando a vida que elas têm. Se a gente soubesse, se surpreenderia. Ninguém diria que eu sou filho de princesa”, diz ele, referindo-se ao título de princesa que Tereza ganhou em 1990 ao se casar com dom João Nepomuceno Maria Felipe Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orleans e Bragança.
De volta a casa, Diduzinho se apressa em fazer a cama. “A Carmen briga comigo se eu não estico o lençol. Ela tem mania de limpeza, só temos empregada de quinze em quinze dias, mas aqui é tudo organizado”, diz orgulhoso, enquanto abre a geladeira e a despensa e mostra a arrumação perfeitamente simétrica. “De noite, encontro o que quiser sem precisar acender a luz.” Carmen ordena o armário de Diduzinho em ton sur ton para facilitar. “Meu corpo não mudou muito”, comenta garboso. “Essa calça eucomprei no Saint Laurent há trinta anos; uso até hoje.” Diduzinho preza muito a elegância. Adora azul, roupa bem cortada, feita de tecido nobre. “Não uso meia que tenha náilon, só com fio escocês.” Veste-se com apuro. Caminha altivo. Ao longo do dia, suas roupas não amarrotam. “Respeito certos rituais na área da vestimenta. Tenho uma roupa para ir ao médico e outra para tomar café. Odeio ir com a mesma roupa de um lugar para outro. Nunca usei calça bege com sapato preto. Hoje eu noto essas coisas e fico horrorizado.” Diduzinho diz: “Eu tinha uma vida de príncipe e não sabia”.
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AS GLOSAS DO JEGUE NA PRECISÃO
Já topando o desafio proposto pelo Jornal da Besta Fubana, poetas dos quatro cantos da Nação Nordestina começaram a mandar suas glosas, inpirados na foto que aqui foi publicada.
Hoje temos as glosas do Poeta Zelito Nunes
A bela e o lopreu.
Repousa toda a beleza
Nesse gigante imponente
Que um dia a natureza
Nos veio dar de presente
Tá lá a bela deitada
Tão pura tão intocada
Com ares de inocente
E o jumentinho coitado
Fazendo inveja pra gente
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INVENTÁRIO DAS COISAS INÚTEIS
Uma coluna de Alberto Oliveira
“Achei exagerada a colocação do poeta Alberto de Oliveira no sentido de que os concursos de repentistas desvirtuam o que ele chama de verdadeiro espírito da cantoria. Não levou em conta a dinâmica de desenvolvimento social do país, que hoje tem feição eminentemente urbana, o que causou mudança do eixo da população do campo em direção aos centros urbanos e todos os rebatimentos que essa mudança causou entre nós. Demonstra uma visão imobilista, tomando como paradigma de verdadeiro espírito da cantoria uma época em que viveram os grandes expoentes do passado da cantoria, na qual as formas de interação em comunicação da sociedade eram outras.”
(Do Poeta Allan Sales em sua coluna no JBF)
BILHETE AO POETA ALLAN SALES
Quem me conhece de perto sabe muito bem que eu sempre fui e serei um exagerado. Principalmente quando sou convocado a falar sobre algo que admiro e respeito como a Cantoria de Viola.
O exagero denunciado pelo poeta Allan Sales, no Seminário sobre Cantoria de Viola, ocorrido por ocasião de V COCANE – Congresso de Cantadores do Nordeste, coordenado por Antonio Lisboa, com patrocínio da Prefeitura do Recife, deu-se da seguinte maneira:
João Miguel, estudante de Brasília-DF, quis saber a opinião da mesa – Alberto Oliveira, Verônica Moreira, Maria Alice Amorim e Edmilson Ferreira – sobre os Festivais de Violeiros que grassam por esse mundão de meu Deus. Na ocasião eu afirmei (e volto a afirmar e reafirmo):
OS FESTIVAIS DE VIOLEIROS REPENTISTAS EM NADA CONTRIBUEM PARA A CANTORIA DE VIOLA E SÃO LIMITADORES DA EXPRESSÃO POÉTICA DOS VIOLEIROS REPENTISTAS.
É evidente que essa afirmação despertou acalorado debate. Que era exatamente o que eu queria atingir.
Em nenhum momento eu disse e defendi a Cantoria no passado, como à primeira vista se depreende do comentário do Allan.
Cantoria é algo vivo, pujante e atual, claro.
E não precisa de Festivais para a apresentação de meia dúzia de duplas – que são escolhidas eu bem sei como - enquanto a imensa maioria dos Cantadores de Viola não participa desses convescotes culturais.
Com relação à sinopse sociológica do restante do comentário do Allan, concordo com tudo o que ele disse.
No mais, os parabéns ao Allan pelo excelente texto, pedindo permissão para lembrar a opinião que não me sai da cabeça, dita por um dos presentes ao Seminário:
“FESTIVAL É UM MAL NECESSÁRIO” (No que eu discordo também. Não pode e nem deve haver mal necessário).
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BRINCADEIRA PRA DORMIR ou A REVOLUÇÃO DAS NUVENS
O sono não se chegava
Perdida no pensamento
Pediu um conselho ao vento
Que na amplidão voava
Na hora que navegava
Pela luz da madrugada
Ainda estava acordada
O que fazer pra dormir
E viu o vento sorrir
Dentro da noite estrelada!
O vento ficou pensando
Branca barba a alisar
Não queria magoar
Nem vê a irmã chorando
Aflita se magoando
Saídas sem encontrar
Queria ela a sonhar
No berço que era o céu
Foi tirando seu chapéu
E começou a falar:
“Dá-me pena seu estado
você é tão inocente
se lembre que certa gente
muito tem se aproveitado
desse seu jeito calado
desse nunca reclamar
nunca vi você chorar
transformada em carneirinho
pulando pelo caminho
sobre porteira a saltar!
É que você não quer ver
O adulto desalmado
Que vendo o filho deitado
Vai transformando você
Hás de um dia entender
de cruéis enganadores
Formando falsos pastores
Esses bruxos feiticeiros
Mentirosos embusteiros
Pervertidos malfeitores!
Nuvem não é carneirinho
Pedra é pedra e pau é pau
Esse o primeiro sinal
Escreva no pergaminho
Saia do limbo e do ninho
E vá correr mundo afora
Pois já é chegada a hora
De acordar a criança
Ela é a esperança
O amanhã é agora”
... E hoje quando acordei
O mundo tava sem graça
Procurei em rua e praça
Criança eu não encontrei
Pra amplidão eu olhei
Salpicada de Branquinhas
Amareladas, Negrinhas
A me lembrar carrossel
Todas brincando no céu
Pulando mil porteirinhas!
Aí, a Nuvem dormiu...
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Consulte os Projetos habilitados para a avaliação e seleção do Programa BNB de Cultura – edição 2007. Artes Cênicas Artes Visuais Audiovisual Literatura Música
Os projetos não constantes nestas realações estavam em desarcordo com as cláusulas discriminadas no edital.
A relação dos projetos contemplados será divulgada em 18 de dezembro de 2006.Encontra-se na opção Donwloads o modelo de relatório para a prestação de contas.
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DEU NO JORNAL
“Pipi sentado - A Assessoria Jurídica da Câmara de Vereadores de São Luís ainda não analisou um projeto que está dando o que falar na única capital brasileira fundada por franceses. É o que obriga tanto as repartições públicas da cidade como o comércio a construir ou destinar banheiros exclusivos para gays, lésbicas e transexuais. O autor da mirabolante proposta é o vereador Augusto Serra, do PV, que ainda não justificou a proposição protocolada no final de novembro. Se a peça legislativa for considerada tecnicamente perfeita pelos advogados da Casa, será encaminhada para duas comissões técnicas permanentes para depois ir à Plenário. Além de criar polêmica, o projeto também dividiu a comunidade gay local que acha que é uma medida discriminatória.”
(O saudoso Sérgio Porto, o homem que criou o FEBEAPA – Festival de Besteiras que Assola o País, foi quem cunhou a célebre frase: “Um dia o terceira sexo ainda vai virar segundo”)
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UM TEXTO DE LUIZ MAKLOUF CARVALHO
John Kennedy, o bebê Fábio e Francisca Oliveira em castelo dos sonhos
Auto de Natal aéreo
Fábio nasceu sobre a selva onde tantos morreram
Castelo dos Sonhos é um povoado paraense de quinze mil moradores que fica às margens da BR-163, a Cuiabá- Santarém, num trecho em que a rodovia não tem asfalto. Ele fica a mais de mil quilômetros da sede da comarca à qual pertence, Altamira, que, por sua vez, é o maior município do mundo (161 mil km2, quase quatro vezes o Rio de Janeiro), o que, pensando bem, não é nenhuma vantagem. Por ter sido criado quando os garimpos estavam no ápice, nos anos 70, Castelo dos Sonhos tem o nome que tem. “É um lugar perigoso e violento”, atesta Deoclécio Garcia, diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Altamira. A empresária Ieda Burille, dona do Posto Zelândia, mãe de duas adolescentes, discorda: “Castelo dos Sonhos é o melhor lugar do mundo para criar os filhos”, diz. A distância da sede deu origem a um movimento separatista. “A última vez que a prefeita esteve aqui foi em janeiro. De 2002”, diz Ieda, que é favorável à independência administrativa do lugarejo.
Francisca de Souza Oliveira, nascida em Castelo dos Sonhos, tem dezoito anos. Ela é mãe (solteira) de John Kennedy, de dois anos. Ela estudou até a segunda série, sabe ler e escrever, e já passou por poucas e boas na chamada escola da vida. “Essa menina dá trabalho”, diz sua mãe.
Raimunda de Souza Oliveira, mãe de Francisca, é maranhense de Buriti Bravo. Está com 44 anos e teve doze filhos do casamento com o lavrador Valdemir Alves de Oliveira. Cinco morreram. Valdemir também, assassinado. Dos sete vivos, Francisca é a do meio. Raimunda mora em Castelo dos Sonhos com o segundo marido e a filha caçula.
Antônio Capixaba, o pai de John Kennedy, é dono de uma pequena fazenda em Castelo dos Sonhos. Não vive com Francisca, mas ajuda a criar o filho.
Francinaldo, borracheiro de profissão, namorou e engravidou Francisca, que, no entanto, nem sabe o sobrenome dele. “Francinaldo matou um cara para roubar e me batia”, diz Francisca, que o abandonou. Francinaldo fugiu da polícia, desapareceu.
Ricardo Aleixo, 2o tenente-médico da Força Aérea Brasileira, serve na base militar da Serra do Cachimbo, que fica a 120 quilômetros de Castelo dos Sonhos. Em julho do ano passado, Aleixo obteve seu diploma na Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro. Aos 28 anos, ele ganha três mil reais. Casado, sem filhos, sua única experiência com partos foi a que teve na faculdade e nos estágios.
O ônibus saiu do Castelo dos Sonhos no final da tarde da sexta-feira, 6 de outubro. Ele levaria Francisca e Raimunda até Peixoto de Azevedo, onde Francisca teria o segundo filho. Como no nascimento de John Kennedy, o médico prescrevera uma cesariana. Com o hospital do povoado em obras, a recomendação era Peixoto de Azevedo. Trajeto relativamente curto, coisa de 270 quilômetros, mas a nada menos de doze horas de viagem, tais as condições da estrada. Pagaram trinta e oito reais cada uma pelas passagens, saídos, suados, do bolso de Antônio Capixaba, pai de John. Lá pelas onze da noite, a moça começou a ter contrações. Raimunda achou que podia ser alarme falso. A diminuição progressiva da freqüência mostrou que não. A cidade mais próxima, Guarantã do Norte, estava longe. Peixoto de Azevedo, nem se fala: só chegariam lá ao raiar do dia. O que havia, no meio da escuridão, era a base militar da Serra do Cachimbo. As dores lancinantes de Francisca e os apelos de Raimunda fizeram com que o chofer do ônibus pegasse a estradinha de asfalto que chega à entrada do quartel. Era 1h30 da madrugada.
A base militar do Cachimbo vivia há sete dias o lúgubre azáfama provocado pela queda do vôo 1907, da Gol. Era ali que eram transitoriamente guardados os cadáveres dos 154 passageiros do Boeing. Os gritos de Francisca alertaram os sentinelas, que abriram os portões, aceleraram as providências, acordaram quem devia ser acordado. “Ela chegou na base com muitas dores abdominais e contrações”, conta o tenente Ricardo Aleixo. “Eu fiz o exame de toque, a dilatação era de dois centímetros, e a indicação, até pelo histórico do primeiro filho, era de cesariana.” Não havia como fazer a operação no Cachimbo: a base não tinha aparelhagem. Decidiu-se levar Francisca para Cuiabá.
O avião, um bimotor Bandeirantes C-95, abriu a porta às 3h40 da madrugada para que Francisca e sua mãe entrassem. Era a primeira vez que elas viajavam de avião. Junto com ela foram seis tripulantes, entre eles o 2o tenente Aleixo, o cabo-enfermeiro Rocha e o tenente-coronel João Bosco. Deitada numa maca, Francisca entrou em trabalho de parto meia hora depois.
Raimunda Oliveira conta o que ocorreu a bordo: “As dores foram aumentando, e os gritos da Francisca também. Vi logo que a criança queria nascer, que estava na hora dela, mas eles mandavam a Francisca fechar as pernas. Diziam que não sabiam fazer parto, só cuidar de curativo, de perna e de braço quebrado. Quando vi que não tinha jeito, que a criança estava vindo, mandei eles forcejarem a barriga, e segurarem a cabeça da Francisca, que estava toda descangotada de tanto sofrimento, coitada. Aí eles ajudaram, e eu tirei a criança. Fiquei segurando até chegar em Cuiabá, quando cortaram aquele cordão. No meio de toda a tristeza com a queda do avião, foi uma alegria, para nós e para eles, o menino ter nascido ali.”
O relato de Aleixo: “Nós ficamos um pouco assustados que nascesse dentro do avião, porque podiam acontecer complicações mais sérias. Mas a dona Raimunda estava certa, e nós ajudamos, pressionando a barriga pra criança descer. Depois eu amarrei o cordão umbilical, que só foi cortado quando chegamos a Cuiabá.”
A pressa de nascer era tanta que o irmão de John Kennedy veio ao mundo, contra todos os prognósticos, de parto normal. Ele nasceu com quatro quilos e 70 gramas. “Subiram oito e desceram nove”, brinca o tenente-coronel Feijó, da base do Cachimbo.
Em Cuiabá, uma ambulância da prefeitura já os esperava, com um médico, para as providências imediatas e, depois, as fotos feitas na pista do aeroporto com a câmera digital de Aleixo. Levado para um hospital, onde se constatou que o bebezão estava bem de saúde, o trio teve alta no mesmo dia. Foi encaminhado para uma instituição assistencial da prefeitura. Saiu de lá para o aeroporto de Cuiabá na manhã do feriado do dia da criança. Um avião da FAB os levou para a base do Cachimbo — e de lá, num helicóptero, para o Castelo dos Sonhos. O bebê foi registrado em Cuiabá, como Fábio de Souza Oliveira, e não Fabiano, como a FAB disse que a mãe o chamaria, em homenagem ao socorro da base. “Fábio é mais bonito”, diz Francisca.
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MANCHETE DOS JORNAIS DE HOJE
“APÓS DIA DE CAOS AÉREO, CONTROLE DE VÔOS É RETOMADO”
(Finalmente. Pelo menos de um controle o governo resolveu assumir a responsabilidade)
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UM TEXTO DE LUIZ ALBERTO MACHADO
PAPAI NOEL AMOLESTADO
Sabe daqueles dias de vacas magras numa apertura arrochada de estreitar o juízo de qualquer sujeito? Pois é, multipliquem dez vezes mais a penúria e saberão a medida exata do que se passava com o Doro naquele momento periclitante.
Para se ter uma idéia do labirinto, ele olhou de um lado e estava a esposa com a mão de pilão, pronta para lascar-lhe o quengo. Do outro lado, uma infieira de bruguelos-de-cabelim-de-milho, tudo com um olhão graúdo pras bandas dele, acompanhado dum buá infernal. E atrás, vôte, uma penca de credores, tudo doido para pegá-lo de num aguentarem mais o toque de arrudeio do sabido em driblar os pregos.
Pois bem, no meio desse cenário tão alvissareiro, Doro escapuliu para arrumar uma lavagem de roupa que minorasse sua miséria, não antes receber no maluvido um desaforo da sua gasguita mulher:
- Ói, seu-destrambeiado, si num chegar cum cumida hoje im casa, vou-me prá casa da mãe, de nunca mais tu vê nem minha cara nem dus mininos, ouviu, traste?
Fez-se de entendido e saiu com aquilo martelando no quengo. Pé na bunda. Depois de muito arrastado de sandália enchendo a rua de pernas, eis que apareceu a sua salvação: precisa-se de Papai Noel. Eita! Na medida. Aí, deu um carreirão até onde precisavam do tal, encontrando, para sua revolta, uma fila enorme já de tantos postulantes ao cargo.
- Puta-qui-me-pariu, outra fila da porra!! Orra, meu!
Doro apertou as pestanas, espremeu o nariz, bateu na testa, fulo da vida e ficou matutando uma saída.
- Desse jeito, passa o natal e eu não saio daqui!
Teve um estalo. Imaginem: a dieta do rapaz, vocês já sabem, num é? Dá para sacar o desastre. Pois foi, apalpou a pança e largou um daqueles silenciosos que saiu queimando as beiradas do cu, de arrancar uma dúzia de pregas lá nele.
- Eita, esse quase me rasga! -, disse para si. Vôte! O fedor não demorou muito. Correram todos, até os atendentes, não ficando uma só alma viva ali. Até o Doro aperreou-se com a inhaca.
- Orra, meu! Tô meiorando cada dia mais. Desse jeito vô sê campião de peido em quaiquer lugá do praneta!
Ainda bem que estamos imunes dessa catástrofe. Bem distante, né não?
Pois bem, lá para as tantas, uma atendente resolveu retornar às atividades. Ela estranhou a presença de Doro ali.
- O senhor aguentou aquela fedentina?
- Ah! já tô acustomado, minha fia.
- Óooooo.
A lasqueira era que ainda restavam resquícios da catinga no ambiente, o que fez a moça apossar-se de uma tuia de fragrâncias para desimpestar os recantos. Hora e meia, depois, tudo restabelecido, Doro, como não poderia ser diferente, foi atendido.
- O senhor já trabalhou de Papai Noel?
- Minha fia, eu sô o mais originá Papa Noé da históra!
- O senhor possui a indumentária?
- Cuma?
- O senhor possui a roupa do Papai Noel?
- Quiláro, minha fia, a minha rôpa é a mai originá tumbém. Todo mundo gosta.
Como era o único candidato que restara da fatalidade, ficou com o cargo. Um mês vestido de papai Noel sob o pagamento milionário de um salário mínimo por proventos. E o melhor: recebeu 50% adiantados na hora e foi arrumar a indumentária.
Em casa livrou-se de uma panelada nas fuças porque deitou logo o dinheiro inteirinho na vista da mulher.
- Só isso?
- Foi o qui eu arrecebi, ôxe!
Como a mulher estava virada, não agüentou e arribara com os bruguelos no cós da saia. Doro sozinho ficou vasculhando os farrapos do seu figurino. Quando conseguiu arrumar, juntando tudo, num dava uma peça inteira de nada. Aí ele avexado, danou-se a costurar fiapo de pano de todas as espécies possíveis e inimagináveis num remendo sem fim, na maior colcha de retalhos. Foi na habilidade da agulha tudo que viesse pela frente: pano de chão com cueca rasgada, mais duas caçolas imprestáveis, três fraldas meleguentas, resto de cortina, toalha de banho, pedaço de cetim, pele de bombo, empanado de sofá, um restinho de saia, taco de borracha, sacola plástica, telas, tapetes, fiapo de cambraia, flanela, pano de copa, bonés, matulões, couro, uma bagaceira! Fez o palitó assim, mais a calça. Ajeitou uma botina velha caindo aos pedaços numa batedeira dos infernos. E, ao cabo de três dias, estava com tudo pronto. No dia marcado ele chegou lá. Dirigiu-se ao camarim improvisado e foi se aprontar.
Duas horas depois ele chegava no recinto na maior macacada! O Zé do Caixão nunca estivera mais lindo. Para filme de terror estava na medida.
- Cadê o papai Noel? -, perguntou uma funcionária.
- Ói eu aqui, dona moça!
Vôte, a moça quase teve um troço do susto!
- Isso é lá papai Noel que se apresente, moço? -, disse depois que consegiu se recompor do acidente.
- E ocê qué mió qui isso, é? Sou o mai originá dos originais!
- Para o Anticristo o senhor está perfeito! Para festa de assombração, para serenata no cemitério, coisa do tipo.
- Ói, num me abufeli qui tô ficando nervoso!
Depois de muito renhenhém, o cara teve permissão de assombrar as criancinhas. E quando foi se aproximando da platéia, levou um trupicão ao pisar no cadarço da bota, de sentar a venta no chão. Tei bei!
- Empurra não, empurra não! -, dizia ele com ele mesmo para gargalhada da garotada que avançou em cima dele. Ôxe, tome assédio. E só se via a meninada:
- Bicho feio! Bicho feio!
- É a mãe d´ocês, seus porrinhas!
Aí foi que o negócio pegou fogo! Os peraltinhas acharam de agarrá-lo, dando chute, pernada, dedada, beliscada, mordida, e ele revidando tudo no maior bafafá. O negócio ficou tão feio que teve de ter a interferência de uns dez seguranças para contornar o rebuceteio.
Situação contornada, Doro ainda bufava quando teve de acocorar-se para atacar os cadarços da bota. Foi pior: o pano não aguentou e abriu um rasgão na roupa de deixá-lo de bunda de fora. Maior alvoroço! Quem estava e quem não estava nem aí, revestiu-se da maior risadagem. Fatalidade maior não haveria de acontecer. Porém, como tudo é possível, o pior ainda estava por vir.
Doro estava escondido quando a organização mandou que ele fosse se atrepar no teto do prédio, para descer de lá de cima com todo o glamour que a ocasião exige. Havia para mais de zis crianças. Ele lá, cai mas num cai. Quando se agarra na corda, faz aquela averiguação de profissional, desconfia que a corda num agüenta e reclama:
- Esse barbante num pode com eu não?
- Bora, só tem esse aí, te vira, cara!
Doro fez a maior cara feia, mas como não tinha jeito. O jeito mesmo era despencar lá de cima e matar logo um bocado de presepeiro lá embaixo e pronto, receber a outra metade do dinheiro e ir para casa com meio mundo de fratura exposta. Missão cumprida. Nada. Ele segurou na corda e começou a deslizar, descendo ao som daquelas canções natalinas e com o maior aparato de iluminação e efeitos visuais.
- S´eu dispencá daqui, caio im cima das mininada, aí é só no macio. Eles morre, mas eu fico aparado qui só numa almofada com esses trelosos.
No meio do estardalhaço todo, ele enganchou-se na armação, passando horas pendurado. Só se via a bunda branca reluzindo lá em cima. O cara passou o maior aperto, suando frio, o estatelar-se no chão, o medo, tudo duma só vez. Isso dava um remoído no estômago a ponto de deixar a merda pronta para arrombar com tudo. Não deu outra. Primeiro veio aquela flatulência arrochada. Póiiiiiiin! Depois, meu, o desgraceiro estava feito. A corda partiu-se e lá vem Doro carregado de bosta altura abaixo. Ploft! Só se viu o salpicado abundante em todas as direções.
- Eita, o Papai Noel trouxe o saco cheio de merda!
- Não meu, é que ele é feito de bosta mesmo!!
Pelo andar da carruagem, dá para notar que o evento teve que contar com a intervenção da tropa de choque e o corpo de bombeiros para recompor tudo. Maior vexame. Doro ainda com a cara mais lisa conseguiu balbuciar:
- É, num deu. Só na outra.
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DEU NO JORNAL DA AUSTRÁLIA
A galega arreganhou a racha em pleno desfile
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RECLAMES DOS NOSSOS PATROCINADORES
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UM SONETO DE GREGÓRIO DE MATOS
Ao mesmo clerigo appellidando de asno ao poeta.
Padre Frisão, se vossa ReverênciaTem licença do seu vocabulárioPara me pôr um nome incerto, e vário,Pode fazê-lo em sua consciência:
Mas se não tem licença, em penitênciaDe ser tão atrevido, e temerárioLhe quero dar com todo o Calendário,Mais que a testa lhe rompa, e a paciência.
Magano, infame, vil alcoviteiro,Das fodas corretor por dous tostões,E enfim dos arreitaços alveitar:
Tudo isso é notório ao mundo inteiro,Se não seres tu obra dos culhõesDe Duarte Garcia de Bivar.
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DEU NA INTERNET
“Adriane Galisteu, que voltará às páginas de Playboy em março, anda fazendo testes: na semana passada, foi a um evento sem calcinha e, no dia seguinte, em outra festa, sem sutiã. Para alguns fotógrafos que, nas duas ocasiões, permaneciam de plantão para ver se conseguiam registrar qualquer exposição, Adriane até ironizava: “Se aparecer alguma coisa, não será nada mais do que já foi muito bem exposto nas páginas de Playboy . E quem quiser ver detalhes, é só esperar março chegar”.
(Como eu sempre afirmei, a raparigagem é uma profissão rendosa nos tempos atuais. Quengar com um famoso é certeza de projeção na mídia e dinheiro no caixa. O finado Ayrton Senna deve estar orgulhoso lá em cima)
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FRASES COM NEXO SOBRE SEXO
"Porque eu não me como"
(Bussunda, humorista, explicando porque os homens são exigentes com o corpo das mulheres e tão descuidados com o deles)
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DEU NA INTERNET
“O Flamengo é o time de futebol mais endividado do país: saltou de R$ 19 milhões para R$ 175 milhões neste ano.”
(Bom, o Flamengo é o mais endividado em reais. Em explicações pra torcida, o mais endividado é o Santa Cruz aqui do Recife. Que o diga o Cardeal Paulo Carvalho)
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UM TEXTO DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES
PROFISSIONALIDADE
Encarecendo perdão pelo neologismo utilizado no título acima, a intenção é positiva: alertar os que estão prestes a ingressar no mercado de trabalho e aqueles que já se encontram no seu campo profissional, sejam veteranos ou principiantes. O mote me foi oferecido pelo Simon Franco, um dos mais eficazes head-hunters do Brasil, quando de recente debate patrocinado por um centro profissionalizante, em Belo Horizonte.
Quais deveriam ser as características de uma pessoa talentosa, diante das mutabilidades contínuas que estão se verificando no mundo inteiro? Explicitando as dez mais notáveis, todas elas interdependentes e intercomplementares, acredito estar favorecendo a caminhada dos empreendedores criativos, encarecendo aos veteranos um “alerta geral” nos seus relacionamentos múltiplos:
1. Nunca esmorecer a capacidade de ser permanentemente um curioso, um perguntador, sempre desenvolvendo novas habilidades e despertando novos interesses.
2. Encarar a Vida como uma missão, jamais a entendendo como uma carreira. Conhecer bem as fontes nutrientes e as energias geradoras, sempre preservando a individualidade, sem resvalar para atitudes individualistas, suicidas sob todos os vieses profissionais.
3. Desenvolver um savoir-faire cultivando o humor, permanecendo otimista sem jamais reagir compulsivamente diante de atitudes negativas ou extemporâneas. Jamais tripudiar sobre as fraquezas dos outros e ter consciência da capacidade de perdoar e/ou esquecer ofensas alheias.
4. Manter-se constantemente atualizado em relação a assuntos e cenários mais recentes, sendo socialmente ativo, possuindo muitos amigos e uns poucos confidentes.
5. Sabe rir de si mesmo, dimensionando, sem exageros positivos ou negativos, o seu próprio valor. Perceber as similaridades e as diferenças em cada uma das situações enfrentadas. E aceitar elogios e culpas de forma equilibrada, sem reações impulsivas. E enxergar o sucesso no fracasso, por mais penoso que ele tenha sido.
6. Saber contemplar rostos antigos de maneira nova e velhas cenas como se fosse a primeira vez. Redescobrir as pessoas a cada encontro, interessando-se por elas, jamais rotulando-as com base em sucessos ou fracassos passados.
7. Saber fazer uso da força conjunta, acreditando nas capacidades alheias, nunca se sentindo ameaçado pelo fato dos outros serem melhores. Aprender a separar as pessoas dos problemas, não disputando posições, a liderança lhe sendo conferida por natural manifestação da maioria.
8. Exercitar regularmente as quatro dimensões da personalidade humana: a física, a mental, a emocional e a espiritual, orientando-se para as soluções criativas, sem resvalar para irresponsabilidades doidivanas.
9. Jamais se esconder sob o manto da resignação, consciente de que ele é o hospedeiro maior da mediocridade.
10. Renunciar às alternativas perfeccionistas, reconhecendo todas elas como estratégias de protelação.
Como embasamento geral, afastar-se da rotina, enfrentar o desconhecido e motivar-se para adquirir novos saberes, uma trilogia capaz de resistir à “tentação do ótimo”, sem qualquer dúvida o maior inimigo do bom. E nunca perder a convicção de que o justificatório, o lamentatório, o comparatório, o esperatório e o protelatório são os principais componentes patológicos das depressões decisórias da atualidade.
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UM POEMA DE MAVIAEL MELO
O NOEL NOSSO DE CADA DIA
NEM AO MENOS RÁIA O DIA
MAS ESSE MESMO PAPEL
E O CABOCLO JÁ DE PÉ
ELE CUMPRE TODO O ANO
DÁ LOGO UM CHEIRO EM MÁRIA
NUM ETERNO CARROSSEL
BOTA NO FOGO UM CAFÉ
TRABALHA SEM TER ENGANO
CORTA UM PEDAÇO DE PÃO
COMPRA ROUPA PRA MARIA
FAZ NA TESTA UM ORAÇÃO
BRINQUEDO PARA SOFIA
MANDINGAS DE SUA FÉ
E UMA FAZENDA DE PANO
E TERMINADO O CAFÉ
OU ENTÃO AJEITA O CANO
AJEITA EM SI O BORNAL
NOVA PINTURA NA CASA
PREPARA O PÓ DO RAPÉ
UMA REFORMA OUTRO PLANO
O PRIMEIRO MATINAL
LIMPA O NOME NO SERASA
BEIJA A MULHER E O FILHO
UMA VIAGEM EM FAMÍLIA
E SEGUE BEIRANDO O TRILHO
UMA BONECA PRA EMÍLIA
EM BUSCA DO CAPITAL
E A PRESTAÇÃO QUE ATRASA
POIS TÁ CHEGANDO O NATAL
MAS NADA ENFIM LHE ARRASA
A CIDADE TODA EM FESTA
NEM MESMO O BAIXO SALÁRIO
TUDO FICA MAGISTRAL
O SEU TRENÓ NÃO TEM ASA
PORÉM NO BOLSO NÃO PRESTA
TEM SIM UM GRANDE OPERÁRIO
É PRESENTE, É FORMATURA
QUE LIDA PRA SER FELIZ
É A DITA DITADURA
FINCADO EM SUA RAÍZ
DO CONSUMO, QUE NOS RESTA
NO QUE É HEREDITÁRIO
MAS ELE NÃO BAIXA A TESTA
POR ISSO EM SEU CALENDÁRIO
LABUTA DIARIAMENTE
TODO MÊS É DE NATAL
FIM DE NOITE UMA SERESTA
NUM LIVRO PRO ABECEDÁRIO
PARA CLAREAR A MENTE
OU O FILHO NA CAPITAL
E ASSIM VAI SUA LIDA
É FEIRA, É LUZ, É SAÚDE
PRA DAR O PÃO E GUARIDA
É TODO DIA AMÍUDE
AO SEU POVO E SUA GENTE
NA LABUTA NATURAL
POR SER UM CABRA DECENTE
SEGUINDO O EIXO NORMAL
NÃO GOSTA DE SER FIADO
SEU JOÃO, SEU MANOEL
CUMPRINDO HONROSAMENTE
SEU ALFREDO, ABDORAL
TUDO QUE É ACORDADO
MARCOS ANTONIO, JOEL
TRABALHA DIA APÓS DIA
É TODO PAI BRASILEIRO
SÓ PRA VER A ALEGRIA
ALEGRE SEMPRE E GUERREIRO
NAQUELE LAR TÃO AMADO
UM ETERNO PAPAI NOEL
É NA RUA OU NO ROÇADO
É UM FEIRANTE, É CORDEL
É LEIGO OU É DOUTORADO
É GARI OU BACHAREL
CADA UM NO SEU LIMITE
NA MÃO O MESMO CONVITE
DE SER UM PAPAI NOEL
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DEU NO JORNAL
“O ministro Gilberto Gil deve deixar mesmo, no final do mês, a Pasta da Cultura. Sua principal exigência para permanecer, ou seja, aumento do Orçamento do ministério, é impraticável.”
(Dinheiro pra cultura é impraticável em qualquer governo, do PSDB ou do PT. Mas tem muito intelectual que ainda insiste em ser governista. Eu já desisti de dar pistas das razões pela qual sempre sou contra o governo. Qualquer que seja ele)
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UM POEMA DE CECÍLIA MEIRELES
Timidez
Basta-me um pequeno gesto, feito de longe e de leve, para que venhas comigoe eu para sempre te leve...— mas só esse eu não farei.Uma palavra caídadas montanhas dos instantesdesmancha todos os marese une as terras mais distantes...— palavra que não direi.Para que tu me adivinhes, entre os ventos taciturnos, apago meus pensamentos, ponho vestidos noturnos, — que amargamente inventei.E, enquanto não me descobres, os mundos vão navegandonos ares certos do tempo, até não se sabe quando...— e um dia me acabarei.
* * *
OS BASCÚI DO NATAN
AGUAPÉ, DO BELCHIOR, é, digamos assim, uma estranha canção, diferente dos clássicos Galos, Noites e Quintais, Paralelas, Alucinação, Na Hora do Almoço etc e coisa e tal. Pra começar, ele usa como epígrafe, as duas primeiras estrofes do poema "A Cruz da Estrada", de Castro Alves. Troca as palavras Caminheiro, cruz e borboletas por Companheiro, casa e mariposas. Faz coro e "duela" com o Fagner e na música tem um coro, que se expressa em latim. A princípio parece uma coisa sem nexus, plexus e sexus, mas se for ouvida com atenção, veremos que não se trata de uma composição surrealista! Tem sentido, e como tem! Mas é como diz o Papa Berto I: "Tem gosto pra tudo!" Eu, pelo menos, gosto que me enrosco, pra usar uma expressão do princípio do século passado... Corrigi a letra do encarte do CD e da letra colhida na Internet. Deu um trabalho da gôta, mas consegui! Só não chequei os versos em latim, pois dessa língua morta não entendo iCAS!
PEQUENO CONCERTO QUE FICOU CANÇÃO, de Vandré, parece que foi um divisor de águas na obra do compositor/cantor paraibano. No início da década de 1960, era integrado ao grupo da Bossa-Nova, mas partiu para a contestação ao regime militar que se instalara no País em 1º de abril de 1964. Decidiu: " Temos que fazer música participante. Os militares estão prendendo, tortutando. A música tem de servir para alertar o povo," consciente de que os formadores de opinião, mais do que qualquer um grupo, competia essa tarefa: ALERTAR O POVO... A prova está na sua canção, de 1962, Fica Mal com Deus, que regravaria dois anos mais tarde no seu primeiro LP "Geraldo Vandré" (dias depois do Golpe) e depois, em 1966, no LP " Cinco Anos de Canção", já compondo com uma temática nordestina.
Hoje Vandré fala em sinfonias, músicas eruditas, etc. Parece coisa nova, mas na minha opinião, ele já pensava nisso há mais de 40 anos atrás.
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DEU NA INTERNET
“A insistência é do próprio Lula: quer porque quer Delfim Netto no Ministério do Planejamento, no segundo mandato, em substituição a Paulo Bernardo. Lula já sabe que o índice de crescimento de 2006 não chegará a 2,5% (muito distante dos 4% declarados no semestre) e quer um nome de peso na área de planejamento. Sabe também que delfim tem transito nas áreas empresariais e políticas e uma imagem de respeito fora do país. No bloco político-partidário. Delfim Netto é considerado um homem de estreita ligação com o ex-governador Orestes Quércia.”
(Eu não posso deixar de rir ao ler essas notícias. Mas vou esperar pra rir mais gostoso ainda com as explicações que serão dadas pelos meus amigos petistas/lulistas/esquerdistas. Me provocam frouxos de risos!)
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UM TEXTO DE LUIZ MAKLOUF CARVALHO
LUGAR DE BANDIDO É EM ALTO MAR
Enfermeira sexagenária vira musa da turma da bala
O assalto era para ter acontecido na véspera, sexta-feira, 6 de outubro. Estava escurecendo. Maria Dora dos Santos Arbex, de 67 anos, saía de um supermercado perto do apartamento onde mora, no Flamengo, no Rio. Foi ali o primeiro diálogo com o bandido:
— Ô tia, me dá o celular
— Está sem crédito
— Vai me dar o celular.
— Vou pensar no teu caso.
“Ele era desses que vivem perambulando pelas redondezas”, diz ela. “Já conhecia de vista. Achei que tinha cheirado cola e não dei importância.” Maria Dora simplesmente se afastou.
No sábado cedo, ela fez o de sempre: levou o cão tenerife Igor para o pipi matinal. Caminhava sem pressa pela rua Senador Vergueiro, já quase chegando em casa, quando o mesmo bandido fez a nova abordagem:
— Passa aí o cachorro, vale uns 50 reais.
— O cachorro, não.
— Então a bolsa.
— Não.
— A senhora vai acertar comigo porque eu não vou sair de mão pura. A bolsa já é minha. Perdeu! Perdeu!
Alexandre Cardoso Pereira, o Nem, falava alto. O “Perdeu!” foi reforçado por um canivete de cabo cor de vinho e, pior, por vários pisões de calcanhar nos dedos do pé-direito de Maria Dora. “Parecia um martelo!” Não havia ninguém na rua. Ela não se abalou. Pregou um olho no bandido e outro no cachorro. Tentou argumentar com Nem:
— O que não vão dizer se você sair por aí com a minha bolsa? Vão dizer que roubou, e não vai ficar bem. Não é melhor eu tirar o dinheiro e te entregar?— Eu só sei que você perdeu! Perdeu! Nem avançou, com canivete e calcanhar. Maria Dora e Igor deram um passo para trás.
“Remexi na bolsa, fiz que procurava o dinheiro e saquei o revólver, rápido. Ele veio pra cima com o canivete. Eu vi o peito dele na minha mira, mas desviei para a esquerda, apertei o gatilho e acertei na mão. Não matei porque não quis.”
Maria Dora é cearense da praia do Meireles, em Fortaleza. Veio com os pais, ainda garota para o Rio de Janeiro. Completou o curso clássico, formouse enfermeira e exerceu a profissão em clínicas particulares. Casou, teve quatro filhos. Um morreu. Os outros três moram com ela. São duas mulheres e um homem, solteiros e sem filhos.Na sala do apartamento próprio, onde contou sua história, Maria Dora está à vontade. “Disseram que eu furei a mão dele. Bobagem. Eu dei de raspão, entre os dedos. Não matei porque não quis.” Ela se levanta e, a pedido do repórter, aplica-lhe o golpe de calcanhar que sofreu. Dói, e muito.
Ela atribui à profissão o sangue-frio que afirma sempre ter tido: “Fui instrumentadora cirúrgica. Exige muita precisão, muita agilidade”. À observação de que um bisturi não é exatamente um revólver calibre 38, Maria Dora oferece uma tríplice resposta. O filho é militar do Exército; ela perdeu o medo de tanto ver ou guardar a arma dele. Em 92, fez um curso de tiro, no qual demonstrou pontaria exemplar. Em determinado exercício, o instrutor lhe disse que a regra era não acertar a silhueta-alvo em nenhum ponto letal. Maria Dora mandou o tiro no meio da testa. Chamada às falas, saiu-se com esta: “Ora, se ele estivesse de colete, ia me jantar”. Conclui a explicação declarando que dois episódios fortaleceram seu sangue-frio. Relata que foi obrigada a fazer uma ligadura de tendão “na mulher de um bandido, com a arma dele na cabeça”, e que em 1998 ela e a filha mais nova, então com 24 anos, foram vítimas de um seqüestro. Livraram-se incólumes quatro dias depois, resgatadas “pela outra irmã”.
O trinta-e-oito que acertou Nem pertencia legalmente à filha mais nova, que está concluindo o curso de serviço social. “Sei que é crime usar arma sem porte, mas usei para me defender, porque uma amiga minha foi estuprada no aterro do Flamengo e as autoridades não fazem nada”, diz.
Depois do tiro, Nem saiu correndo. Foi preso na mesma manhã. Maria Dora foi para casa, aonde chegou “em estado de choque”, para usar a expressão da filha mais velha. Minutos depois ouviramse as sirenes de oito viaturas da polícia, que pararam em frente ao prédio. Maria Dora foi presa na sala. Ao se entregar, pôs a arma em cima da mesa e disse: “Fui eu mesma, podem me levar”. Um inquérito apura os dois crimes.
No dia 23 de outubro, Maria Dora, vestida com (digamos) elegância, compareceu ao plenário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro para a solenidade em que recebeu a Medalha Pedro Ernesto, proposta pelo vereador Carlos Bolsonaro. Além dele e da homenageada, compunham a mesa o pai do vereador, deputado federal Jair Bolsonaro, o irmão, deputado estadual Flávio Bolsonaro, o tenente-coronel pm Fernando Príncipe Martins e a promotora pública Dora Beatriz Wilson da Costa. Maria Dora defendeu uma severa política de controle da natalidade e sugeriu que bandidos sejam confinados em navios e mandados para alto-mar
* * *
UM SONETO DE RONALDO CUNHA LIMA
Não maldigo os versos que lhe fiz
Não maldigo os versos que lhe fiz,
embora não devesse tê-los feito.
São versos que nasceram do meu peito,
mas frutos de um amor muito infeliz.
São versos que guardam o que não quis
guardar daquele nosso amor desfeito.
Relendo-os sofro, e sofrendo aceito
o que o destino quis como juiz.
Não os maldigo, não. Não os maldigo.
Vou guardá-los em mim como castigo,
para no amor eu escolher direito.
Só porque nesse amor não fui feliz,
não maldigo os versos que lhe fiz,
embora não devesse tê-los feito.
* * *
DEU NA INTERNET
“Eternizando-se no poder, o venezuelano Hugo Chávez faz par perfeito com o aniversariante Fidel Castro. Um ditador muito vivo e outro meio morto.”
(Ambos idolatrados por uma multidão de mortos-vivos da latino-américa)
* * *
DO LIVRO “CONTRA TODA A ESPERANÇA”
(Do escritor cubano Armando Valladares)
39. Rumo a Paris
Para manter a mente treinada e a faculdade de falar, eu organizava conferências para um imaginário auditório. Também repetia meus conhecimentos de matérias universitárias e improvisava aulas de História, Geologia, etc. Tudo isso em voz alta. O que fez as sentinelas se aproximar mais de uma vez; eles não chegavam até a grade, mas me espiavam, talvez achando que eu tinha enlouquecido.
Naquela época eu tinha necessidade de escrever, mas isso era impossível. Então, tive a idéia de compor poesias de memória. E, assim, iniciei uma nova experiência. Quando tinha repetido, até saber de cor, o primeiro verso, ia em busca do segundo. Depois de aprendidos os dois, compunha o terceiro e assim até completar a estrofe, depois o poema, que eu repetia diariamente muitas vezes, para gravá-lo na memória. Todas essas poesias, quando as disse para Fernando Arrabal, na casa dele em Paris, noites depois da minha saída de Cuba, ele me pediu que gravasse em fita e que as escrevesse, com medo que se perdessem. Como Arrabal tinha razão! Eu o fiz e algumas semanas depois era incapaz de repeti-las. Esses poemas apareceram em um volume intitulado Cavernas do Silêncio, editado por Playor, em Madri.
Existia uma situação que hoje posso compreender porque analiso os seus motivos. O pessoal da Polícia Política sabia que eu ia embora e não estava de acordo: a vítima escapava e trataram de me torturar o mais que puderam. As luzes e os mosquitos me agoniavam. Na noite que cheguei a Paris, mostrei as costas a Fernando Arrabal: estava toda picada pelos insetos e cheia de pústulas nas picadas que infeccionaram.
Não só derramaram seu ódio doentio sobre mim, como também sobre meus familiares. Sob a ameaça de encarcerar minha irmã, obrigaram minha mãe a escrever-me uma carta dizendo que eu era um inimigo do povo, que merecia a incomunicabilidade e que devia agradecer à revolução o que fazia por mim. Quando o major Guido me entregou a carta e terminei de lê-la, eu sabia que a tinham conseguido com ameaças. Em várias partes do texto ela repetia como era bom o comandante Blanco Fernández. Fizeram isso para se deliciar vendo minha mãe elogiar o coronel que ordenava o tratamento repressivo que eu recebia. Sabiam que me dilacerava minha mãe me escrever defendendo um dos meus verdugos.
Eles chamavam minha irmã à sede da Polícia Política freqüentemente, e se aproveitavam do fato de minha mãe estar só para aterrorizá-la. Um dia, no meio do caminho, minha irmã encheu-se de coragem e voltou. Disse a si mesma que se queriam interrogá-la e ameaçá-la teriam que ir buscá-la em casa. E, quando entrou, surpreendeu um dos oficiais da Polícia Política ditando uma carta à minha mãe, dirigida à Anistia Internacional. Ao me reunir com minha família nos Estados Unidos, minha mãe me contou que a obrigaram a redigir e assinar muitas outras cartas, a fazer declarações — a pessoas estrangeiras que eles levavam à minha casa — desmentindo o que eu denunciava.
Quando minha irmã negou-se a ir à sede da Polícia Política, o coronel Blanco Fernández foi buscá-la. Mostrou-lhe uma sentença em que era condenada a doze anos de cadeia, sem jamais ter sido julgada. Ela teve que pegar seus objetos pessoais e levaram-na para o presídio de mulheres. Mantiveram-na esperando até o anoitecer, com o pretexto de que faltavam uns trâmites, depois a mandaram para casa, dizendo que no dia seguinte iriam buscá-la. Fizeram isso várias vezes. Devido a essa pressão, minha irmã acabou num psiquiatra: ainda hoje está em tratamento.
Em uma ocasião, para lhe revistarem a bolsa, foi maltratada fisicamente pelo coronel Blanco Fernández e pelo capitão Mentira. Minha velha mãe sofreu muitas ameaças. Um dia, o capitão Mentira apresentou-se em casa e disse-lhes que renunciassem a sair do país, que para eles só havia três possibilidades:
1) Transformarem-se em comunistas.
2) Conspirar contra a revolução.
3) Sair de Cuba clandestinamente, em um bote.
Toda essa perseguição contra pessoas indefesas.
* * *
O tratamento avançava, as pernas se fortaleciam, já conseguia dobrar os joelhos e levantar-me um pouco, se bem que ainda com a ajuda dos braços. Passava horas andando entre as paralelas.
Uma de minhas sentinelas, Mariano Corrales, conversador ao extremo, costumava falar muito comigo. Procurava minha conversa para mitigar a solidão, mas em alguns detalhes eu notava seu ódio por mim. Tinha estado em Angola e me contou como seu batalhão participou da invasão do Zaire e a maneira como penetraram no território daquele país, o primeiro choque com tropas belgas e as setenta baixas que estas lhes ocasionaram, enquanto Castro jurava que seus soldados não estavam lá. Era mestiço e um dia pegou a carteira para me mostrar o retrato da esposa, uma mulher branca.
— Agora, com a revolução, somos todos iguais — disse-me, sorridente.
Coisa falsa, porque em Cuba o casamento entre pretos e brancos existiu desde o começo do século como prática normal. Aquela mulher branca e um jogo de móveis de sala, que ele mesmo tinha construído com madeira velha, eram seu grande orgulho.
Em algumas ocasiões eu sentia que entravam pessoas na sala e escutava, muito apagado, o ruído de passos no cubículo contíguo ao meu. A parede, quase perto do teto, estava cheia de furos produzidos pela deficiência da construção. Qualquer deles poderia servir para me vigiar. Foi o sargento Corrales que me convenceu disso, pois um dia, quando fui falar com ele, respondeu-me de jeito agressivo, dizendo coisas que, compreendi no ato, eram dirigidas a terceiras pessoas que estavam nos vendo e ouvindo. Ele, que passava horas conversando comigo, agora nem sequer me olhava; entregou-me a bandeja apressadamente e saiu do cubículo como alma perseguida pelo diabo.
Os meses passavam lentos, arrastando-se. Eu continuava repetindo minhas poesias de memória. Tinha quase vinte e passava o tempo com isso.
Uma tarde, o major Guido e seu ajudante falaram-me da Legalidade Socialista. Respondi-lhes que por essas leis eu devia ser libertado depois de vinte anos de cadeia. O tenente Beltrán disse-me que a Segurança do Estado tinha sua própria interpretação das leis, que ele conhecia bem o assunto porque estava estudando Direito na Universidade de Havana. Aquilo pareceu-me tão incongruente que lhe disse:
— Para mim, o fato dos senhores estarem estudando leis é como se alguém passasse longos anos aprendendo cirurgia e ao formar-se fosse trabalhar num açougue, esquartejando reses.
Quando lhes disse isso, enfureceram-se, disseram-me que era falta de respeito.
— Não, não é falta de respeito. É isso que os senhores fazem com as leis: esquartejam-nas.
* * *
Eu não soube, até sair, que Martha tinha feito uma viagem por países da Europa, em busca de apoio para minha libertação.
Políticos, jornalistas e intelectuais receberam-na na Espanha e também na França, onde Fernando Arrabal escreveu uma carta ao presidente Mitterrand. A essa carta juntou-se outra de Martha, pedindo-lhe audiência. Na Suécia foi atendida pelo grupo 110 da Anistia Internacional. Per Rasmussen tinha conseguido, desde há mais de um ano, que a coalizão não-socialista no Governo solicitasse minha libertação, oferecendo-me ao mesmo tempo asilo político e trabalho naquele país.
Funcionários do governo sueco receberam Martha com verdadeira solidariedade.
Per Rasmussen conseguiu, além disso, depois de mil peripécias, que Pierr Schori, secretário internacional do Partido Social Democrata, e atualmente subsecretário de Relações Exteriores da Suécia, aceitasse falar com Martha por alguns minutos.
A entrevista teve lugar de manhã, muito cedo, no Hotel Continental, de Estocolmo. Pierr Schori não estava muito interessado que o vissem com a esposa de um prisioneiro político de Castro. Não permitiu que Per e Humberto estivessem presentes. Não queria testemunhas. Tudo foi às escondidas, clandestinamente.
— Senhora, se quer fazer algo por seu marido, aconselho-a a não continuar com a campanha de publicidade e denúncias. Assim nunca irá tirá-lo da prisão — Schori aconselhava exatamente a mesma coisa que as autoridades cubanas; "conselho" igual lhe havia sido dado por Regis Debray, na França, através de uma terceira pessoa. — Essas coisas devem ser feitas em muito silêncio.
— No entanto, sr. Schori — replicou Martha, — quando um prisioneiro das ditaduras do Chile ou Argentina é maltratado, os senhores fazem denúncias e escândalos. Ainda acham que Cuba é um paraíso?
— Não, é claro que não. Poucos na Europa acham que Cuba é um paraíso — disse, olhando seus dois relógios, um em cada pulso.
— Se sabem o que está acontecendo e que a ditadura cubana é implacável, que acabou com toda liberdade, por que não o dizem?
— Porque seria dar armas aos norte-americanos.
Martha não respondeu, mas pensou que aquela era uma conduta imoral, carente de honestidade e de toda ética. Apegou-se ao meu caso:
— Não é inteligente continuar mantendo meu marido preso, porque a cada dia aumenta mais os que se unem à campanha pela liberdade dele e isso prejudica a imagem que Castro quer manter dele e de seu regime no exterior.
— Senhora, em Castro chocam-se a inteligência e a soberba — olhava ao redor enquanto falava. — E a soberba sempre triunfa — terminou.
Martha levantou-se; compreendeu que a insistência de Schori em olhar para o relógio tentava terminar a entrevista-relâmpago e quis adiantar-se. Antes de se separarem, Pierr Schori avisou-a de que a conversa com ele não devia se tornar conhecida pela imprensa. Talvez não quisesse provocar a soberba de Castro.
Ramón Ramudo, o hispano-sueco, foi libertado logo que a Polícia Política cubana mudou a acusação original que lhe havia feito, de agente da CIA, pela de contrabandista de lenços de seda, crime muito perseguido em Cuba. Ramudo conseguiu fazer sair as cartas que eu tinha escrito na cela de castigo, em pedacinhos de jornais, e chegou com elas a Estocolmo.
Foi a última pessoa que teve contato comigo e por uma dessas estranhas coincidências que Deus prepara. Martha ainda estava na capital da Suécia quando Ramudo, magro e amarelo, ainda com a marca da prisão e das torturas no olhar, soube de sua presença lá. O encontro dos dois e o testemunho de Ramudo na televisão sueca, em que mostrou minhas cartas, foi de valor extraordinário porque a imprensa do mundo inteiro recolheu suas declarações.
Da Suécia, Martha seguiu para a Noruega, onde a maravilhosa atriz Liv Ullmann, com um grupo de jornalistas e intelectuais, sensibilizados pelo que Martha lhes contou, fundaram um comitê para trabalhar pela minha liberdade, em Oslo, e da Europa nórdica, de gelos perpétuos, a bola de neve, já impossível de se deter, esmagará a soberba de Castro que, pelo menos desta vez, apesar dos augúrios de Pierr Schori, não triunfaria; ao contrário, teria que ceder.
* * *
Meu tratamento continuou. Foram passando meses de exercícios diários; já podia andar entre as barras paralelas sem a ajuda de aparelhos ortopédicos, ficar de cócoras e dar pequenos saltos no mesmo lugar, como se estivesse correndo. Para mim, os primeiros passos no caminhos do restabelecimento tiveram um valor indescritível: voltava a me sustentar sobre as pernas, voltava a vencer outro obstáculo! Tenho vários ossos do pé direito fora do lugar, aqueles que fraturei em 1961, durante a fuga do presídio e que se soldaram errado. Os médicos, quando vêem as radiografias, dizem que é impossível andar com essas lesões sem coxear gravemente. Mas eu não coxeava. Obriguei-me a não fazê-lo e, torcendo o pé no sentido contrário, fui exercitando novos músculos, até conseguir compensar a deficiência.
Curiosamente, apesar de já estar com as pernas fortalecidas, poder fazer trote suave e ficar de cócoras no mesmo lugar, entre as paralelas ou no banheiro antes da ducha diária, não podia andar pelo cubículo sem me apoiar em alguma coisa. Era impossível por causa da perda da linha de marcha, aquele mesmo descontrole que nos fazia andar em ziguezague, no presídio de Boniato. Por isso tinha que continuar usando a cadeira de rodas.
Se tentasse ir da minha cama ao banheiro, atravessando o cubículo, meu andar era errante e a primeira vez que o fiz não consegui manter a linha e fui parar na parede do fundo. Precisava, para concluir aquela etapa do tratamento, de espaço aberto para que o cérebro voltasse a ter a perspectiva de profundidade de que carecia entre aquelas quatro paredes. Mas o segredo de minha recuperação física tinha que ser guardado até o último minuto.
Uma tarde, outro especialista veio me examinar; fez um teste muscular, observou-me fazendo exercícios e me explicou que com apenas uns dias de espaço aberto eu recuperaria a linha de marcha.
Dias depois, o dr. Puente subiu uma bicicleta de ginástica e comecei a fazer exercícios nela.
Os médicos intensificaram o tratamento, de manhã e à tarde. Aproximava-se a minha saída, da qual eu nem sequer suspeitava. No entanto, a tortura continuava. Aquela dualidade carcerária era grotesca, uma loucura. A comida continuava sendo abundante e de qualidade, mas não me davam nenhum comprimido. Algo me provocava alergia e meu corpo estava ficando cheio de vergões, além de coçar de modo desesperador, mas não me davam remédio. Uma aspirina era tão difícil de conseguir quanto ver o sol.
Uma madrugada, um grupo de coronéis apareceu no meu cubículo. Ordenaram-me que recolhesse tudo o que tinha.
— O general quer vê-lo — disse o chefe do grupo.
A caravana, composta de três carros, saiu da prisão. Chegamos à Vila Marista, sede da Lubianka cubana, um enorme conjunto de edifícios.
Deixaram-me em uma cela dos longuíssimos corredores. Por aqueles corredores passaram dezenas de milhares de cubanos que foram submetidos a interrogatórios alienantes para arrancar-lhes confissões sob pressão de torturas. Muitos não puderam resistir e morreram. Logo a Polícia Política informava que haviam se suicidado.
O expediente do "suicídio" naqueles tétricos calabouços serviu para desvirtuar o assassinato de Eurípedes Nuñes, um dirigente operário que foi Secretário-Geral do Sindicato dos Trabalhadores da conhecida fábrica de tabacos H. Uppmann. Também foi liquidado desta maneira o professor de Filosofia da Universidade de Havana, Javier de Varona; o médico e ativista pelos Direitos Humanos, dr. José Janet; o comandante do Diretório Revolucionário e ex-ministro do Comércio Exterior de Cuba, Alberto Mora; só para citar casos de pessoas conhecidas, pois a lista de vítimas anônimas, de homens e mulheres simples, cujos nomes não transcendem, e que desapareceram naqueles calabouços, é interminável. Não há listas, nem detalhes, jamais alguém é testemunha das detenções. O terror fecha olhos e lábios.
Os cidadãos podem ser presos por simples suspeitas e ser mantidos sob processo de investigação e interrogatórios durante anos, como aconteceu com o dissidente marxista e professor universitário de Economia, Elizardo Sánchez Santa Cruz, a quem por dois anos mantiveram naqueles calabouços, submetido a todo tipo de pressões. na tentativa de arrancar-lhe uma confissão que envolvesse outras pessoas, assim como sua auto-acusação.
Um dos casos típicos de tortura física e mental que conheci é o do médico Mario Zaldivar, que foi clínico no Hospital Militar de Havana. Foi submetido a câmaras de congelamento e aquecimento alternados, assim como a surras. Depois, ameaçaram-no de tomarem represálias contra a família dele, se contasse o que tinha acontecido. A última vez que o vi estava aterrorizado.
Manuel del Valle, depois de interrogatórios massacrantes e torturas, foi retirado uma madrugada, com os pés e as mãos amarrados; levaram-no para o tétrico "matadouro de Castro", onde o amordaçaram com esparadrapo, prenderam-lhe os braços para trás, passados por uma tábua, e fuzilaram-no com tiros de festim. Essa prática de falsos fuzilamentos era usada constantemente.
Orlando Garcia Plasencia e muitos outros de seus companheiros foram detidos por uma conspiração abortada que tinha, entre outros planos, o de atentar contra a vida de Castro. Projetavam atirar nele com uma bazuca. Um dos conspiradores, uma moça chamada Dalia Jorge, não pôde resistir aos interrogatórios. Colocaram-na completamente nua diante de um grupo de oficiais. Se para um homem é humilhante ficar nu diante de seus verdugos, para uma mulher o é infinitamente mais. Aos poucos, com aquelas técnicas de interrogatório, a cela fria e o terror, obrigada a se exibir nua, a resistência de Dalia Jorge desmoronou. Delatou então todos os seus antigos companheiros e informou tudo que sabia. Enquanto Garcia Plasencia e outros grupos sofriam torturas, ela perambulava pelo presídio, porque lhe haviam concedido liberdade dentro daquela zona. Quando sentiu a formação de um novo ser em suas entranhas, não pôde saber qual daqueles oficiais que a haviam possuído era o pai.
Para arrancar de Garcia Plasencia uma confissão que implicasse outros supostos conspiradores, torturaram-no durante semanas. Completamente nu, amarravam-lhe as mãos às costas e obrigavam-no a subir sobre os depósitos de gelo, diante de um aparelho de ar-condicionado ligado no máximo de frio. Se, dolorido pelo contato do gelo nas solas dos pés Garcia Plasencia se abaixava, o guarda jogava um jarro de água gelada nele.
Depois de semanas dessas torturas, passaram a amarrá-lo com cordas, em posição fetal, cabeça enfiada entre os joelhos; quando urinava empapava a cabeça com a própria urina. Também amarravam-no pelos ombros e, com a cabeça coberta por um capuz, mergulhavam-no em água quase até a asfixia. Uma vez disseram-lhe que iam imergi-lo no poço dos crocodilos. Garcia Plasencia me contou que, enquanto iam-no descendo, ele calculou a distância que o separava da água e encolheu os pés. Mas, assim mesmo, sentiu o lombo viscoso e áspero dos crocodilos, que não eram mais do que as carapaças de inofensivas tartarugas.
Uma madrugada, o próprio Castro apareceu. Por que não atirou em mim? — disse-lhe. — Você é um covarde.
O prisioneiro não respondeu e Castro o esbofeteou. Garcia Plasencia estava manietado e completamente nu.
Hoje, mais de vinte anos depois, continua no presídio do Combinado do Leste.
O calabouço que me destinaram na sede da Polícia Política tinha uma abertura pela qual o guarda do corredor assomava-se constantemente. Isso tinha a finalidade de fazer o preso se sentir constantemente vigiado.
Poucas horas depois, uma verdadeira corte de coronéis e ajudantes foi me buscar. Esperava-me um homem de uns quarenta e oito anos, em um escritório luxuosíssimo, com tapetes e cortinas vermelhas. Era o general, chefe da Lubianka.
— Valladares, trouxemos você para cá porque vamos pô-lo em liberdade... e possivelmente iremos deixá-lo sair do país.
A notícia não teve o efeito que esperavam e o general percebeu. Eu havia conhecido casos de prisioneiros que tinham sido manipulados, iludidos por essa idéia.
A notícia não o agrada, Valladares?
— Por que vão me libertar, general? — perguntei, sem acreditar muito.
Desde há muitos anos mantinha a conduta de não me iludir com nada do que eles dissessem.
— Porque a revolução irá dando solução a casos como o seu, apesar da sua hostilidade na prisão e sua recusa aos planos de reeducação política — e olhou seu relógio, um Rolex dos que Castro dá e que se tornaram em Cuba provas das simpatias pessoais do ditador. — Já é muito tarde, você precisa descansar ... — levantou-se e acrescentou: — Sabemos que precisa de um pouco de exercício ao ar livre e deve tomar um pouco de sol, porque está muito pálido. Amanhã o companheiro Alvarez Cambra, seu médico, virá vê-lo. Ele orientou o seu tratamento e está a par de como evoluiu.
Eu não pude dormir pelo que restava da madrugada. A notícia que iam me dar a liberdade era algo que já não esperava e em que não podia acreditar; temia que fosse outra jogada da Polícia Política e tentava adivinhar que maquinação ocultava. Talvez quisessem me iludir com a idéia da libertação para mais tarde apresentar-me alguma condição, como assinar que aceitava minha reabilitação ou algo do estilo. Minha experiência com inimigos capazes de tudo dizia-me que devia suspeitar até o último instante e que eles não iriam me libertar em troca de nada. Eu nem sequer podia desconfiar que o nível de opinião pública mundial, tão ansiado por mim, tinha chegado à altura necessária para obrigar Castro a me libertar, apesar de sua soberba e do juramento que não o faria enquanto houvesse uma campanha a meu favor.
Na tarde seguinte, o dr. Alvarez Cambra me visitou; muito gentilmente, disse-me que eu seria levado ao ginásio e que me deixariam andar na quadra de esportes.
Primeiro, fizeram-me percorrer os corredores, apoiado em uns oficiais. Depois, levaram-me ao ginásio, onde o general me esperava. Nos dias seguintes, faziam-me subir e descer escadas, primeiro devagar, depois mais depressa. Dia a dia fui adquirindo a habilidade. Certa manhã, acompanhado pelo dr. Alvarez Cambra, saí ao polígono esportivo. Os primeiros passos ainda eram titubeantes; entre ele e o general, fui avançando. Do outro lado me filmavam.
O dr. Alvarez Cambra explicou-me que o cerebelo se readaptaria logo e assim foi. Através do general, eu soube que não apenas teria a liberdade, mas que também me permitiriam sair do país.
Respondi-lhe que aceitava, desde que minha família também pudesse ir embora de Cuba. Disse-me que sobre isso teria que consultar o nível superior.
Quando me levaram ao polígono, comecei a dar voltas nele, primeiro devagar, depois mais depressa, a trote curto.
— Quando puder correr bem, irá embora —dizia-me o general.
Perguntei pela minha família e ele disse que haviam respondido que ela não podia ser incluída.
— Então, general, não aceito a saída. Sem minha família eu não irei. Vocês hostilizaram minha gente durante anos, mantiveram-nos como reféns, para tomar represálias contra mim; agora, não vou embora deixando-os aqui. Eles estão com tudo pronto; passaportes, vistos, passagens. Não é justo que continuem sofrendo em um país que os hostiliza e fustiga.
— Você está louco, não sabe o que diz. Sua família irá depois.
— Não, general. Não aceito isso.
— Olhe, amanhã virá uma pessoa que vai falar com você e fazê-lo mudar de idéia.
No dia seguinte, eu estava na quadra fazendo exercícios, quando o general chegou acompanhado por um senhor de bigodes, alto e claro. Era Pierre Charasse, o embaixador interino da França. Foi na conversa com ele que soube, enfim, o porquê da minha libertação. O presidente Mitterrand a havia pedido a Castro e este tinha cedido. Mostrou-me a cópia de um telegrama da presidência francesa: esperava-se minha chegada a Paris nos próximos dias e a imprensa mundial já estava dando a notícia.
Deus me iluminou. Compreendi em segundos que o jogo tinha mudado, que minha posição era forte.
Expliquei ao sr. Charasse a situação da minha família e tudo o que tinham feito contra ela. Pedi-lhe que transmitisse meus agradecimentos ao presidente da França e acrescentei:
— Prefiro continuar num calabouço, comendo farinha de milho, mas com a consciência tranqüila, do que comer um pato com laranja no "Maxim's" de Paris, sabendo-me traidor da minha família.
O embaixador foi muito gentil. Tentou me fazer raciocinar. Certamente para ele, que sabia que eu estava preso há vinte e dois anos, minha negativa de ir para Paris, para a liberdade, tinha que parecer loucura.
Quando ele foi embora uma grande tranqüilidade me envolveu. Eu sabia que o mais importante era viver em harmonia com a própria consciência, agindo como se acha certo, sem levar em conta as conseqüências. Minha verdadeira liberdade era essa, a que Deus dá interiormente aos homens. Eu não podia deixar a minha família para trás. Nos regimes marxistas elas são tomadas como reféns — essa prática é bem conhecida no mundo inteiro — para impor silêncio aos que estão no exterior.
No entanto, a reação do general foi de indignação. Quando mandou me buscar, a ira congestionava-lhe o rosto. Repetiu-me — coisa que tinha me dito durante anos — que eles não aceitavam imposições e que Castro, quando soube da minha exigência, respondera que eu apodrecesse na prisão.
— Vamos lhe dar uma última oportunidade, Valladares.
— Agradeço, mas sem minha família eu não irei, general.
Nessa noite, com grande hostilidade, levaram-me de volta à prisão. O clima era tenso. Os mesmos coronéis que dias antes se desfaziam em atenções e gentilezas para comigo, como que para apagar em algumas horas os anos de torturas e ignomínias, não me dirigiam a palavra. Um silêncio total reinou entre eles e eu, durante todo o trajeto.
Dois dias depois, as autoridades trouxeram minha família, acompanhada pelo sr. Charasse. Minha mãe e eu nos abraçamos, depois de longos anos sem nos vermos; minha irmã me beijava, emocionada. Estavam felizes por me ver andando. Não sabiam do tratamento que me tinham dado em segredo, para não poder informar a respeito. Quando, meses atrás, perguntavam por mim, os oficiais diziam que eu me negava a ser tratado.
Soube, então, que em conversas entre Castro e o governo francês, tinham resolvido incluir minha família na negociação. Ainda assim, respondi que não acreditava nas palavras de Castro.
— Martha esperou vinte e um anos por você; nenhum dos dois merece que esse encontro demore mais — disse-me minha irmã, me abraçando. — Vá, meu irmão, que pelo menos nós estamos lá fora, ao passo que você sofreu muito e merece um pouco de felicidade... Vá e seja o que Deus quiser...
— Não tenha pena — disse-me minha mãe. — Nosso sonho era ver você livre e já posso morrer tranqüila.
Novamente levaram-me para a sede da Polícia Política. Outra vez os coronéis estavam sorridentes e atenciosos.
No dia da partida tornaram a me filmar no campo esportivo, enquanto eu corria ao redor dele.
Quando me tiravam da cela, o oficial que me acompanhava assobiava para avisar que ia levando um preso, sinal que usavam para avisar um ao outro e evitar que eu cruzasse com outros detidos. Lá ninguém deve se ver. Outras vezes, colocam um capuz no preso.
Um preso enlouquecido, no corredor lateral, empurrou o guarda e saiu correndo; ao chegar à escada, soltou um grito e se atirou de cabeça por ela abaixo. Quem seria aquele infeliz? Que torturas teria sofrido para chegar àquele ponto?
Deram-me um terno, um capote e uma maleta.
Na última conversa com o general, este me fez uma velada ameaça : minha família ficava e dependia de mim que a deixassem sair ou não, insinuando que se eu fizesse declarações contra Cuba nunca sairia.
— Os braços da revolução são longos, Valladares, não se esqueça disso... — e ficava implícita uma sinistra ameaça contra mim.
Nada respondi. Minha mente estava fora daquela sala, longe... muito longe, em Paris, onde Martha me esperava, minha Penélope real. Em 1979 eu havia escrito um poema para ela que terminava com uma premonição, um canto à esperança, à sua angustiante espera...
Chegarei a ti
desta vez não duvide
já está decidido nosso encontro
apesar do ódio e dos abismos.
Chegou a hora da partida. A comitiva de vários carros enfiou-se pela Avenida de Rancho Boyeros, rumo ao Aeroporto Internacional José Marti. O avião partiria às 7 da noite. Um sol vermelho como sangue tingia a tarde de escarlate e em meu coração elevei uma prece agradecida a Deus por ter me ajudado a esperar contra toda esperança, e roguei-Lhe pela minha família, de quem não tinham permitido que eu me despedisse, por meus companheiros que ficavam para trás, na noite interminável dos cárceres políticos cubanos.
Os carros corriam, velozes, e uma mistura de melancólica tristeza e alegria foi me afundando nas lembranças de vinte e dois anos . .. Lembrava-me dos sargentos Porfirio e Matanzas, afundando as baionetas no corpo de Ernesto Diaz Madruga; de Roberto Lopez Chavez agonizando em uma cela, implorando como louco por um pouco de água e dos guardas que lhe urinavam na cara, na boca; de Boitel a quem, também depois dos cinqüenta e tantos dias de greve de fome, negaram água, porque o próprio Castro tinha dado ordem de matá-lo; depois de Clara, sua atribulada e velha mãe, agredida pelo tenente Abad nas dependências da Polícia Política, só porque queria saber onde haviam enterrado seu filho; lembrava-me de Carrión com um tiro na perna, pedindo ao miliciano Jagüey que não atirasse mais e este, sem compaixão, metralhando-o pelas costas; e pensava que outros oficiais, semelhantes aos que me rodeavam, haviam proibido aos familiares que chorassem na funerária, sob ameaça de levar o cadáver.
Lembrei de Estebita, de Pire, que amanheceram mortos nas celas muradas, vítimas de experiências biológicas. De Diosdado Aquit, do Chino Tan, de Eddy Molina e tantos outros assassinados nos campos de trabalhos forçados.
Uma legião de espectros nus, aleijados, passou pela minha mente, do mesmo jeito que nas revistas horrorosas com centenas de feridos, os mutilados, a dinamite para nos fazer em pedaços, os celas de confinamento com seu regime de surras, as mãos decepadas a facão de Eduardo Capote. Campos de concentração, torturas, mulheres surradas no cárcere, o militar que me jogava excrementos e urina no rosto, as surras que deram em Eloy, em Izaguirre. Martin Perez com os testículos feridos a tiros. O pranto de Robertico chamando pela mãe.
E no meio da visão apocalíptica de minhas terríveis experiências passadas, entre a fumaça acinzentada da pólvora e da orgia de pancadas, de prisioneiros abatidos a tiros, um homem famélico, esquelético, com cabelos brancos, olhos azuis fulgurantes e coração cheio de amor, erguendo os braços para o céu invisível e pedindo demência para seus verdugos ...
"Perdoai-os, Senhor, eles não sabem o que fazem!", enquanto uma rajada de metralhadora' perfurava o peito do Irmão da Fé.
"Do nosso ponto de vista, não temos problema algum com os Direitos Humanos: aqui não há desaparecidos, aqui não há torturados, aqui não há assassinados. Em vinte e cinco anos de revolução, apesar das dificuldades e dos perigos pelos quais passamos, jamais se cometeu uma tortura, jamais se cometeu um crime." (Declarações de Fidel Castro a jornalistas franceses e norte-americanos, no Palácio da Revolução, em Havana, a 28 de julho de 1983, publicadas no jornal Granma, na edição de 10 de agosto do mesmo ano).
(Último capítulo)
* * *
AS CHARGES DO DIA
Tia Amara sob a proteção do Papa Berto I
A divina Irah Caldeira, dando vida e alegria ao almoço dos cardeais.
Amizades sinceras
Ricardo Anísio
Poderia ser apenas mais uma confraternização de fim-de-ano mas na verdade foi uma declaração coletiva de amor e de respeito entre seres humanos e artistas. Tendo como mestre de cerimônia o escritor Luiz Berto, autor do seminal livro O Romance da Besta Fubana (Ed. Bagaço) nos reunimos para conversar e ouvir a divina Irah Caldeira cantar as geniais canções de Maciel Melo. Foi um domingo que marcou a minha vida.
Não era mais uma festa etílica – embora os camaradas sorvessem lá seus néctares – porque o mel daquele dia era o afeto, a amizade sincera, como a de Zelito Nunes e João Veiga, uma exemplar relação de amor entre os homens da Veneza Brasileira. Meca Moreno perseguindo as origens árabes da cultura, Alberto Oliveira me fazendo chorar com seu poema ode ao encontro, Haidée Camelo – amiga amada – cantando Gracias A La Vida e lembrando a poesia densa de Violeta Parra. Graças a Vida! Graças às Amizades!
É por essas e outras que Recife me cativa. Pelo carinho pleno de Paulo Carvalho e de Naara Santos, pelos mimos de Xico Bizerra e pela poesia de João Cabral de Melo Neto que parecem correr entre as pontes da cidade, e os sons do violão de Canhoto da Paraíba embalados pelos ventos recifenses. Luiz Berto e Paulo Carvalho me fizeram sentir um poeta entre poetas, e assim continuo a ver as amizades sinceras como o bálsamo destes dias negros de violência e caos. Gracias A La Vida!
Em tempo: foi Recife que acolheu minha poesia - escapando das igrejinhas existentes nesta amada e amarga Filipéia - e meu livro Canção do Fogo – com ilustrações de Clóvis Júnior – já está em fase de confecção na Editora Bagaço, apadrinhado pelo escritor Luiz Berto, de quem todos precisam ler os livros, sobre tudo O Romance da Besta Fubana e Memorial do Novo Mundo.
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A PALAVRA DO EDITOR
1) Na edição de hoje o Jornal da Besta Fubana termina a publicação do texto Viagens com o Presidente, dos jornalistas Eduardo Scolese e Leonencio Nossa, o livro mais vendido dos últimos meses e que já se encontra na quarta edição, mesmo com tão pouco tempo de lançado. Essa gazeta da bixiga lixa, sempre ligada em tudo que acontece ao nosso redor, prestou um relevante serviço aos seus leitores ao transcrever o livro em capítulos ao longo de várias edições, oferecendo um retrato humano e fiel dos bastidores das atividades do Presidente Lula. Juntamente com o livro sobre as andanças do presidente, também publicamos hoje o último capítulo do livro Contra Toda a Esperança, do escritor cubano Armando Valladares, sobre como são tratados os dissidentes políticos na ilha da felicidade e como são as delícias dos cárceres de Fidel.
2) Recebi do leitor Alexandre Gomes um roteiro que achei por bem reproduzir aqui. Trata-se de um verdadeiro “manual de etiquetas” sobre o uso do correio eletrônico. Bem sabemos a dor de cabeça que é receber aquelas mensagens filhas da puta, com anexos e mais anexos, mensagens que vão se desdobrando, quadro a quadro, com vacas voando, passarinhos mugindo, crianças cagando e palavras piegas, além de recomendações inúteis. Algumas mensagens, por puro sadismo ou falta de simancol dos remetentes, ainda chegam acompanhadas de recomendações do tipo “essa é ótima”, “não deixe de repassar”, etc. etc. Putz.... É de doer nos ovos. Tem umas que chegam com um lixo da porra antes de você alcançar o corpo da mensagem propriamente dita. Você fica horas e horas rolando a tela até chegar no texto que, normalmente, é uma tolice. E eu fico rolando a tela e pensando qual a razão pela qual o filho de uma égua que me mandou aquilo não limpou todo aquele basculho antes de clicar no “enviar”. E pra quem é premiado com a quantidade de mensagens que chega no meu computador, por conta da editoração do JBF, receber e ler esse tipo de correspondência é um suplício. Eu falei lá no começo que essas regras que me mandaram são um verdadeiro “manual de etiquetas”, isso porque a primeira coisa que me vem à cabeça quando recebo uma mensagem cheia de sujeira é que o remetente é mal educado. Assim como um sujeito que arrota na frente dos outros ou enfia o dedo no nariz em público. Francamente, se todo mundo seguisse essas regras que vão abaixo transcritas o mundo da internet seria bem melhor ainda do que o que já é. Leiam e concordem comigo:
TREZE DICAS PRA VC USAR BEM SEUS E-MAILS
Regras importantes:
1. Ao encaminhar suas mensagens, encaminhe a mensagem que REALMENTE contém o anexo ou o texto desejado, e não aquela que está em sua "Caixa de Entrada". Fazendo isso, o seu destinatário NÃO terá que abrir 10 anexos antes de chegar ao que realmente interessa. Além disso, aquele montão de endereços eletrônicos pelos quais a mensagem já passou também não aparecerá, para que depois seja "ROUBADO" pelos senhores spammers, que são os chatos que te mandam os e-mails que você não solicitou e não sabe, sequer, de onde vieram. Caso o texto de sua mensagem contenha endereços eletrônicos, apague-os, antes de "re-encaminhar".
2. Quando for mandar uma mensagem para mais de uma pessoa, NÃO ENVIE com o "Para" nem com o "Cc", ENVIE com o "Cco" (Com cópia oculta), que NÃO mostra o endereço eletrônico de nenhum destinatário. A pessoa vai simplesmente recebê-la, mas não saberá quem são os demais destinatários.
3. Retire do título (Assunto) de sua mensagem os "En", "Enc", "Fwd", "Re", Res ", e deixe somente o assunto, porque além de deselegante, essa é uma das formas dos spammers saberem que a mensagem tem muitos endereços ali dando sopa e podem também reparar, que estas mensagens contém, pelo menos, muitos endereços de e-mails diferentes. Quando todos fizermos isso, livraremos a Internet da maioria dos vírus e propagandas indesejadas.
4. NUNCA abra anexos com a extensão exe. Delete-os mesmo que a piada possa ser muito boa (lembre-se que "A curiosidade matou o gato"). Só abra esse arquivo se a pessoa que o mandou for de sua inteira confiança e mesmo assim confirme se essa pessoa realmente te mandou este arquivo.
5. Você NUNCA, mas NUNCA mesmo, deve reenviar qualquer e-mail alertando sobre vírus, antes de primeiro confirmar se um site confiável, de uma companhia real, o tenha identificado. Tente em: < http://www.symantec.com/ ou < http://www.antivirus.com e mesmo assim, pense duas vezes antes de passar adiante. Lembre-se, alguns vírus podem infectar a máquina só depois de serem lidos no Outlook. É mais um terrível terrorismo on-line.
6. Se você estiver realmente pensando em passar adiante aquela mensagem que já está no décimo degrau da pirâmide (ou na décima geração), tenha pelo menos a delicadeza de cortar aqueles 8 quilômetros de cabeçalhos, de todo mundo que a recebeu nos últimos 6 meses. E você também NÃO vai ficar doente se retirar todos os que começam as linhas.
7. Existem mulheres que estão realmente sofrendo no Afeganistão, e as finanças de diversas empresas filantrópicas estão vulneráveis, mas reenviar um e-mail NÃO ajudará esta causa. Se você quiser ajudar, procure seu deputado, a Anistia Internacional ou a Cruz Vermelha. E-mails de "abaixo-assinados'' geralmente são falsos, e nada significam para quem detém o poder de fazer alguma coisa sobre o que está sendo denunciado. São apenas meios dos hackers de obterem endereços eletrônicos.
8. Você NÃO vai morrer nem ter má sorte no amor ou algo semelhante, se arrebentar " uma corrente". Isso não é questão religiosa.
9. Escrever um e-mail ou enviar qualquer coisa pela Internet é tão fácil quanto rabiscar os muros de uma área pública. NÃO acredite automaticamente em tudo. Observe o texto, reflita e analise tudo isto antes de repassar aos seus amigos.
10. Quando receber mensagens pedindo ajuda para alguém, com alguma foto comovente, não repasse apenas "para fazer a sua parte". Pode haver alguém cheio de más intenções por traz desse e-mail. Analise-o. Se houver dados do enfermo/aleijado, consulte pelo telefone; verifique a veracidade das informações. Se o telefone for um celular, mesmo depois de confirmar dados, não creia. Próximo da sua casa, há sempre alguém carente que você poderá ajudar efetivamente, se esta for sua opção de vida, tão digna, porém, explorada por mal-intencionados.
11. Cuidado! Muito cuidado ao repassar mensagens-lista de dados de pessoas, que cada uma vai assinando, colocando seu endereço e telefone real. Podem facilmente ser utilizados por assaltantes, seqüestradores, meliantes, maus elementos, etc. etc.
12. Mas agora SIM, RE-ENVIE esta mensagem a seus amigos e conhecidos, e ajude-os a colocar ORDEM nessa imensa casa chamada Internet. E lembre-se, cada dia chegam milhares de inexperientes na Internet, e quanto mais pudermos difundir estes ensinamentos será de grande valia a todos. Sempre repasse, ao número máximo de pessoas possível, este tipo de informação. Afinal, estes detalhes não se aprendem em escola, mas aqui, através da boa vontade de uns para com os outros e ensinando-os a exercer este direito.
13. E nunca se melindre por alguém estar lhe corrigindo algum destes erros aqui mencionados. Você pode ser apenas mais uma vitima "cheia de boas intenções" e nem seria preciso repetir aquele provérbio: "De boas intenções o inferno está cheio”.
3) No último domingo fui ao Teatro de Santa Isabel pra me encantar com a fantástica demonstração de pernambucanidade representada pelo espetáculo “Capiba – Madeira Que Cupim Não Rói”, em homenagem ao saudoso compositor pernambucano Lourenço da Fonseca Barbosa, o querido Capiba, que brilhou em todos os gêneros musicais, desde a música clássica até o chorinho, passando pelas valsas e sambas-canções, mas que ficou imortalizado pelos frevos e pela paixão ao Recife e ao Carnaval. O espetáculo, dirigido pelo meu amigo Carlos Carvalho, foi conduzido pelo fabuloso Aldemar Paiva, o criador do slogan Pernambuco Você é Meu, e contou com as vozes de Expedito Baracho e Claudianor Germano, além da participação de bailarinos do Balé Popular do Recife e do Balé da Cultura Negra do Recife. Uma noite inesquecível com músicas, histórias e causos do imortal criador de “Maria Betânia” e “Serenata Suburbana”, um homem feito de madeira que cupim não rói.
Papa Berto I abençoando o espaço sagrado onde brilharam Castro Alves e Tobias Barreto
“Madeira Que Cupim Não Rói” – Um espetáculo da bixiga lixa
4) Em qualquer recanto desse pais os motoristas trafegam pela pista da direita e usam a da esquerda apenas para ultrapassagens. Menos aqui em Pernambuco, especialmente no Recife, onde o Código de Trânsito foi invertido e as pessoas transitam com a cara mais lisa desse mundo sempre pela pista da esquerda. Essa foto ai embaixo foi feita a partir do interior do meu carro, quando chegava ao Recife, pela BR-101 Sul, num trecho onde a via é dupla, com duas pistas de um lado e duas pistas do outro. Vejam que está todo mundo trafegando pela esquerda. O único errado sou eu, que estava na pista da direita. Que aqui é usada pra ultrapassagens. E essa marmota se repete também no trânsito dentro da cidade. Alguém poderia me esclarecer a origem desse fenômeno? O uso freqüente, ininterrupto e abusivo da buzina eu já desisti de entender.
5) Existe aqui no Recife um interessante jornal chamado Ribalta, que é editado mensalmente pela diretoria do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado de Pernambuco – SATEC. Trata-se de uma entidade que congrega pessoas engajadas, atuantes, antenadas, modernas e... vocês sabem mais o quê. Leio no número 71, novembro/2006, a nota que abaixo transcrevo:
E fiquei pensando comigo mesmo: que danado de sacanagem está tramando essa porra dessa TV Globo? Como todos nós sabemos, por trás de tudo que a Globo faz está sempre uma intenção escusa, uma patifaria embutida, um interesse inconfessável e uma safadeza contra os interesses do Brasil. Cuidado artistas e pessoas ligadas ao teatro de Pernambuco. Se vocês precisarem de algum esclarecimento, posso indicar pelo menos uns 6 leitores do JBF que são especialistas em desmascarar as safadezes da Globo, tanto da TV quanto do jornal. Nada que vem desse povo presta. Olho vivo.
* * *
DO LIVRO “VIAGENS COM O PRESIDENTE”
(Dos jornalistas Eduardo Scolese e Leonencio Nossa)
A COMPANHEIRADA
Em junho de 2002, a “Carta ao povo brasileiro” foi divulgada pelo PT dias depois de um encontro entre Lula e Fernando Henrique em Brasília, ainda na época da campanha eleitoral.
- Fernando, o que você acha que vai acontecer?
- Você vai ganhar, Lula. Você vai ser meu sucessor.
Em seguida, Lula pediu que o então presidente convencesse os amigos Bill Clinton, Tony Blair e a turma do FMI sobre as intenções petistas de diálogo.
- Faço a minha parte, convenço meus amigos, Lula. Mas você tem de fazer a sua, segurar seus radicais – respondeu o presidente.
Lula voltou a São Paulo disposto a redigir a carta aos amigos de Fernando Henrique. Em outras palavras, colocou no papel justamente aquilo que os banqueiros queriam ouvir. O PT, com direito a um rígido superávit fiscal, manteria a política econômica tucana de Pedro Malan.
O novo presidente cumpriria os termos da carta. Ele aposentaria o personagem barbudo e gorducho que fazia tremer os banqueiros e os latifundiários do país. No governo, porém, houve um momento em que aquele velho petista deu sinais de vida. Por pouco menos de duas horas, é verdade, saiu do coma e falou como se ainda acreditasse em colocar em prática seus antigos discursos.
O fato se dá em Tóquio, no Japão, no final de maio de 2005. Certo dia, pela manhã, o presidente é informado por assessores que, do outro lado do mundo, o Planalto e os partidos da base aliada haviam sido derrotados na tentativa de barrar a criação da CPI Mista dos Correios, que nos meses seguintes promoveria uma devassa no PT e em setores do governo federal.
À noite, após uma maratona de eventos oficiais, Lula segue para um jantar na residência do embaixador brasileiro no Japão. Entre os convidados, há ministros, assessores, diplomatas, deputados e senadores. Cerca de vinte pessoas. Todos brasileiros. Ele chega com uma aparência péssima. Está visivelmente atordoado por conta do clima de tensão política em Brasília. Se tivesse cancelado a viagem à Ásia, avalia que poderia ter atuado diretamente para impedir a criação da CPI.
Para aliviar esse estresse, nada melhor do que uma dose caprichada de uísque com gelo. Antes mesmo do início do jantar, Lula manda servir o segundo, o terceiro e o quarto copos. Visivelmente alterado, o presidente sai por um momento do coma profundo que o ajudou a eleger-se. O “Lulinha paz e amor” dos marqueteiros não está mais ali. Agora, é o petista das antigas.
Com o quarto copo de uísque pela metade, pede a palavra aos presentes e coloca a política externa de seu governo em discussão. Sua primeira reserva de munição é usada contra os vizinhos sul-americanos do Mercosul, a começar pela Argentina.
- Tem hora, meus caros, que eu tenho vontade de mandar o Kirchner para a puta que pariu. É verdade. Eu tenho mesmo – afirma, aos gritos, para desconforto absoluto dos demais à mesa.
Lula está incontrolável e prossegue sua investida a Nestor Kirchner e à Argentina, que havia se posicionado contra a proposta brasileira de ampliação das cadeiras permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
- A verdade é que nós temos de ter saco para aturar a Argentina. Temos de ter muito saco.
O clima se torna de aflição até para assessores do Planalto acostumados com o palavreado do presidente. Os diplomatas não conseguem acreditar naquilo que presenciam. Sem papas na língua, o petista prossegue com um ataque ao uruguaio Jorge Batlle:
- Aquele lá não é uruguaio porra nenhuma. Aquele lá foi criado nos Estados Unidos. É filhote dos americanos.
Definitivamente não há como controlar o presidente. Ele parece disposto a falar tudo aquilo que está entalado em sua garganta desde a conservadora “Carta ao povo brasileiro”. Tudo aquilo parece ser um grande desabafo de um presidente que, ao ser eleito, fez sua primeira viagem internacional à Argentina e se desdobrou em deslocamentos no intuito de aproximar os vizinhos do continente. Uma política de governo que sofreu fortes críticas de setores internos que privilegiavam a atenção nos Estados Unidos e à União Européia e que nunca acreditaram nas relações com interlocutores em situação econômica igual ou pior que a do Brasil.
O auge dessas críticas ocorre em 2006, quando o presidente da Bolívia, Evo Morales, nacionaliza as reservas de gás e ameaça expropriar bens da Petrobrás. Enquanto a imprensa brasileira e a oposição ao Planalto exigem medidas duras e retaliações contra o miserável país vizinho, Lula prega o diálogo e mantém o respeito à Constituição. O parágrafo único do artigo 4º determina: “A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.”
Na seqüência do jantar, Lula coloca o Chile em debate. Lamenta que o país sul-americano tenha optado por privilegiar seu comércio com os Estados Unidos, e não com os colegas do Mercosul:
- O Chile é uma merda. O Chile é uma piada. Eles fazem os acordos lá deles com os americanos. Querem mais é que a gente se foda por aqui. Eles estão cagando para nós.
Ele ainda está sob o efeito do uísque que o mantém fora do estado de consciência. Depois de concluir o tema internacional, parte então para assuntos caseiros. Evita atacar o Congresso e a oposição, pois entre os convidados há deputados e senadores de diferentes partidos. Sobre Fernando Henrique, limita-se a dizer que a política externa dos tucanos ficou aquém do potencial brasileiro. Sobra então para os fazendeiros.
- Tem que acabar com essa porra de fazendeiros que todo ano vem pedir dinheiro ao governo. Esses caras têm que entender que eles sugaram a nação por décadas e mais décadas. Agora é a hora de a gente botar o MST na terra, criar os assentamentos que temos que criar. Eu estou convencido disso. Não tem jeito.
Duas semanas antes, o MST havia concluído uma caminhada com 15 mil pessoas entre Goiânia e Brasília. Desfilaram por horas pela Esplanada dos Ministérios e depois, por meio de uma comissão, foram recebidos pelo presidente no Palácio do Planalto. No jantar, prossegue suas críticas aos produtores rurais.
- E essa bancada ruralista? Tem que banir essa gente. Toda hora é historinha de refinanciamento de dívida pra cá, refinanciamento de dívida pra lá. Esse pessoal que pede renegociação todo ano tem de ser banido. Tem que acabar com isso – conclui o presidente, que, ao longo de sua gestão, sempre buscou confrontar suas ações com os oito anos de tucano e evitar uma autocomparação com o Lula de tempo atrás.
Os vinte convidados ao jantar assistem atônitos à fala de Lula, enquanto militantes de esquerda, sindicalistas, estudantes, sem-terra, integrantes de movimentos sociais e simples eleitores lulistas, se estivessem ali na embaixada, serviriam mais uísque ao presidente para que tal discurso fosse colocado em prática. Provavelmente, ficariam com a sensação de que Lula deveria ter bebido mais, muito mais em seu governo.
À mesa de jantar está um homem que enfrenta o dilema de representar os dois lados do Brasil. Lula dá mostras de que deve atender a um lado em troca da governabilidade, ao mesmo tempo, tenta deixar claro ainda pertencer ao lado dos que exigem igualdade de oportunidade.
No calor da divergência, o feito de tirar três milhões de brasileiros da miséria*, um recorde desde que o assunto começou a ser pesquisado com rigor, é minimizado ou exaltado de acordo com os interesses políticos.
Na embaixada do Brasil no Japão, o ritmo da bebedeira e o efeito alcoólico de Lula diminuem ao longo da conversa e do jantar. Com isso, na hora da sobremesa e do cafezinho, o presidente retorna ao seu estado de coma profundo, ao menos em relação à imagem vendida nos anos de 1980 e 1990. É de novo o “Lulinha paz e amor” da “Carta ao povo brasileiro”.
*A pesquisa “Miséria em queda”, da Fundação Getúlio Vargas, mostra que em 2004 a taxa de brasileiros na faixa de extrema pobreza caiu 8 por cento em comparação com o ano anterior. Foi o mais baixo patamar desde 1992, quando foi lançada a nova Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, que considera miserável a pessoa que não pode ingerir 2.288 calorias por dia, nível recomendado pela Organização Mundial de Saúde
FIM
* * *
UM POEMA DE RICARDO ANÍSIO
ricardoanisio@jornalonorte.com.br
Divino
(Para Roberta Maria)
Tu, o que das trevas saltaste para ser tocha
E que dentro de mim acampaste feito facho
O que de tão farto se imanta e desfalece
Porém que de tão humilde se agasalha
O que descerraste cárceres de tão puro
E que do pó metálico fizeste a lira
Que inebriado de ruído criaste o pássaro
Mesmo assim a peso d’ouro a mim voaste
Tu, o que tremulas nos lençóis de nuvens
E que nas asas do condor levaste a rama
O que dás às urbes o odor de pólvora
Mas ofertaste ao campônio a aurora eterna
O que ameigas mares de tão terno
E que do aço da espada obraste o gel
Que cortinado de estrelas viste o caos
Porém da chaga funda lambeste o salobro
Tu, o que não contrais tempestades
E que de tão forte castiças as orquídeas
O que revelas tudo sem descerrar almas
E que de tão celestial regeste Terra e Céu
O que me deste a febre do martírio
O que empírico te abraçaste com a falta
O que sobraste quando a fome era tanta
O que faltaste quando a dor era farta
Altíssimo tu que beijaste os grãos de areia
Cujo estandarte usaste como sudário
Tu, o que me deste o labor dos beijos
Tu que me negaste o suplício da cruz
O que voaste como condor sobre a lua
Tu que embriagaste de sol todos os breus
Tu que da tertúlia castigaste os sem lume
Tu que cativaste, tu que foste o enigma
Tu que cantaste os épicos versos brancos
Que dos fardos de algodão tiraste leite
Tu que deste mel aos que amargavam
Tu que da palma da mão criaste os silos
* * *
EPÍSTOLAS DO CARDEAL
DOM CARLITO LIMA DIRETAMENTE DE MACEIÓ
A MENINA DA JANELA
Josemar morou a vida toda no bairro do Tabuleiro do Pinto, perto do aeroporto, aonde nasceu. Quando os filhos cresceram pressionaram o pai a se mudar para orla.
Devido aos tempos modernos, aos apelos dos filhos, à comodidade da família, finalmente Josemar comprou um apartamento na Ponta Verde, perto da praia. Para família foi uma alegria, para ele um sacrifício. Trocou uma casa confortável de 400 m² , enorme jardim de muitas rosas, orquídeas penduradas em frondosa mangueira, por um apartamento de três quartos, 110 m² . Mas a família acima de tudo. O casal ficou com uma suíte, a outra os dois filhos ocuparam e um quarto foi transformado em gabinete. Colocou um computador para se distrair, escrever. Agora, aposentado do Banco do Brasil, onde trabalhou mais de 30 anos, é hora de desfrutar a merecida boa vida. A idéia é passar um ano de pernas pro ar, depois pensar em alguma ocupação.
Pela manhã caminha na orla, encontra amigos, fica a bater papo até às 9:00, hora de tomar um bom café e ler jornais. Retorna à praia às 11:00, se reúne com companheiros para falar do mundo e ficar olhando as saias de quem vive pelas praias coloridas pelo sol. Preenche as tardes no shopping, cinemas, livraria; gosta de ler. Só depois do Jornal Nacional, Josemar se recolhe ao escritório, liga o ar condicionado, entra no computador para pesquisar, ler jornais, enviar e-mails para amigos e escrever. Já plantou várias árvores, tem dois filhos, agora cismou em escrever um livro narrando passagens de sua vida. De sua cadeira em frente à bancada do computador, tem uma ampla visão sobre as janelas dos apartamentos do prédio vizinho. Às vezes ele desliga a luz, para apreciar melhor o panorama. Aprendeu quando serviu ao Exército: observar é ver sem ser visto.
No apartamento em frente uma menina que mora com o pai, chega da Faculdade por volta das 23 horas, ele fica mais ligado, enquanto sua querida Helena, a esposa, dorme no terceiro sono. A moça é um encanto: estatura baixa, cabelos louros escorridos até o ombro, nariz um pouco achatado, lábios finos. Seu corpo é um monumento, seios duros, pontiagudos, cintura fina. A bunda é delirantemente bem torneada e protuberante. Ela não percebeu que o espelho da porta do guarda-roupa reflete todos os movimentos no quarto.
Assim que chega, tira a roupa, se enrola numa toalha e vai para o banho noturno antes de dormir. A cena mais emocionante é ao chegar molhadinha do banho, abre a toalha, nuínha como Deus a fez, veste uma minúscula calcinha, moldando e mostrando a deslumbrante bunda. Coloca um babydoll bem curto antes de deitar. Josemar fica num excitamento de menino. Muitas vezes depois dessa cena muda, ele vai ao quarto, acorda sua amada Helena. O sacana transa pensando na menina da janela.
Ele investigou: o pai é veterinário, trabalha para um fazendeiro perto de Palmeira dos Índios. Só vem para a capital nos fins de semana.
Certo dia, ao cair da tarde, Josemar pegou o carro para ir às compras. Ao longe, no ponto de ônibus, reconheceu a menina em pé, com os livros abraçados ao peito, esperando a condução. Ao cruzar os olhos, ela sorriu, Josemar freou o carro no reflexo. Perguntou sinalizando com o indicador se ela ia à cidade. A moça não se fez de rogada, entrou no carro. Como uma princesa sentou-se ao lado, a mini saia mostrava suas pernas maravilhosas. Deu boa noite, disse que ia para a Faculdade do CESMAC no Farol. Josemar mentiu: também ia para o Farol. Foram conversando amenidades, mas o coração do jovem coroa estava disparado feito um menino. Afinal chegaram no CESMAC.
Naquela noite Josemar ficou esperando ansioso a chegada de sua musa da janela. Compensou a espera, a menina ao chegar, tirou a roupa bem devagar, coisa que nem uma strip profissional faz com tanta sensualidade. Mais tarde sobrou para Helena.
No outro dia, à mesma hora, Josemar passou com o carro e frustrou-se. Dois dias depois, se emocionou quando a viu no ponto de ônibus. Freou o carro, ela entrou mais bonita que nunca. Vilma, assim se chama, 19 anos, faz Direito no CESMAC, é mulher prática, pragmática, perdeu a mãe cedo, vive com o pai, um sacrificado, explorado pelo patrão, levam uma vida de parcimônia. Em certo momento ela foi direta, sorrindo para Josemar:
- Eu acho que você está me paquerando. Diga aí. Não é? Pensa que não percebo você toda noite na janela me olhando. Faço aquela cena de propósito. Tenho esse defeito, adoro que os homens me olhem.
Josemar estremeceu de alegria. Virou o rosto, encarou-a com largo sorriso.
- Mas menina, você é danadinha hein?
- Danadinha ou danadona sei quem é você, casado e aposentado. Sou muito direta. Vou lhe fazer uma proposta indecente: transo com você, e você paga minha faculdade. Que tal? Pense. Estamos chegando, me pegue aqui mais tarde. Às 10 horas, depois de minha última aula. Estou lhe esperando nessa esquina.
Josemar, emocionado, parou o carro. Ela desceu, acenou com os dedos sem olhar para trás.
O difícil foi arranjar uma desculpa para sair de casa às 10 daquela noite. Antes da nove horas ele arriscou:
- Helena, está passando um filmaço no cinema de arte. Topa?
Ficou esperando a resposta. Quando ela disse estar sem vontade, ele quase dava uma gargalhada de felicidade. Perguntou se incomodava de ele ir sozinho.
Quando deu 10 da noite Vilma se aproximou do local, ele já estava plantado. No VIPS motel quase teve um infarto quando saiu do banheiro ao deparar com a menina nua, deitada na cama, chamando-o para o amor.
O aposentado Josemar aumentou sua despesa no orçamento. Mas, feliz da vida, espera as tardes das quartas-feiras para ter sua musa nos braços. E toda a noite não se cansa em vê-la, fica observando, ao longe, a menina da janela.
ATENÇÃO A ESPIA 83
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UM POEMA DE CRUZ E SOUSA
Caminho da Glória
Este caminho é cor-de-rosa e é de ouro, Estranhos roseirais nele florescem, Folhas augustas, nobres reverdecem De acanto, mirto e sempiterno louro.
Neste caminho encontra-se o tesouro Pelo qual tantas almas estremecem; É por aqui que tantas almas descem Ao divino e fremente sorvedouro.
É por aqui que passam meditando, Que cruzam, descem, trêmulos, sonhando, Neste celeste, límpido caminho.
Os seres virginais que vêm da Terra Ensangüentados da tremenda guerra, Embebedados do sinistro vinho...
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A COLUNA DE GOIANO BRAGA HORTA
PROTESTO CONTRA OS AUMENTOS
Há alguns anos atrás, o brasileiro era freqüentemente atormentado por aumentos os mais diversos. Dos que mais ocorriam era o aumento do pão, que acontecia uma, duas e até três vezes ao mês. A situação tornou-se tão absurda que em um ano ocorreram mais de quinze aumentos do pão, o que acabou tornando quase inviável levar pão para casa.
Esse assunto vem à tona agora, porque recentemente vi a notícia de que estava para ocorrer um aumento do pão.
É de se esperar que a tendência antiga não volte a acontecer.
Um ou outro aumento do pão é suportável, mas aumentos constantes tornam o próprio transporte incômodo.
Felizmente, o aumento anunciado ainda não aconteceu.
Pelo menos foi a informação que recebi do atendente da padaria que freqüento. Quando perguntei a ele se era verdade que o pão tinha aumentado, sua resposta foi categórica: - Não! O pão continua do mesmo tamanho!
Ainda bem. Vejam só, um pãozinho, desses conhecidos como pão francês, chega hoje a medir vinte centímetros. Se houver aumentos freqüentes do pão, dependendo da porcentagem de aumento, um pão francês pode chegar a medir, em pouco tempo, mais de um metro!
E se a moda pega e começam a aumentar outros produtos, como o macarrão, por exemplo? Se resolvem aumentar o sonho, aquele de padaria, que já é grande? Viraria um pesadelo.
Esperamos que o Jornal da Besta Fubana, que é um órgão de grande penetração nos leitores, entre de sola contra os aumentos do pão e de outros produtos, para evitar coisas grotescas, como estarmos carregando pães enormes ou arrastando imensos pacotes de macarrão pelas ruas, lembrando que nem Jesus aumentou os pães, apenas os multiplicou, mantendo-os no tamanho original, justamente para evitar tais ridículos.
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DEU NA INTERNET
“A seleção de Bernardinho é bicampeã mundial, entre outras qualidades, porque não teve nenhum jogador amarrando o tênis em momento decisivo. Nem jogador acima do peso, escalado pela fama. Ou pelo patrocinador.”
(Nem atleta raparigando com quengas modelos)
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PROGRAMA LEITURAS – MAURÍCIO MELO JÚNIOR – TV SENADO
LITERATURA E INTERNET NO LEITURAS COM LIMA TRINDADE
O escritor Lima Trindade é um militante da literatura em tempo integral. Enquanto trabalha sua prosa de ficção, faz um mestrado sobre os escritores João Silvério Trevisan, Reinaldo Arenas e David Leavitt e edita a revista eletrônica Verbo 21, dedicada à criação e à reflexão literárias. Toda esta lida serviu de mote para a conversa com o jornalista Maurício Melo Júnior no programa Leituras, da TV Senado.
Recentemente o escritor fez o duplo lançamento da novela Supermercado da Solidão (LGE) e do livro de contos Todo o Sol Mais o Espírito Santo (Ateliê). Nos livros demonstra uma prosa amadurecida pelo sol das novas vertentes literárias. Em outras palavras, uma prosa urgente e rápida, mas profundamente marcada pelas angústias atuais.
Como editor Lima trabalha de maneira mais aberta e democrática ao elaborar a Verbo 21. A revista abriga todos os gêneros e vertentes. Sua preocupação maior é com a qualidade dos textos. Tenta, assim, valorizar a literatura, para ele ainda um instrumento de transformação humana.
Dica de Leituras No programa serão comentados os livros Ninguém é Inocente em São Paulo, Ferréz (Objetiva) e O Grito dos Mudos, Henrique Schneider (Bertrand Brasil).
Horários Sábados (09:30 e 20:00) e domingos (08:00 e 20:30), além de horários alternativos.
Próximos programas
Data Entrevistado Dica de leituras. 16/12 Ruy Fabiano O Desastronauta, Flávio Moreira da Costa e Melhores Contos, Edla van Steen. 23/12 Charles Kiefer Por Que Sou Gorda, Mamãe?, Cíntia Moscovich e A Altura e a Largura do Nada, Ignácio de Loyola Brandão. 30/12 Luiz de Miranda A Cegueira e o Saber, Affonso Romano de Sant’Anna e O Nariz do Morto, Antonio Carlos Vilaça. 06/01 Reynaldo Jardim
Correspondências: Maurício Melo Júnior SQSW 504 Bloco B Ap. 107 Brasília DF CEP: 70.673-504 E-mail: mmelo@senado.gov.br.
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DEU NA INTERNET
“O presidente Lula contou lorota, ontem: no dia 1º quer “uma posse sóbria, mas com participação popular”. Com povo, tudo bem, mas, “sóbria”?...
(Realmente, uma posse sóbria contraria tudo que a Igreja Sertaneja prega. E que o presidente gosta)
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O AMIGO DA ONÇA
(O Cruzeiro – 15/10/1960)
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HISTÓRIAS DO BERADEIRO ZELITO
PEDRO CELESTINO BATISTA
(PEDRO BIQUARA)
Boêmio, poeta humorista e amigo terminal, é o mínimo que se pode dizer desse matuto nascido em Boi velho, e que tal qual o personagem Buendía do romance "Cem Anos de Solidão" de Gabriel Garcia Marques, fez na vida de tudo um pouco e nada de material lhe restou.
Morreu pobre e cercado pelos muitos amigos que fez ao longo de uma existência onde foi agricultor, comerciante (representante comercial- representava o foto Odeon, que fazia ampliações fotográficas ) tendo sido a atividade mais duradoura a de cambista.
Pedro era amigo dos cantadores, promovia cantorias e lhes dava abrigo dentro dos limites da sua pobreza, era um verdadeiro mecenas. Como as cantorias aconteciam sem à noite e varavam as madrugadas, era muito comum vê-lo dormindo durante o dia, sobre a "banca de bicho".
Contam que um dia num beco de São José, ele foi acordado por uma mulher muito feia que foi logo lhe perguntando:
— Meu senhor, é aqui que passa bicho?
Ao que de imediato respondeu:
— É não minha senhora, mas pode passar!
• • •
Outra ocasião, uma velhinha chegou na banca e lhe consultou:
— Seu Pedro, eu sonhei essa noite, que a minha casa estava pegando fogo, o que é que eu jogo?
E Pedro sem pestanejar:
— Jogue água minha senhora!
• • •
Bem perto de morrer sofrendo de barriga d'água, na cidade de Monteiro, o poeta Zé de Cazuza foi à sua casa e encontrando na sala a sua esposa perguntou-lhe:
— Como está indo Pedro?
Ela respondeu:
— Vai bem não Zé, ainda ontem o médico tirou sete litros de água da barriga dele!
Pedro, deitado numa cama ali junto chamou Zé:
— Pra você ver meu amigo, naquela seca de trinta e dois eu quase morro de sede, agora estou com uma cacimba dentro do bucho!
(Do livro “Histórias de Beradeiro”, de Zelito Nunes - zelitonunes@gmail.com)
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ASSOCIAÇÃO DOS FILHOS E AMIGOS DE SERTÂNIA
Fundada em 04.11.1994 CNPJ 00750861/0001-97
A AFASER – Associação dos Filhos e amigos de Sertânia está lançando um CD CARNAVAL DE SERTÂNIA com músicas de compositores sertanienses. Visando registrar e divulgar, principalmente entre a nova geração, músicas interpretadas nos grandes bailes carnavalescos, do América Esporte Clube de Sertânia, pela Orquestra Marajoara sob a regência do maestro Francisco Dias Araújo (Francisquinho), e hinos dos blocos que fazem o carnaval de rua e na sua grande maioria nunca foram gravados. O primeiro disco conterá as seguintes composições:
1. Hino de Sertânia (em ritmo de frevo)
Compositores: Waldemar Cordeiro/ Nelson Ferreira
Intérprete: Cristina Amaral
2. Batalha de Confete
Compositor: Francisquinho
3. Hino do Bloco da AFASER (Princesinha do Moxotó)
Compositor: Anacleto Carvalho
Intérprete: César Amaral
4. Linda Colombina
Compositor: Anacleto Carvalho
Intérprete: Hugo Araújo
5. Capiba Imortal
Compositor: Anacleto Carvalho
Intérprete: César Amaral
6. Hino do Bloco AGÀ
Compositores: Waldemar Cordeiro/ Francisquinho
Intérprete: Hugo Araújo
7. Você
Compositor: Jairo Araújo
Intérprete: Expedito Baracho
8. De Recife a Sertânia
Compositor: Reginaldo Siqueira
9. Recordações
Compositores: Jairo Araújo/ Hugo Araújo
Intérprete: Hugo Araújo
10. Divagando
Compositor: Anacleto Carvalho
Intérprete: César Amaral
11. O Carnaval do ano que passou
Compositor: Hugo Araújo
Intérprete: Hugo Araújo
12. Hino do Bloco TAÌ
Compositores: Waldemar Cordeiro/ Francisquinho
Intérprete: César Amaral
13. Recife dos meus amores
Compositores: Francisquinho/ João Ismar
Intérprete: Hugo Araújo
14. Relembrando Francisquinho
Compositor: Reginaldo Siqueira
Ficha Técnica:
Arranjos: Edson Rodrigues
Saxofone: Edson Rodrigues
Trompete: Augusto França
Trombone: Miguel França
Teclados: Fábio Valois
Técnico de Gravação: Fábio Valois
Design Capa: Oscar Venegas
Telefone: 81. 92251089 – e-mail: afaser@oi.com.br
Diretoria da AFASER
Presidente: Alexandre Lins
Vice: José Hélio
Dir. Financeiro: Luciano Teixeira
Dir. Social: Gilson Araújo
Reginaldo Siqueira
Dir. Cultura: Eliane Teixeira
Marconi Lafayette
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DEU NO JORNAL
Chile já discute o funeral de Pinochet
“Presidente Bachelet não quer dar ao ex-ditador, internado em estado grave, funerais de Estado com luto de três dias. Solução por enquanto seria uma cerimônia do Exército; boletim médico indica que risco de morte do general diminuiu, mas ainda existe.”
(Já em Cuba, Fidel baixou decreto adiando a própria desencarnação para uma época mais propícia, de tal modo que seus funerais aconteçam quando não houver mais nenhum outro acontecimento relevante no resto do mundo, a fim de que o enterro seja manchete principal em todas as publicações do planeta)
* * *
UM TEXTO DE VANESSA BARBARA
Aí é luta, patuléia!
Uma desavença fonética opõe a jovem guarda aos palindromistas tradicionais – seria “Acena, Vanessa!” aceitável?
Há uma frase em latim que cura mordida de cobra e facilita o parto. É “Sator Arepo Tenet Opera Rotas” (o semeador Arepo mantém o curso com atenção), que ao ser lida da direita para a esquerda é literalmente igual. Ou seja, é um palíndromo. Segundo Otto Lara Resende, uma senhora mineira escrevia cada palavra dessa oração num pedaço de papel, enfiava num bentinho e amarrava no pescoço dos doentes, dizendo que, para coqueluche e asma, era tiro e queda. A frase é considerada o palíndromo mais antigo do mundo, e além disso, se as palavras forem dispostas em pilha, uma embaixo da outra, o sentido é preservado em todas as direções. Há inúmeras traduções possíveis, como “Deus, Criador, mantém com cuidado o mundo em sua rota”, mas ninguém sabe ao certo o que ela quer dizer. O escritor pernambucano Osman Lins baseou seu romance Avalovara nessas cinco palavrinhas enigmáticas.
Existem palíndromos atribuídos ao demônio. Alguns trazem azar. O gramático Napoleão Mendes de Almeida, autor de Questões vernáculas, diz que uma das provas de soberania entre os incas era que seus reis tinham nomes palindrômicos, como Capac. Na década de 70, um casal de Ohio, nos Estados Unidos, batizou seus filhos como Noel Leon, Lledo Odell, Lura Arul, Loneya Ayenol, Norwood Doowron, Lebanna Annabel e Leah Hael. A certa altura, alguém criou a palavra “aibofobia” para designar o medo mórbido e irracional de palíndromos. O termo não tem raiz grega ou latina, mas funciona de trás pra frente.
Junto a restos de churrasco, em uma mesa na calçada, um rapaz de camiseta amarela olha intrigado para a palavra “gnus” escrita em um papel. Ao lado dele, outro jovem rabisca nomes de ditadores numa folha: Hitler, Stálin, Mussolini. De repente, Paulo Werneck descobre que “a gnus” ao contrário dá “sunga”, e se põe a construir uma frase. Chico Mattoso desiste dos totalitários e passa para a palavra “pires”. Naquela tarde de outubro, na mesa de uma churrascaria em Santa Cecília, na região central de São Paulo, a jovem guarda palindrômica trabalha com afinco. Há quem diga que estamos vivendo os tempos áureos dos palíndromos. Nunca se produziu tanto desde um certo período na década de 90, quando um palindromista veterano sofreu um acidente de automóvel e passou três meses de cama, ditando frases invertidas para a esposa.
.Por fim, uma garota sentada na outra ponta da mesa quebra o silêncio e mostra um palíndromo: “… E amamos só mamãe…”, na linha terno-familiar. Aos 25 anos, a moça de vestido longo, cabelos castanhos e voz suave é um dos grandes nomes da jovem guarda de palindromistas. O garçom vai buscar mais cerveja. Marina Wisnik diz que o segredo é não teimar por muito tempo. Se em quinze minutos não deu palíndromo, é melhor desistir e tentar outra palavra.
Representante da velha guarda palindômica, Rômulo Marinho, 74 anos, concorda com Marina: o importante é seguir tentando. Rômulo se intitula rei do palíndromo. Nascido em Guaçuí, no Espírito Santo, o advogado aposentado já compôs mais de 2002 frases. São de sua autoria expressões como “A droga do dote é todo da gorda”, “O rio é de oiro”, “Seco de raiva, coloco no colo caviar e doces” e “E até o papa poeta é” (nos palíndromos, acentos não são levados em conta), além de um poema de 123 letras chamado “Palíndromo do amor total”. Em 1998, publicou o livro Tucano na CUT?, com 202 frases. “Quase todo dia, vendo televisão, faço um palíndromo”, diz ele, “mas já não os anoto mais.” Nos três meses em que ficou de cama, ditando frases para a esposa, chegou a produzir cinco por dia.
Rômulo nasceu em 1932. Demorou mais de sessenta anos para fazer seu primeiro versus cancrinus (em latim: aquele que se comporta como caranguejo). Ele conta que, desde a infância, tinha a mania de ler palavras ao contrário, esperando encontrar algum sentido. Foi quando descobriu os bustrofédons, ou parapalíndromos, palavras que, lidas da direita para a esquerda, formam vocábulos diversos, como amor (Roma), após (sopa), assim (missa) e ar (rã). Pode-se dizer que o bustrofédon é um ponto de partida para o palíndromo. Mesmo assim, Marinho não parou por aí: continuou sem saber que existiam sentenças inteiras em espelho, embora já conhecesse a famosa frase “Roma me tem amor”. Aos 25 anos, tornou-se telegrafista, mais tarde engajou-se na militância sindical e política, foi eleito deputado federal e exerceu inúmeros cargos públicos. Aos 40 anos, formou-se em direito e, aos 59, ganhou o posto de juiz classista em Taguatinga, nos arredores de Brasília. A essa altura, um cardiologista obrigou-o a fazer longas caminhadas matinais. “Para esquecer a distância e o tempo, tentei fazer palíndromos”, lembra. “Passaram-se meses, até que um dia nasceu o primeiro: ‘A base do teto desaba’.” A vantagem desse hábito foi que Rômulo Marinho nunca precisou de papel para criar suas frases.
O palíndromo é uma arte sem planejamento, ou, nas palavras de Millôr Fernandes, uma arte neurótica e maravilhosa, capaz de envergonhar qualquer concretismo. Para começar uma frase (ou terminá-la, no caso), não se deve ter um tema prévio, ou uma intenção a comunicar. “Pegue uma palavra na qual duas consoantes não se encontrem e coloque no meio de uma frase imaginária”, ensina Marinho. “A partir daí, da esquerda para a direita ou vice-versa, vá construindo seu palíndromo.” É a abordagem centrista, utilizada pela maioria dos criadores de palíndromos, em que a frase vai abrindo para as pontas até ganhar sentido. Devem-se evitar advérbios terminados em ente, gerúndios e tritongos, além de letras mudas e a palavra “Volkswagen”.
Apesar da limitação imposta pelo método, os palíndromos não são necessariamente aleatórios e desprovidos de sentido. Rômulo Marinho os divide em “explicitus”, “interpretabiles” e “insensatus”, sendo que os insensatus cuidam apenas de juntar letras ou palavras sem se preocupar com o sentido, como: “Olé! Maracujá, caju, caramelo.” Os interpretabiles têm coerência, mas requerem esforço intelectual do leitor para entendêlos: “A Rita, sobre vovô, verbos atira.” Já os explicitus, mais valiosos, trazem sempre uma mensagem direta, clara e inteligível, como : “A diva em Argel alegra-me a vida.” Marinho se empenha para que os seus tenham significado óbvio. De fato, poucos dos seus versos exigem do leitor um esforço de interpretação. Além disso, segundo ele, “à exceção de certos palindromistas americanos, que vivem em permanente excitação atrás do recorde palindrômico, desprezando, na maioria das vezes, o nexo, todos os palíndromos que se cristalizaram são perfeitamente inteligíveis”. Em português, o mais famoso deve ser “Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos”, de autoria anônima.
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UMA PAISAGEM DE DEMÓCRITO BORGES
(15)
(Os leitores interessados na obra de Demócrito poderão fazer contato através do telefone (81) 3491-1382)
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UM POEMA DE BOCAGE
Já Bocage não sou! . . . À cova escura
Já Bocage não sou! . . . À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento . . .
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.
Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa! . . . Tivera algum merecimento,
Se um raio de razão seguisse, pura!
Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:
"Outro aretino fui . . . A santidade
Manchei . . . Oh!, se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na Eternidade!"
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UM POEMA DE HAIDÉE FONSECA
I
Irah canta
Irah canta
E o mal que, porventura, haja
Em volta se atrofia
Irah canta
E a voz passarinheira
Vem e anuncia
Que a dor lá fora
É só um faz-de-conta
Que quando Irah canta
Doce se alfiniza
Na saliva doce
Dessa voz mineira
Irah canta
E a gente de repente
Acredita sim
Que a paz existe
E é assim, assim
De se pegar com a mão
Irah canta
E a gente pressente
Que a vida volta
A acertar o prumo
Saindo do rumo
Que ia em contramão
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A PROPÓSITO
MARCELO ALCOFORADO
O vendedor
A Carta ao leitor da Veja desta semana, trata do discurso do presidente Luiz Inácio da Silva, proferido quando de solenidade na Confederação Nacional da Indústria, ocorrida semana passada. Cinco itens da fala foram destacados pela revista, todos sobejamente significativos: Não terei medo de vetar qualquer lei que coloque em risco a seriedade da economia brasileira e sua sustentabilidade; Não vamos (o governo) gastar mais do que recebemos; Não vou permitir que o vandalismo econômico volte a tomar conta do país; Não me venham dizer para mudar a Lei de Responsabilidade Fiscal. Nem discuto isso; e, principalmente, Não vendo ilusões.
É bom constatar que o tempo, ao mudar as pessoas, não só lhes acrescenta rugas.
Antes, alvo de objurgatórias, a Lei de Responsabilidade Fiscal é, hoje, reconhecida por quem a atacou, como fundamental para a boa conduta econômica dos governantes.
Defesa tão veemente sugere, até, que, dado a reinvenções e useiro na tentativa de reeditar a prática stalinista de elidir da fotografia figuras de ontem, não tarde a chegada do dia em que a lavra da tal lei passe a ser petista.
O vandalismo econômico, por seu turno, há bom tempo não se vê no país, salvo se o governo assestar suas lentes em busca de um passado próximo, no qual, certamente, enxergará aliados hoje insuprimíveis do desenho de governo que se configura.
Por fim, uma fala em especial prende a atenção: Não vendo ilusões, afirmou o senhor Luiz Inácio da Silva.
Ora, com todo o respeito que impõe a alta magistratura do cargo de presidente da República, pode-se afirmar que vende, sim. Afinal, para ficar apenas em ponto, há quatro anos é prometido um “espetáculo do crescimento” que, na realidade, até agora, não começou.
Não começou, mas a platéia não dá sinais de desapontamento.
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Sopa de letras
Um dos sonhos brasileiros é liderar um bloco de países emergentes para emular os atuais donos do comércio internacional. É a mudança da geografia comercial do planeta tão acalentada pelo governo. De fato, deve ser fascinante ver, por exemplo, a África importando mais produtos brasileiros que os Estados Unidos ou a União Européia, embora ainda não se saiba quando e como tal poderá vir a acontecer.
Ocorre que a liderança almejada tem um custo, que se torna cada vez mais alto. Tão alto, que os países considerados pelo Brasil como aliados estratégicos são, de fato, concorrentes implacáveis e, sobretudo, fortíssimos. É com esses concorrentes que o Brasil contempla o BRIC – junção das letras iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China, sob a liderança, é óbvio, do presidente Luiz Inácio da Silva.
Pergunta-se, então: como deixar a liderança a cargo do Brasil, se dos quatro parceiros somos o país que apresenta o pior desempenho econômico?
A Rússia, esboça-se a certeza, está prestes a reingressar no clube das grandes potências. A Índia, por seu turno, é um gigante que cresce aos saltos, e a China se desenvolve a vertiginosos 11% ao ano. Enquanto isso, o Brasil continua a crescer a taxas haitianas e, mais uma vez, será o penúltimo da fila de um grupo de dezoito países que tiveram o desenvolvimento analisado pelo FMI para este ano. Não seria o caso, então, de ser criada uma nova sigla? Em vez de BRIC, que tal CIRB? Mesmo assim, haveria mais um problema: de 2001 a 2005, os quatro países — China, Índia, Rússia e Brasil —, juntos, cresceram 6,1% ao ano, mas sem o Brasil teriam crescido 7,3%, concluindo-se que nosso país puxa o grupo para baixo.
Ora, se eles não mais quiserem a nossa companhia, é possível formar um bloco mais homogêneo, reunindo Brasil, África e Haiti. Formaremos o BAH.
Bah!
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A ARTE DE BEZERRA NETO
"Na cabeça uma frô"
Maria Bonita e Lampião, fotografados pelo comerciante Benjamin Abraão (1936), que obteve uma carta de recomendação do Padre Cícero. Com esta, conseguiu chegar ao bando e documentar em filme Lampião e a vida no cangaço. Lampião pousa, lendo tranqüilamente o jornal A Notícia onde as suas façanhas tomavam a primeira páginas e outras internas. Enquanto isso, Maria Bonita destrai-se brincando com os cachorros ligeiro e guaraní.Por essa época, a presença de mulheres no cangaço já era novidade. Com a chegada de Maria Bonita, outros cangaceiros reivindicaram o mesmo direito que o chefe, seguindo seu exemplo. Quadro: 90cm de altura por 65cm de largura.
http://www.bezeneto.ubbi.com.br/
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REPENTES, MOTES E GLOSAS
Grandes Nomes, Grandes Improvisos
JOSÉ VICENTE
Só o presente me diz tudo que fiz no passado, caminho certo ou errado, nas caminhadas que fiz, só mesmo o destino quis modificar minha mente, o corpo velho e doente mantém as rugas da cara. A saudade não separa o passado do presente.
JOSÉ ALVES DE MIRA-FLOR
Disse assim o tentador com Jesus na solidão: converte pedras em pão, tentando a Nosso Senhor, o Divino Salvador, com frases que não se somem, mostrou que os justos não comem, repelindo o anjo audaz; retira-te satanás, Nem só de pão vive o homem.
MANOEL DODÔ
Na profissão de carreiro, eu faço tudo e não deixo, compro sebo ensebo o eixo, a canga e o tamoeiro, sete palmos de fueiro medidos na minha mão, uma vara de ferrão, dois canzis de mororó: carro de boi e forró faz eu gostar do sertão.
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COLUNA DE ALLAN SALES - 0 MENESTREL DO CARIRI
GENTE AMIGA.
CONVIDO TODO MUNDO PRA CONVIVER CONOSCO NO SÁBADO À TARDE, A PARTIR DAS 13h, NO BOX SERTANEJO DO MERCADO DA MADALENA. LÁ ESTAREMOS AO VIOLÃO, CANTANDO NOSSA MÚSICA E DECLAMANDO NOSSA POESIA.ABRINDO ESPAÇO AOS QUE DESEJAREM BRINDAR A TODOS COM SUA ARTE.
SEJAM BEM VINDOS(AS)!
Cordas e Cordéis
Variedades poéticas e musicais: O melhor da MPB, música nordestina, literatura de cordel,música instrumental, paródias e canções satíricas.
Contato para apresentações: 81- 3339 5251/ 8845 9991 - allancariri@ig.com.br
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PÉROLAS DO VESTIBULAR
Na América Central há países como a República do Minicana.
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UM TEXTO DE ANTONIA PELLEGRINO
O PRÍNCIPE DE COPACABANA
Como falir sem perder a elegância
Aos 57 anos, Diduzinho Souza Campos tem todos os motivos para ser casmurro, ressentido e rabugento, mas não é. O enfant gâté dos anos 70, que só fazia a barba no Country Club e achou ruim quando se mudou da mansão de cinco andares, em Copacabana, onde vivera 25 anos, para um apartamento debruçado sobre o mar de Ipanema, hoje mora num modesto imóvel de 85 metros quadrados no Corte do Cantagalo. Nenhum bacana mora por ali. Filho único dos jet setters Didu e Tereza Souza Campos, Diduzinho não reclama: “O espaço é pequeno, mas é só abrir a janela que se tem a sensação de amplitude”.
Não que Diduzinho aprecie a vista. Faz 24 anos que seus olhos deixaram de funcionar. Tudo lhe parece completamente desfocado, mesmo com a ajuda de dois óculos, um para longe e outro para perto, ambos fundo de garrafa. “Nem sei o meu grau. Só sei que disso não passa, é o maior que se pode ter. Minha visão piorou com a idade, os óculos não podem acompanhar.” Aos olhos de Diduzinho, as pessoas não envelhecem, tudo é colorido, as luzes resplandecem, as cores brancas brilham como fogos de artifício. “O espetáculo dos fogos no final do ano, eu vejo melhor que todo mundo”, se gaba. A audição tornou-se uma terceira bengala. Certas atividades, como passar a chave na fechadura ou usar o controle remoto, são feitas apenas com o tato. “Tive que reaprender tudo, até a andar”, ele diz, caminhando vagarosamente por Copacabana, o braço esquerdo apoiado na acompanhante, uma bengala de galho de goiabeira na mão direita. Passa uma loira, Diduzinho olha. E pergunta: “É bonita?”.
Diduzinho tinha olho vivo para loiras, ruivas e morenas. Até a noite de 22 de setembro de 1982. Virado já fazia três dias, foi jantar no restaurante Fiorentina e esticou na boate Hippopotamus. De lá, seguiu para casa e, na curva do Calombo, na Lagoa, seu Passat derrapou. Diduzinho foi cuspido através do vidro. “Quando cheguei no pronto-socorro, meu rosto parecia uma rosa”, lembra. Daí seguiram-se quatro meses entre a Clínica São Vicente e tratamentos em Houston. Quando Diduzinho deixou o hospital americano, estava cego do olho direito e com apenas 10% da visão do olho esquerdo.
O ex-playboy andava sem carteira. Nos restaurantes e boates sua assinatura em qualquer papel era tratada como dinheiro. Chegava a gastar o equivalente a 3.500 reais numa noitada. Hoje é aposentado por invalidez no inss e vive apenas com a pensão de mil reais por mês, além de ajudas casuais de familiares e amigos. “Estou sempre devendo ao banco, é um inferno. Me sinto sentado numa bomba. Não sei viver assim. Para mim, as coisas sempre caíram do céu”, conta.
Diduzinho faz várias fezinhas por dia.Começa pela manhã, presenteando a esposa, Carmen de Souza Campos (quinze anos de casados), com duas raspadinhas de 50 centavos: “Eles pagam até 10 mil”. Ainda à mesa do café-da-manhã, Carmen abre o jornal e lê em voz alta o resultado da loteria. Diduzinho aposta religiosamente há mais de quinze anos. Ganhou uma única vez, 86 reais no terno da quina. “Se eu acertar, compro um apartamento no meu prédio mesmo, faço um seguro-saúde e vou para Paris”, ele diz, e emenda animado: “O bom de jogar na loteria é que a gente vai pra cama e esquece os problemas, só pensa no que vai fazer com o dinheiro se ganhar no dia seguinte”.
Herdeiro do título de conde da Graça, concedido pelo rei de Portugal ao seu tataravô, Diduzinho foi criado entre as pradarias do Gávea Golf Club, onde jogava quatro dos seis tempos de pólo no time dos amigos de seu pai, e o Country Club, onde passava a tarde praticando sinuca e tênis, de papo nas grandes mesas de almoço ou nos banhos de piscina. Diduzinho ferveu nas boates Le Bateau, Girau e Zum Zum num Rio de Janeiro fantástico, década de 1970, quando pululavam festas no estilo Grande Gatsby local. “A cidade era muito pequena. Todo mundo se conhecia. Eu chegava na Zum Zum e, pelos carros, antes de entrar já sabia quem estava lá.” Entre outras atividades sociais, chegou a freqüentar diversos cursos na puc. Não se formou em nenhum. “Nunca quis largar a barra da saia de mamãe, não batalhava nem sabia ganhar dinheiro. Sabia dar dinheiro.” E foi o que Diduzinho fez — enquanto pôde.
Já em 1972 apareceram as primeiras dificuldades. A separação dos pais acelerou o processo de venda dos bens da família. “Meu avô, Vilobaldo Souza Campos, foi rico. Meu pai torrou a herança. Era funcionário do Banco do Brasil, tinha uma vida que não condizia com o que ele ganhava”, conta Diduzinho, que aos 25 anos se viu obrigado a pegar no batente. Como adorava fotografia e cinema, foi contratado por Bruno Barreto para fazer fotografia de cena no filme A estrela sobe, mas abandonou o set de filmagens para viajar. Ainda assim, na volta aproveitou a experiência e conseguiu um trabalho de cinegrafista na tv Globo. A vida de estivador não lhe caiu bem. Logo o playboy foi transferido para o departamento de vendas internacionais da emissora. “Minha sala e a do Otto Lara Resende eram vizinhas. Os almoços naquela época demoravam horas. A Globo era glamourosa.” Em outro tom, a festa continuava.
Não continua mais. Diduzinho soube se adaptar. Hoje seu maior interesse é manter a serenidade. Suas terapias são os exercícios na academia de ginástica do 30o andar do Othon Palace, três vezes por semana, e duas sessões semanais nos Alcoólicos Anônimos da rua República do Peru, em Copacabana. “Não faço nada sozinho. Preciso da Carmen pra tudo. Sem a minha mulher eu fico perdido”, diz ele ao entrar na sala dos aa — codinome: Aerolíneas Argentinas —, onde gosta de sentar sempre no mesmo lugar, uma cadeira atrás da pilastra, para se proteger do sol. Na hora de seu depoimento, a voz mansa, calma e pausada dá lugar a uma fala ansiosa e atropelada,como uma catarse: “O cavalo passou selado e eu não montei” e “Acelerei na reta e derrapei na curva” são os seus bordões. “Eu entro chorando e saio rindo”, comenta já no ponto de ônibus, fazendo sinal para o circular. E revela: “Gosto de andar de ônibus. Aqui a gente vê as pessoas e fica imaginando a vida que elas têm. Se a gente soubesse, se surpreenderia. Ninguém diria que eu sou filho de princesa”, diz ele, referindo-se ao título de princesa que Tereza ganhou em 1990 ao se casar com dom João Nepomuceno Maria Felipe Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orleans e Bragança.
De volta a casa, Diduzinho se apressa em fazer a cama. “A Carmen briga comigo se eu não estico o lençol. Ela tem mania de limpeza, só temos empregada de quinze em quinze dias, mas aqui é tudo organizado”, diz orgulhoso, enquanto abre a geladeira e a despensa e mostra a arrumação perfeitamente simétrica. “De noite, encontro o que quiser sem precisar acender a luz.” Carmen ordena o armário de Diduzinho em ton sur ton para facilitar. “Meu corpo não mudou muito”, comenta garboso. “Essa calça eucomprei no Saint Laurent há trinta anos; uso até hoje.” Diduzinho preza muito a elegância. Adora azul, roupa bem cortada, feita de tecido nobre. “Não uso meia que tenha náilon, só com fio escocês.” Veste-se com apuro. Caminha altivo. Ao longo do dia, suas roupas não amarrotam. “Respeito certos rituais na área da vestimenta. Tenho uma roupa para ir ao médico e outra para tomar café. Odeio ir com a mesma roupa de um lugar para outro. Nunca usei calça bege com sapato preto. Hoje eu noto essas coisas e fico horrorizado.” Diduzinho diz: “Eu tinha uma vida de príncipe e não sabia”.
* * *
AS GLOSAS DO JEGUE NA PRECISÃO
Já topando o desafio proposto pelo Jornal da Besta Fubana, poetas dos quatro cantos da Nação Nordestina começaram a mandar suas glosas, inpirados na foto que aqui foi publicada.
Hoje temos as glosas do Poeta Zelito Nunes
A bela e o lopreu.
Repousa toda a beleza
Nesse gigante imponente
Que um dia a natureza
Nos veio dar de presente
Tá lá a bela deitada
Tão pura tão intocada
Com ares de inocente
E o jumentinho coitado
Fazendo inveja pra gente
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INVENTÁRIO DAS COISAS INÚTEIS
Uma coluna de Alberto Oliveira
“Achei exagerada a colocação do poeta Alberto de Oliveira no sentido de que os concursos de repentistas desvirtuam o que ele chama de verdadeiro espírito da cantoria. Não levou em conta a dinâmica de desenvolvimento social do país, que hoje tem feição eminentemente urbana, o que causou mudança do eixo da população do campo em direção aos centros urbanos e todos os rebatimentos que essa mudança causou entre nós. Demonstra uma visão imobilista, tomando como paradigma de verdadeiro espírito da cantoria uma época em que viveram os grandes expoentes do passado da cantoria, na qual as formas de interação em comunicação da sociedade eram outras.”
(Do Poeta Allan Sales em sua coluna no JBF)
BILHETE AO POETA ALLAN SALES
Quem me conhece de perto sabe muito bem que eu sempre fui e serei um exagerado. Principalmente quando sou convocado a falar sobre algo que admiro e respeito como a Cantoria de Viola.
O exagero denunciado pelo poeta Allan Sales, no Seminário sobre Cantoria de Viola, ocorrido por ocasião de V COCANE – Congresso de Cantadores do Nordeste, coordenado por Antonio Lisboa, com patrocínio da Prefeitura do Recife, deu-se da seguinte maneira:
João Miguel, estudante de Brasília-DF, quis saber a opinião da mesa – Alberto Oliveira, Verônica Moreira, Maria Alice Amorim e Edmilson Ferreira – sobre os Festivais de Violeiros que grassam por esse mundão de meu Deus. Na ocasião eu afirmei (e volto a afirmar e reafirmo):
OS FESTIVAIS DE VIOLEIROS REPENTISTAS EM NADA CONTRIBUEM PARA A CANTORIA DE VIOLA E SÃO LIMITADORES DA EXPRESSÃO POÉTICA DOS VIOLEIROS REPENTISTAS.
É evidente que essa afirmação despertou acalorado debate. Que era exatamente o que eu queria atingir.
Em nenhum momento eu disse e defendi a Cantoria no passado, como à primeira vista se depreende do comentário do Allan.
Cantoria é algo vivo, pujante e atual, claro.
E não precisa de Festivais para a apresentação de meia dúzia de duplas – que são escolhidas eu bem sei como - enquanto a imensa maioria dos Cantadores de Viola não participa desses convescotes culturais.
Com relação à sinopse sociológica do restante do comentário do Allan, concordo com tudo o que ele disse.
No mais, os parabéns ao Allan pelo excelente texto, pedindo permissão para lembrar a opinião que não me sai da cabeça, dita por um dos presentes ao Seminário:
“FESTIVAL É UM MAL NECESSÁRIO” (No que eu discordo também. Não pode e nem deve haver mal necessário).
* * *
BRINCADEIRA PRA DORMIR ou A REVOLUÇÃO DAS NUVENS
O sono não se chegava
Perdida no pensamento
Pediu um conselho ao vento
Que na amplidão voava
Na hora que navegava
Pela luz da madrugada
Ainda estava acordada
O que fazer pra dormir
E viu o vento sorrir
Dentro da noite estrelada!
O vento ficou pensando
Branca barba a alisar
Não queria magoar
Nem vê a irmã chorando
Aflita se magoando
Saídas sem encontrar
Queria ela a sonhar
No berço que era o céu
Foi tirando seu chapéu
E começou a falar:
“Dá-me pena seu estado
você é tão inocente
se lembre que certa gente
muito tem se aproveitado
desse seu jeito calado
desse nunca reclamar
nunca vi você chorar
transformada em carneirinho
pulando pelo caminho
sobre porteira a saltar!
É que você não quer ver
O adulto desalmado
Que vendo o filho deitado
Vai transformando você
Hás de um dia entender
de cruéis enganadores
Formando falsos pastores
Esses bruxos feiticeiros
Mentirosos embusteiros
Pervertidos malfeitores!
Nuvem não é carneirinho
Pedra é pedra e pau é pau
Esse o primeiro sinal
Escreva no pergaminho
Saia do limbo e do ninho
E vá correr mundo afora
Pois já é chegada a hora
De acordar a criança
Ela é a esperança
O amanhã é agora”
... E hoje quando acordei
O mundo tava sem graça
Procurei em rua e praça
Criança eu não encontrei
Pra amplidão eu olhei
Salpicada de Branquinhas
Amareladas, Negrinhas
A me lembrar carrossel
Todas brincando no céu
Pulando mil porteirinhas!
Aí, a Nuvem dormiu...
* * *
Consulte os Projetos habilitados para a avaliação e seleção do Programa BNB de Cultura – edição 2007. Artes Cênicas Artes Visuais Audiovisual Literatura Música
Os projetos não constantes nestas realações estavam em desarcordo com as cláusulas discriminadas no edital.
A relação dos projetos contemplados será divulgada em 18 de dezembro de 2006.Encontra-se na opção Donwloads o modelo de relatório para a prestação de contas.
* * *
DEU NO JORNAL
“Pipi sentado - A Assessoria Jurídica da Câmara de Vereadores de São Luís ainda não analisou um projeto que está dando o que falar na única capital brasileira fundada por franceses. É o que obriga tanto as repartições públicas da cidade como o comércio a construir ou destinar banheiros exclusivos para gays, lésbicas e transexuais. O autor da mirabolante proposta é o vereador Augusto Serra, do PV, que ainda não justificou a proposição protocolada no final de novembro. Se a peça legislativa for considerada tecnicamente perfeita pelos advogados da Casa, será encaminhada para duas comissões técnicas permanentes para depois ir à Plenário. Além de criar polêmica, o projeto também dividiu a comunidade gay local que acha que é uma medida discriminatória.”
(O saudoso Sérgio Porto, o homem que criou o FEBEAPA – Festival de Besteiras que Assola o País, foi quem cunhou a célebre frase: “Um dia o terceira sexo ainda vai virar segundo”)
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UM TEXTO DE LUIZ MAKLOUF CARVALHO
John Kennedy, o bebê Fábio e Francisca Oliveira em castelo dos sonhos
Auto de Natal aéreo
Fábio nasceu sobre a selva onde tantos morreram
Castelo dos Sonhos é um povoado paraense de quinze mil moradores que fica às margens da BR-163, a Cuiabá- Santarém, num trecho em que a rodovia não tem asfalto. Ele fica a mais de mil quilômetros da sede da comarca à qual pertence, Altamira, que, por sua vez, é o maior município do mundo (161 mil km2, quase quatro vezes o Rio de Janeiro), o que, pensando bem, não é nenhuma vantagem. Por ter sido criado quando os garimpos estavam no ápice, nos anos 70, Castelo dos Sonhos tem o nome que tem. “É um lugar perigoso e violento”, atesta Deoclécio Garcia, diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Altamira. A empresária Ieda Burille, dona do Posto Zelândia, mãe de duas adolescentes, discorda: “Castelo dos Sonhos é o melhor lugar do mundo para criar os filhos”, diz. A distância da sede deu origem a um movimento separatista. “A última vez que a prefeita esteve aqui foi em janeiro. De 2002”, diz Ieda, que é favorável à independência administrativa do lugarejo.
Francisca de Souza Oliveira, nascida em Castelo dos Sonhos, tem dezoito anos. Ela é mãe (solteira) de John Kennedy, de dois anos. Ela estudou até a segunda série, sabe ler e escrever, e já passou por poucas e boas na chamada escola da vida. “Essa menina dá trabalho”, diz sua mãe.
Raimunda de Souza Oliveira, mãe de Francisca, é maranhense de Buriti Bravo. Está com 44 anos e teve doze filhos do casamento com o lavrador Valdemir Alves de Oliveira. Cinco morreram. Valdemir também, assassinado. Dos sete vivos, Francisca é a do meio. Raimunda mora em Castelo dos Sonhos com o segundo marido e a filha caçula.
Antônio Capixaba, o pai de John Kennedy, é dono de uma pequena fazenda em Castelo dos Sonhos. Não vive com Francisca, mas ajuda a criar o filho.
Francinaldo, borracheiro de profissão, namorou e engravidou Francisca, que, no entanto, nem sabe o sobrenome dele. “Francinaldo matou um cara para roubar e me batia”, diz Francisca, que o abandonou. Francinaldo fugiu da polícia, desapareceu.
Ricardo Aleixo, 2o tenente-médico da Força Aérea Brasileira, serve na base militar da Serra do Cachimbo, que fica a 120 quilômetros de Castelo dos Sonhos. Em julho do ano passado, Aleixo obteve seu diploma na Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro. Aos 28 anos, ele ganha três mil reais. Casado, sem filhos, sua única experiência com partos foi a que teve na faculdade e nos estágios.
O ônibus saiu do Castelo dos Sonhos no final da tarde da sexta-feira, 6 de outubro. Ele levaria Francisca e Raimunda até Peixoto de Azevedo, onde Francisca teria o segundo filho. Como no nascimento de John Kennedy, o médico prescrevera uma cesariana. Com o hospital do povoado em obras, a recomendação era Peixoto de Azevedo. Trajeto relativamente curto, coisa de 270 quilômetros, mas a nada menos de doze horas de viagem, tais as condições da estrada. Pagaram trinta e oito reais cada uma pelas passagens, saídos, suados, do bolso de Antônio Capixaba, pai de John. Lá pelas onze da noite, a moça começou a ter contrações. Raimunda achou que podia ser alarme falso. A diminuição progressiva da freqüência mostrou que não. A cidade mais próxima, Guarantã do Norte, estava longe. Peixoto de Azevedo, nem se fala: só chegariam lá ao raiar do dia. O que havia, no meio da escuridão, era a base militar da Serra do Cachimbo. As dores lancinantes de Francisca e os apelos de Raimunda fizeram com que o chofer do ônibus pegasse a estradinha de asfalto que chega à entrada do quartel. Era 1h30 da madrugada.
A base militar do Cachimbo vivia há sete dias o lúgubre azáfama provocado pela queda do vôo 1907, da Gol. Era ali que eram transitoriamente guardados os cadáveres dos 154 passageiros do Boeing. Os gritos de Francisca alertaram os sentinelas, que abriram os portões, aceleraram as providências, acordaram quem devia ser acordado. “Ela chegou na base com muitas dores abdominais e contrações”, conta o tenente Ricardo Aleixo. “Eu fiz o exame de toque, a dilatação era de dois centímetros, e a indicação, até pelo histórico do primeiro filho, era de cesariana.” Não havia como fazer a operação no Cachimbo: a base não tinha aparelhagem. Decidiu-se levar Francisca para Cuiabá.
O avião, um bimotor Bandeirantes C-95, abriu a porta às 3h40 da madrugada para que Francisca e sua mãe entrassem. Era a primeira vez que elas viajavam de avião. Junto com ela foram seis tripulantes, entre eles o 2o tenente Aleixo, o cabo-enfermeiro Rocha e o tenente-coronel João Bosco. Deitada numa maca, Francisca entrou em trabalho de parto meia hora depois.
Raimunda Oliveira conta o que ocorreu a bordo: “As dores foram aumentando, e os gritos da Francisca também. Vi logo que a criança queria nascer, que estava na hora dela, mas eles mandavam a Francisca fechar as pernas. Diziam que não sabiam fazer parto, só cuidar de curativo, de perna e de braço quebrado. Quando vi que não tinha jeito, que a criança estava vindo, mandei eles forcejarem a barriga, e segurarem a cabeça da Francisca, que estava toda descangotada de tanto sofrimento, coitada. Aí eles ajudaram, e eu tirei a criança. Fiquei segurando até chegar em Cuiabá, quando cortaram aquele cordão. No meio de toda a tristeza com a queda do avião, foi uma alegria, para nós e para eles, o menino ter nascido ali.”
O relato de Aleixo: “Nós ficamos um pouco assustados que nascesse dentro do avião, porque podiam acontecer complicações mais sérias. Mas a dona Raimunda estava certa, e nós ajudamos, pressionando a barriga pra criança descer. Depois eu amarrei o cordão umbilical, que só foi cortado quando chegamos a Cuiabá.”
A pressa de nascer era tanta que o irmão de John Kennedy veio ao mundo, contra todos os prognósticos, de parto normal. Ele nasceu com quatro quilos e 70 gramas. “Subiram oito e desceram nove”, brinca o tenente-coronel Feijó, da base do Cachimbo.
Em Cuiabá, uma ambulância da prefeitura já os esperava, com um médico, para as providências imediatas e, depois, as fotos feitas na pista do aeroporto com a câmera digital de Aleixo. Levado para um hospital, onde se constatou que o bebezão estava bem de saúde, o trio teve alta no mesmo dia. Foi encaminhado para uma instituição assistencial da prefeitura. Saiu de lá para o aeroporto de Cuiabá na manhã do feriado do dia da criança. Um avião da FAB os levou para a base do Cachimbo — e de lá, num helicóptero, para o Castelo dos Sonhos. O bebê foi registrado em Cuiabá, como Fábio de Souza Oliveira, e não Fabiano, como a FAB disse que a mãe o chamaria, em homenagem ao socorro da base. “Fábio é mais bonito”, diz Francisca.
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MANCHETE DOS JORNAIS DE HOJE
“APÓS DIA DE CAOS AÉREO, CONTROLE DE VÔOS É RETOMADO”
(Finalmente. Pelo menos de um controle o governo resolveu assumir a responsabilidade)
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UM TEXTO DE LUIZ ALBERTO MACHADO
PAPAI NOEL AMOLESTADO
Sabe daqueles dias de vacas magras numa apertura arrochada de estreitar o juízo de qualquer sujeito? Pois é, multipliquem dez vezes mais a penúria e saberão a medida exata do que se passava com o Doro naquele momento periclitante.
Para se ter uma idéia do labirinto, ele olhou de um lado e estava a esposa com a mão de pilão, pronta para lascar-lhe o quengo. Do outro lado, uma infieira de bruguelos-de-cabelim-de-milho, tudo com um olhão graúdo pras bandas dele, acompanhado dum buá infernal. E atrás, vôte, uma penca de credores, tudo doido para pegá-lo de num aguentarem mais o toque de arrudeio do sabido em driblar os pregos.
Pois bem, no meio desse cenário tão alvissareiro, Doro escapuliu para arrumar uma lavagem de roupa que minorasse sua miséria, não antes receber no maluvido um desaforo da sua gasguita mulher:
- Ói, seu-destrambeiado, si num chegar cum cumida hoje im casa, vou-me prá casa da mãe, de nunca mais tu vê nem minha cara nem dus mininos, ouviu, traste?
Fez-se de entendido e saiu com aquilo martelando no quengo. Pé na bunda. Depois de muito arrastado de sandália enchendo a rua de pernas, eis que apareceu a sua salvação: precisa-se de Papai Noel. Eita! Na medida. Aí, deu um carreirão até onde precisavam do tal, encontrando, para sua revolta, uma fila enorme já de tantos postulantes ao cargo.
- Puta-qui-me-pariu, outra fila da porra!! Orra, meu!
Doro apertou as pestanas, espremeu o nariz, bateu na testa, fulo da vida e ficou matutando uma saída.
- Desse jeito, passa o natal e eu não saio daqui!
Teve um estalo. Imaginem: a dieta do rapaz, vocês já sabem, num é? Dá para sacar o desastre. Pois foi, apalpou a pança e largou um daqueles silenciosos que saiu queimando as beiradas do cu, de arrancar uma dúzia de pregas lá nele.
- Eita, esse quase me rasga! -, disse para si. Vôte! O fedor não demorou muito. Correram todos, até os atendentes, não ficando uma só alma viva ali. Até o Doro aperreou-se com a inhaca.
- Orra, meu! Tô meiorando cada dia mais. Desse jeito vô sê campião de peido em quaiquer lugá do praneta!
Ainda bem que estamos imunes dessa catástrofe. Bem distante, né não?
Pois bem, lá para as tantas, uma atendente resolveu retornar às atividades. Ela estranhou a presença de Doro ali.
- O senhor aguentou aquela fedentina?
- Ah! já tô acustomado, minha fia.
- Óooooo.
A lasqueira era que ainda restavam resquícios da catinga no ambiente, o que fez a moça apossar-se de uma tuia de fragrâncias para desimpestar os recantos. Hora e meia, depois, tudo restabelecido, Doro, como não poderia ser diferente, foi atendido.
- O senhor já trabalhou de Papai Noel?
- Minha fia, eu sô o mais originá Papa Noé da históra!
- O senhor possui a indumentária?
- Cuma?
- O senhor possui a roupa do Papai Noel?
- Quiláro, minha fia, a minha rôpa é a mai originá tumbém. Todo mundo gosta.
Como era o único candidato que restara da fatalidade, ficou com o cargo. Um mês vestido de papai Noel sob o pagamento milionário de um salário mínimo por proventos. E o melhor: recebeu 50% adiantados na hora e foi arrumar a indumentária.
Em casa livrou-se de uma panelada nas fuças porque deitou logo o dinheiro inteirinho na vista da mulher.
- Só isso?
- Foi o qui eu arrecebi, ôxe!
Como a mulher estava virada, não agüentou e arribara com os bruguelos no cós da saia. Doro sozinho ficou vasculhando os farrapos do seu figurino. Quando conseguiu arrumar, juntando tudo, num dava uma peça inteira de nada. Aí ele avexado, danou-se a costurar fiapo de pano de todas as espécies possíveis e inimagináveis num remendo sem fim, na maior colcha de retalhos. Foi na habilidade da agulha tudo que viesse pela frente: pano de chão com cueca rasgada, mais duas caçolas imprestáveis, três fraldas meleguentas, resto de cortina, toalha de banho, pedaço de cetim, pele de bombo, empanado de sofá, um restinho de saia, taco de borracha, sacola plástica, telas, tapetes, fiapo de cambraia, flanela, pano de copa, bonés, matulões, couro, uma bagaceira! Fez o palitó assim, mais a calça. Ajeitou uma botina velha caindo aos pedaços numa batedeira dos infernos. E, ao cabo de três dias, estava com tudo pronto. No dia marcado ele chegou lá. Dirigiu-se ao camarim improvisado e foi se aprontar.
Duas horas depois ele chegava no recinto na maior macacada! O Zé do Caixão nunca estivera mais lindo. Para filme de terror estava na medida.
- Cadê o papai Noel? -, perguntou uma funcionária.
- Ói eu aqui, dona moça!
Vôte, a moça quase teve um troço do susto!
- Isso é lá papai Noel que se apresente, moço? -, disse depois que consegiu se recompor do acidente.
- E ocê qué mió qui isso, é? Sou o mai originá dos originais!
- Para o Anticristo o senhor está perfeito! Para festa de assombração, para serenata no cemitério, coisa do tipo.
- Ói, num me abufeli qui tô ficando nervoso!
Depois de muito renhenhém, o cara teve permissão de assombrar as criancinhas. E quando foi se aproximando da platéia, levou um trupicão ao pisar no cadarço da bota, de sentar a venta no chão. Tei bei!
- Empurra não, empurra não! -, dizia ele com ele mesmo para gargalhada da garotada que avançou em cima dele. Ôxe, tome assédio. E só se via a meninada:
- Bicho feio! Bicho feio!
- É a mãe d´ocês, seus porrinhas!
Aí foi que o negócio pegou fogo! Os peraltinhas acharam de agarrá-lo, dando chute, pernada, dedada, beliscada, mordida, e ele revidando tudo no maior bafafá. O negócio ficou tão feio que teve de ter a interferência de uns dez seguranças para contornar o rebuceteio.
Situação contornada, Doro ainda bufava quando teve de acocorar-se para atacar os cadarços da bota. Foi pior: o pano não aguentou e abriu um rasgão na roupa de deixá-lo de bunda de fora. Maior alvoroço! Quem estava e quem não estava nem aí, revestiu-se da maior risadagem. Fatalidade maior não haveria de acontecer. Porém, como tudo é possível, o pior ainda estava por vir.
Doro estava escondido quando a organização mandou que ele fosse se atrepar no teto do prédio, para descer de lá de cima com todo o glamour que a ocasião exige. Havia para mais de zis crianças. Ele lá, cai mas num cai. Quando se agarra na corda, faz aquela averiguação de profissional, desconfia que a corda num agüenta e reclama:
- Esse barbante num pode com eu não?
- Bora, só tem esse aí, te vira, cara!
Doro fez a maior cara feia, mas como não tinha jeito. O jeito mesmo era despencar lá de cima e matar logo um bocado de presepeiro lá embaixo e pronto, receber a outra metade do dinheiro e ir para casa com meio mundo de fratura exposta. Missão cumprida. Nada. Ele segurou na corda e começou a deslizar, descendo ao som daquelas canções natalinas e com o maior aparato de iluminação e efeitos visuais.
- S´eu dispencá daqui, caio im cima das mininada, aí é só no macio. Eles morre, mas eu fico aparado qui só numa almofada com esses trelosos.
No meio do estardalhaço todo, ele enganchou-se na armação, passando horas pendurado. Só se via a bunda branca reluzindo lá em cima. O cara passou o maior aperto, suando frio, o estatelar-se no chão, o medo, tudo duma só vez. Isso dava um remoído no estômago a ponto de deixar a merda pronta para arrombar com tudo. Não deu outra. Primeiro veio aquela flatulência arrochada. Póiiiiiiin! Depois, meu, o desgraceiro estava feito. A corda partiu-se e lá vem Doro carregado de bosta altura abaixo. Ploft! Só se viu o salpicado abundante em todas as direções.
- Eita, o Papai Noel trouxe o saco cheio de merda!
- Não meu, é que ele é feito de bosta mesmo!!
Pelo andar da carruagem, dá para notar que o evento teve que contar com a intervenção da tropa de choque e o corpo de bombeiros para recompor tudo. Maior vexame. Doro ainda com a cara mais lisa conseguiu balbuciar:
- É, num deu. Só na outra.
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DEU NO JORNAL DA AUSTRÁLIA
A galega arreganhou a racha em pleno desfile
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RECLAMES DOS NOSSOS PATROCINADORES
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UM SONETO DE GREGÓRIO DE MATOS
Ao mesmo clerigo appellidando de asno ao poeta.
Padre Frisão, se vossa ReverênciaTem licença do seu vocabulárioPara me pôr um nome incerto, e vário,Pode fazê-lo em sua consciência:
Mas se não tem licença, em penitênciaDe ser tão atrevido, e temerárioLhe quero dar com todo o Calendário,Mais que a testa lhe rompa, e a paciência.
Magano, infame, vil alcoviteiro,Das fodas corretor por dous tostões,E enfim dos arreitaços alveitar:
Tudo isso é notório ao mundo inteiro,Se não seres tu obra dos culhõesDe Duarte Garcia de Bivar.
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DEU NA INTERNET
“Adriane Galisteu, que voltará às páginas de Playboy em março, anda fazendo testes: na semana passada, foi a um evento sem calcinha e, no dia seguinte, em outra festa, sem sutiã. Para alguns fotógrafos que, nas duas ocasiões, permaneciam de plantão para ver se conseguiam registrar qualquer exposição, Adriane até ironizava: “Se aparecer alguma coisa, não será nada mais do que já foi muito bem exposto nas páginas de Playboy . E quem quiser ver detalhes, é só esperar março chegar”.
(Como eu sempre afirmei, a raparigagem é uma profissão rendosa nos tempos atuais. Quengar com um famoso é certeza de projeção na mídia e dinheiro no caixa. O finado Ayrton Senna deve estar orgulhoso lá em cima)
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FRASES COM NEXO SOBRE SEXO
"Porque eu não me como"
(Bussunda, humorista, explicando porque os homens são exigentes com o corpo das mulheres e tão descuidados com o deles)
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DEU NA INTERNET
“O Flamengo é o time de futebol mais endividado do país: saltou de R$ 19 milhões para R$ 175 milhões neste ano.”
(Bom, o Flamengo é o mais endividado em reais. Em explicações pra torcida, o mais endividado é o Santa Cruz aqui do Recife. Que o diga o Cardeal Paulo Carvalho)
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UM TEXTO DE FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES
PROFISSIONALIDADE
Encarecendo perdão pelo neologismo utilizado no título acima, a intenção é positiva: alertar os que estão prestes a ingressar no mercado de trabalho e aqueles que já se encontram no seu campo profissional, sejam veteranos ou principiantes. O mote me foi oferecido pelo Simon Franco, um dos mais eficazes head-hunters do Brasil, quando de recente debate patrocinado por um centro profissionalizante, em Belo Horizonte.
Quais deveriam ser as características de uma pessoa talentosa, diante das mutabilidades contínuas que estão se verificando no mundo inteiro? Explicitando as dez mais notáveis, todas elas interdependentes e intercomplementares, acredito estar favorecendo a caminhada dos empreendedores criativos, encarecendo aos veteranos um “alerta geral” nos seus relacionamentos múltiplos:
1. Nunca esmorecer a capacidade de ser permanentemente um curioso, um perguntador, sempre desenvolvendo novas habilidades e despertando novos interesses.
2. Encarar a Vida como uma missão, jamais a entendendo como uma carreira. Conhecer bem as fontes nutrientes e as energias geradoras, sempre preservando a individualidade, sem resvalar para atitudes individualistas, suicidas sob todos os vieses profissionais.
3. Desenvolver um savoir-faire cultivando o humor, permanecendo otimista sem jamais reagir compulsivamente diante de atitudes negativas ou extemporâneas. Jamais tripudiar sobre as fraquezas dos outros e ter consciência da capacidade de perdoar e/ou esquecer ofensas alheias.
4. Manter-se constantemente atualizado em relação a assuntos e cenários mais recentes, sendo socialmente ativo, possuindo muitos amigos e uns poucos confidentes.
5. Sabe rir de si mesmo, dimensionando, sem exageros positivos ou negativos, o seu próprio valor. Perceber as similaridades e as diferenças em cada uma das situações enfrentadas. E aceitar elogios e culpas de forma equilibrada, sem reações impulsivas. E enxergar o sucesso no fracasso, por mais penoso que ele tenha sido.
6. Saber contemplar rostos antigos de maneira nova e velhas cenas como se fosse a primeira vez. Redescobrir as pessoas a cada encontro, interessando-se por elas, jamais rotulando-as com base em sucessos ou fracassos passados.
7. Saber fazer uso da força conjunta, acreditando nas capacidades alheias, nunca se sentindo ameaçado pelo fato dos outros serem melhores. Aprender a separar as pessoas dos problemas, não disputando posições, a liderança lhe sendo conferida por natural manifestação da maioria.
8. Exercitar regularmente as quatro dimensões da personalidade humana: a física, a mental, a emocional e a espiritual, orientando-se para as soluções criativas, sem resvalar para irresponsabilidades doidivanas.
9. Jamais se esconder sob o manto da resignação, consciente de que ele é o hospedeiro maior da mediocridade.
10. Renunciar às alternativas perfeccionistas, reconhecendo todas elas como estratégias de protelação.
Como embasamento geral, afastar-se da rotina, enfrentar o desconhecido e motivar-se para adquirir novos saberes, uma trilogia capaz de resistir à “tentação do ótimo”, sem qualquer dúvida o maior inimigo do bom. E nunca perder a convicção de que o justificatório, o lamentatório, o comparatório, o esperatório e o protelatório são os principais componentes patológicos das depressões decisórias da atualidade.
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UM POEMA DE MAVIAEL MELO
O NOEL NOSSO DE CADA DIA
NEM AO MENOS RÁIA O DIA
MAS ESSE MESMO PAPEL
E O CABOCLO JÁ DE PÉ
ELE CUMPRE TODO O ANO
DÁ LOGO UM CHEIRO EM MÁRIA
NUM ETERNO CARROSSEL
BOTA NO FOGO UM CAFÉ
TRABALHA SEM TER ENGANO
CORTA UM PEDAÇO DE PÃO
COMPRA ROUPA PRA MARIA
FAZ NA TESTA UM ORAÇÃO
BRINQUEDO PARA SOFIA
MANDINGAS DE SUA FÉ
E UMA FAZENDA DE PANO
E TERMINADO O CAFÉ
OU ENTÃO AJEITA O CANO
AJEITA EM SI O BORNAL
NOVA PINTURA NA CASA
PREPARA O PÓ DO RAPÉ
UMA REFORMA OUTRO PLANO
O PRIMEIRO MATINAL
LIMPA O NOME NO SERASA
BEIJA A MULHER E O FILHO
UMA VIAGEM EM FAMÍLIA
E SEGUE BEIRANDO O TRILHO
UMA BONECA PRA EMÍLIA
EM BUSCA DO CAPITAL
E A PRESTAÇÃO QUE ATRASA
POIS TÁ CHEGANDO O NATAL
MAS NADA ENFIM LHE ARRASA
A CIDADE TODA EM FESTA
NEM MESMO O BAIXO SALÁRIO
TUDO FICA MAGISTRAL
O SEU TRENÓ NÃO TEM ASA
PORÉM NO BOLSO NÃO PRESTA
TEM SIM UM GRANDE OPERÁRIO
É PRESENTE, É FORMATURA
QUE LIDA PRA SER FELIZ
É A DITA DITADURA
FINCADO EM SUA RAÍZ
DO CONSUMO, QUE NOS RESTA
NO QUE É HEREDITÁRIO
MAS ELE NÃO BAIXA A TESTA
POR ISSO EM SEU CALENDÁRIO
LABUTA DIARIAMENTE
TODO MÊS É DE NATAL
FIM DE NOITE UMA SERESTA
NUM LIVRO PRO ABECEDÁRIO
PARA CLAREAR A MENTE
OU O FILHO NA CAPITAL
E ASSIM VAI SUA LIDA
É FEIRA, É LUZ, É SAÚDE
PRA DAR O PÃO E GUARIDA
É TODO DIA AMÍUDE
AO SEU POVO E SUA GENTE
NA LABUTA NATURAL
POR SER UM CABRA DECENTE
SEGUINDO O EIXO NORMAL
NÃO GOSTA DE SER FIADO
SEU JOÃO, SEU MANOEL
CUMPRINDO HONROSAMENTE
SEU ALFREDO, ABDORAL
TUDO QUE É ACORDADO
MARCOS ANTONIO, JOEL
TRABALHA DIA APÓS DIA
É TODO PAI BRASILEIRO
SÓ PRA VER A ALEGRIA
ALEGRE SEMPRE E GUERREIRO
NAQUELE LAR TÃO AMADO
UM ETERNO PAPAI NOEL
É NA RUA OU NO ROÇADO
É UM FEIRANTE, É CORDEL
É LEIGO OU É DOUTORADO
É GARI OU BACHAREL
CADA UM NO SEU LIMITE
NA MÃO O MESMO CONVITE
DE SER UM PAPAI NOEL
* * *
* * *
DEU NO JORNAL
“O ministro Gilberto Gil deve deixar mesmo, no final do mês, a Pasta da Cultura. Sua principal exigência para permanecer, ou seja, aumento do Orçamento do ministério, é impraticável.”
(Dinheiro pra cultura é impraticável em qualquer governo, do PSDB ou do PT. Mas tem muito intelectual que ainda insiste em ser governista. Eu já desisti de dar pistas das razões pela qual sempre sou contra o governo. Qualquer que seja ele)
* * *
UM POEMA DE CECÍLIA MEIRELES
Timidez
Basta-me um pequeno gesto, feito de longe e de leve, para que venhas comigoe eu para sempre te leve...— mas só esse eu não farei.Uma palavra caídadas montanhas dos instantesdesmancha todos os marese une as terras mais distantes...— palavra que não direi.Para que tu me adivinhes, entre os ventos taciturnos, apago meus pensamentos, ponho vestidos noturnos, — que amargamente inventei.E, enquanto não me descobres, os mundos vão navegandonos ares certos do tempo, até não se sabe quando...— e um dia me acabarei.
* * *
OS BASCÚI DO NATAN
AGUAPÉ, DO BELCHIOR, é, digamos assim, uma estranha canção, diferente dos clássicos Galos, Noites e Quintais, Paralelas, Alucinação, Na Hora do Almoço etc e coisa e tal. Pra começar, ele usa como epígrafe, as duas primeiras estrofes do poema "A Cruz da Estrada", de Castro Alves. Troca as palavras Caminheiro, cruz e borboletas por Companheiro, casa e mariposas. Faz coro e "duela" com o Fagner e na música tem um coro, que se expressa em latim. A princípio parece uma coisa sem nexus, plexus e sexus, mas se for ouvida com atenção, veremos que não se trata de uma composição surrealista! Tem sentido, e como tem! Mas é como diz o Papa Berto I: "Tem gosto pra tudo!" Eu, pelo menos, gosto que me enrosco, pra usar uma expressão do princípio do século passado... Corrigi a letra do encarte do CD e da letra colhida na Internet. Deu um trabalho da gôta, mas consegui! Só não chequei os versos em latim, pois dessa língua morta não entendo iCAS!
PEQUENO CONCERTO QUE FICOU CANÇÃO, de Vandré, parece que foi um divisor de águas na obra do compositor/cantor paraibano. No início da década de 1960, era integrado ao grupo da Bossa-Nova, mas partiu para a contestação ao regime militar que se instalara no País em 1º de abril de 1964. Decidiu: " Temos que fazer música participante. Os militares estão prendendo, tortutando. A música tem de servir para alertar o povo," consciente de que os formadores de opinião, mais do que qualquer um grupo, competia essa tarefa: ALERTAR O POVO... A prova está na sua canção, de 1962, Fica Mal com Deus, que regravaria dois anos mais tarde no seu primeiro LP "Geraldo Vandré" (dias depois do Golpe) e depois, em 1966, no LP " Cinco Anos de Canção", já compondo com uma temática nordestina.
Hoje Vandré fala em sinfonias, músicas eruditas, etc. Parece coisa nova, mas na minha opinião, ele já pensava nisso há mais de 40 anos atrás.
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DEU NA INTERNET
“A insistência é do próprio Lula: quer porque quer Delfim Netto no Ministério do Planejamento, no segundo mandato, em substituição a Paulo Bernardo. Lula já sabe que o índice de crescimento de 2006 não chegará a 2,5% (muito distante dos 4% declarados no semestre) e quer um nome de peso na área de planejamento. Sabe também que delfim tem transito nas áreas empresariais e políticas e uma imagem de respeito fora do país. No bloco político-partidário. Delfim Netto é considerado um homem de estreita ligação com o ex-governador Orestes Quércia.”
(Eu não posso deixar de rir ao ler essas notícias. Mas vou esperar pra rir mais gostoso ainda com as explicações que serão dadas pelos meus amigos petistas/lulistas/esquerdistas. Me provocam frouxos de risos!)
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UM TEXTO DE LUIZ MAKLOUF CARVALHO
LUGAR DE BANDIDO É EM ALTO MAR
Enfermeira sexagenária vira musa da turma da bala
O assalto era para ter acontecido na véspera, sexta-feira, 6 de outubro. Estava escurecendo. Maria Dora dos Santos Arbex, de 67 anos, saía de um supermercado perto do apartamento onde mora, no Flamengo, no Rio. Foi ali o primeiro diálogo com o bandido:
— Ô tia, me dá o celular
— Está sem crédito
— Vai me dar o celular.
— Vou pensar no teu caso.
“Ele era desses que vivem perambulando pelas redondezas”, diz ela. “Já conhecia de vista. Achei que tinha cheirado cola e não dei importância.” Maria Dora simplesmente se afastou.
No sábado cedo, ela fez o de sempre: levou o cão tenerife Igor para o pipi matinal. Caminhava sem pressa pela rua Senador Vergueiro, já quase chegando em casa, quando o mesmo bandido fez a nova abordagem:
— Passa aí o cachorro, vale uns 50 reais.
— O cachorro, não.
— Então a bolsa.
— Não.
— A senhora vai acertar comigo porque eu não vou sair de mão pura. A bolsa já é minha. Perdeu! Perdeu!
Alexandre Cardoso Pereira, o Nem, falava alto. O “Perdeu!” foi reforçado por um canivete de cabo cor de vinho e, pior, por vários pisões de calcanhar nos dedos do pé-direito de Maria Dora. “Parecia um martelo!” Não havia ninguém na rua. Ela não se abalou. Pregou um olho no bandido e outro no cachorro. Tentou argumentar com Nem:
— O que não vão dizer se você sair por aí com a minha bolsa? Vão dizer que roubou, e não vai ficar bem. Não é melhor eu tirar o dinheiro e te entregar?— Eu só sei que você perdeu! Perdeu! Nem avançou, com canivete e calcanhar. Maria Dora e Igor deram um passo para trás.
“Remexi na bolsa, fiz que procurava o dinheiro e saquei o revólver, rápido. Ele veio pra cima com o canivete. Eu vi o peito dele na minha mira, mas desviei para a esquerda, apertei o gatilho e acertei na mão. Não matei porque não quis.”
Maria Dora é cearense da praia do Meireles, em Fortaleza. Veio com os pais, ainda garota para o Rio de Janeiro. Completou o curso clássico, formouse enfermeira e exerceu a profissão em clínicas particulares. Casou, teve quatro filhos. Um morreu. Os outros três moram com ela. São duas mulheres e um homem, solteiros e sem filhos.Na sala do apartamento próprio, onde contou sua história, Maria Dora está à vontade. “Disseram que eu furei a mão dele. Bobagem. Eu dei de raspão, entre os dedos. Não matei porque não quis.” Ela se levanta e, a pedido do repórter, aplica-lhe o golpe de calcanhar que sofreu. Dói, e muito.
Ela atribui à profissão o sangue-frio que afirma sempre ter tido: “Fui instrumentadora cirúrgica. Exige muita precisão, muita agilidade”. À observação de que um bisturi não é exatamente um revólver calibre 38, Maria Dora oferece uma tríplice resposta. O filho é militar do Exército; ela perdeu o medo de tanto ver ou guardar a arma dele. Em 92, fez um curso de tiro, no qual demonstrou pontaria exemplar. Em determinado exercício, o instrutor lhe disse que a regra era não acertar a silhueta-alvo em nenhum ponto letal. Maria Dora mandou o tiro no meio da testa. Chamada às falas, saiu-se com esta: “Ora, se ele estivesse de colete, ia me jantar”. Conclui a explicação declarando que dois episódios fortaleceram seu sangue-frio. Relata que foi obrigada a fazer uma ligadura de tendão “na mulher de um bandido, com a arma dele na cabeça”, e que em 1998 ela e a filha mais nova, então com 24 anos, foram vítimas de um seqüestro. Livraram-se incólumes quatro dias depois, resgatadas “pela outra irmã”.
O trinta-e-oito que acertou Nem pertencia legalmente à filha mais nova, que está concluindo o curso de serviço social. “Sei que é crime usar arma sem porte, mas usei para me defender, porque uma amiga minha foi estuprada no aterro do Flamengo e as autoridades não fazem nada”, diz.
Depois do tiro, Nem saiu correndo. Foi preso na mesma manhã. Maria Dora foi para casa, aonde chegou “em estado de choque”, para usar a expressão da filha mais velha. Minutos depois ouviramse as sirenes de oito viaturas da polícia, que pararam em frente ao prédio. Maria Dora foi presa na sala. Ao se entregar, pôs a arma em cima da mesa e disse: “Fui eu mesma, podem me levar”. Um inquérito apura os dois crimes.
No dia 23 de outubro, Maria Dora, vestida com (digamos) elegância, compareceu ao plenário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro para a solenidade em que recebeu a Medalha Pedro Ernesto, proposta pelo vereador Carlos Bolsonaro. Além dele e da homenageada, compunham a mesa o pai do vereador, deputado federal Jair Bolsonaro, o irmão, deputado estadual Flávio Bolsonaro, o tenente-coronel pm Fernando Príncipe Martins e a promotora pública Dora Beatriz Wilson da Costa. Maria Dora defendeu uma severa política de controle da natalidade e sugeriu que bandidos sejam confinados em navios e mandados para alto-mar
* * *
UM SONETO DE RONALDO CUNHA LIMA
Não maldigo os versos que lhe fiz
Não maldigo os versos que lhe fiz,
embora não devesse tê-los feito.
São versos que nasceram do meu peito,
mas frutos de um amor muito infeliz.
São versos que guardam o que não quis
guardar daquele nosso amor desfeito.
Relendo-os sofro, e sofrendo aceito
o que o destino quis como juiz.
Não os maldigo, não. Não os maldigo.
Vou guardá-los em mim como castigo,
para no amor eu escolher direito.
Só porque nesse amor não fui feliz,
não maldigo os versos que lhe fiz,
embora não devesse tê-los feito.
* * *
DEU NA INTERNET
“Eternizando-se no poder, o venezuelano Hugo Chávez faz par perfeito com o aniversariante Fidel Castro. Um ditador muito vivo e outro meio morto.”
(Ambos idolatrados por uma multidão de mortos-vivos da latino-américa)
* * *
DO LIVRO “CONTRA TODA A ESPERANÇA”
(Do escritor cubano Armando Valladares)
39. Rumo a Paris
Para manter a mente treinada e a faculdade de falar, eu organizava conferências para um imaginário auditório. Também repetia meus conhecimentos de matérias universitárias e improvisava aulas de História, Geologia, etc. Tudo isso em voz alta. O que fez as sentinelas se aproximar mais de uma vez; eles não chegavam até a grade, mas me espiavam, talvez achando que eu tinha enlouquecido.
Naquela época eu tinha necessidade de escrever, mas isso era impossível. Então, tive a idéia de compor poesias de memória. E, assim, iniciei uma nova experiência. Quando tinha repetido, até saber de cor, o primeiro verso, ia em busca do segundo. Depois de aprendidos os dois, compunha o terceiro e assim até completar a estrofe, depois o poema, que eu repetia diariamente muitas vezes, para gravá-lo na memória. Todas essas poesias, quando as disse para Fernando Arrabal, na casa dele em Paris, noites depois da minha saída de Cuba, ele me pediu que gravasse em fita e que as escrevesse, com medo que se perdessem. Como Arrabal tinha razão! Eu o fiz e algumas semanas depois era incapaz de repeti-las. Esses poemas apareceram em um volume intitulado Cavernas do Silêncio, editado por Playor, em Madri.
Existia uma situação que hoje posso compreender porque analiso os seus motivos. O pessoal da Polícia Política sabia que eu ia embora e não estava de acordo: a vítima escapava e trataram de me torturar o mais que puderam. As luzes e os mosquitos me agoniavam. Na noite que cheguei a Paris, mostrei as costas a Fernando Arrabal: estava toda picada pelos insetos e cheia de pústulas nas picadas que infeccionaram.
Não só derramaram seu ódio doentio sobre mim, como também sobre meus familiares. Sob a ameaça de encarcerar minha irmã, obrigaram minha mãe a escrever-me uma carta dizendo que eu era um inimigo do povo, que merecia a incomunicabilidade e que devia agradecer à revolução o que fazia por mim. Quando o major Guido me entregou a carta e terminei de lê-la, eu sabia que a tinham conseguido com ameaças. Em várias partes do texto ela repetia como era bom o comandante Blanco Fernández. Fizeram isso para se deliciar vendo minha mãe elogiar o coronel que ordenava o tratamento repressivo que eu recebia. Sabiam que me dilacerava minha mãe me escrever defendendo um dos meus verdugos.
Eles chamavam minha irmã à sede da Polícia Política freqüentemente, e se aproveitavam do fato de minha mãe estar só para aterrorizá-la. Um dia, no meio do caminho, minha irmã encheu-se de coragem e voltou. Disse a si mesma que se queriam interrogá-la e ameaçá-la teriam que ir buscá-la em casa. E, quando entrou, surpreendeu um dos oficiais da Polícia Política ditando uma carta à minha mãe, dirigida à Anistia Internacional. Ao me reunir com minha família nos Estados Unidos, minha mãe me contou que a obrigaram a redigir e assinar muitas outras cartas, a fazer declarações — a pessoas estrangeiras que eles levavam à minha casa — desmentindo o que eu denunciava.
Quando minha irmã negou-se a ir à sede da Polícia Política, o coronel Blanco Fernández foi buscá-la. Mostrou-lhe uma sentença em que era condenada a doze anos de cadeia, sem jamais ter sido julgada. Ela teve que pegar seus objetos pessoais e levaram-na para o presídio de mulheres. Mantiveram-na esperando até o anoitecer, com o pretexto de que faltavam uns trâmites, depois a mandaram para casa, dizendo que no dia seguinte iriam buscá-la. Fizeram isso várias vezes. Devido a essa pressão, minha irmã acabou num psiquiatra: ainda hoje está em tratamento.
Em uma ocasião, para lhe revistarem a bolsa, foi maltratada fisicamente pelo coronel Blanco Fernández e pelo capitão Mentira. Minha velha mãe sofreu muitas ameaças. Um dia, o capitão Mentira apresentou-se em casa e disse-lhes que renunciassem a sair do país, que para eles só havia três possibilidades:
1) Transformarem-se em comunistas.
2) Conspirar contra a revolução.
3) Sair de Cuba clandestinamente, em um bote.
Toda essa perseguição contra pessoas indefesas.
* * *
O tratamento avançava, as pernas se fortaleciam, já conseguia dobrar os joelhos e levantar-me um pouco, se bem que ainda com a ajuda dos braços. Passava horas andando entre as paralelas.
Uma de minhas sentinelas, Mariano Corrales, conversador ao extremo, costumava falar muito comigo. Procurava minha conversa para mitigar a solidão, mas em alguns detalhes eu notava seu ódio por mim. Tinha estado em Angola e me contou como seu batalhão participou da invasão do Zaire e a maneira como penetraram no território daquele país, o primeiro choque com tropas belgas e as setenta baixas que estas lhes ocasionaram, enquanto Castro jurava que seus soldados não estavam lá. Era mestiço e um dia pegou a carteira para me mostrar o retrato da esposa, uma mulher branca.
— Agora, com a revolução, somos todos iguais — disse-me, sorridente.
Coisa falsa, porque em Cuba o casamento entre pretos e brancos existiu desde o começo do século como prática normal. Aquela mulher branca e um jogo de móveis de sala, que ele mesmo tinha construído com madeira velha, eram seu grande orgulho.
Em algumas ocasiões eu sentia que entravam pessoas na sala e escutava, muito apagado, o ruído de passos no cubículo contíguo ao meu. A parede, quase perto do teto, estava cheia de furos produzidos pela deficiência da construção. Qualquer deles poderia servir para me vigiar. Foi o sargento Corrales que me convenceu disso, pois um dia, quando fui falar com ele, respondeu-me de jeito agressivo, dizendo coisas que, compreendi no ato, eram dirigidas a terceiras pessoas que estavam nos vendo e ouvindo. Ele, que passava horas conversando comigo, agora nem sequer me olhava; entregou-me a bandeja apressadamente e saiu do cubículo como alma perseguida pelo diabo.
Os meses passavam lentos, arrastando-se. Eu continuava repetindo minhas poesias de memória. Tinha quase vinte e passava o tempo com isso.
Uma tarde, o major Guido e seu ajudante falaram-me da Legalidade Socialista. Respondi-lhes que por essas leis eu devia ser libertado depois de vinte anos de cadeia. O tenente Beltrán disse-me que a Segurança do Estado tinha sua própria interpretação das leis, que ele conhecia bem o assunto porque estava estudando Direito na Universidade de Havana. Aquilo pareceu-me tão incongruente que lhe disse:
— Para mim, o fato dos senhores estarem estudando leis é como se alguém passasse longos anos aprendendo cirurgia e ao formar-se fosse trabalhar num açougue, esquartejando reses.
Quando lhes disse isso, enfureceram-se, disseram-me que era falta de respeito.
— Não, não é falta de respeito. É isso que os senhores fazem com as leis: esquartejam-nas.
* * *
Eu não soube, até sair, que Martha tinha feito uma viagem por países da Europa, em busca de apoio para minha libertação.
Políticos, jornalistas e intelectuais receberam-na na Espanha e também na França, onde Fernando Arrabal escreveu uma carta ao presidente Mitterrand. A essa carta juntou-se outra de Martha, pedindo-lhe audiência. Na Suécia foi atendida pelo grupo 110 da Anistia Internacional. Per Rasmussen tinha conseguido, desde há mais de um ano, que a coalizão não-socialista no Governo solicitasse minha libertação, oferecendo-me ao mesmo tempo asilo político e trabalho naquele país.
Funcionários do governo sueco receberam Martha com verdadeira solidariedade.
Per Rasmussen conseguiu, além disso, depois de mil peripécias, que Pierr Schori, secretário internacional do Partido Social Democrata, e atualmente subsecretário de Relações Exteriores da Suécia, aceitasse falar com Martha por alguns minutos.
A entrevista teve lugar de manhã, muito cedo, no Hotel Continental, de Estocolmo. Pierr Schori não estava muito interessado que o vissem com a esposa de um prisioneiro político de Castro. Não permitiu que Per e Humberto estivessem presentes. Não queria testemunhas. Tudo foi às escondidas, clandestinamente.
— Senhora, se quer fazer algo por seu marido, aconselho-a a não continuar com a campanha de publicidade e denúncias. Assim nunca irá tirá-lo da prisão — Schori aconselhava exatamente a mesma coisa que as autoridades cubanas; "conselho" igual lhe havia sido dado por Regis Debray, na França, através de uma terceira pessoa. — Essas coisas devem ser feitas em muito silêncio.
— No entanto, sr. Schori — replicou Martha, — quando um prisioneiro das ditaduras do Chile ou Argentina é maltratado, os senhores fazem denúncias e escândalos. Ainda acham que Cuba é um paraíso?
— Não, é claro que não. Poucos na Europa acham que Cuba é um paraíso — disse, olhando seus dois relógios, um em cada pulso.
— Se sabem o que está acontecendo e que a ditadura cubana é implacável, que acabou com toda liberdade, por que não o dizem?
— Porque seria dar armas aos norte-americanos.
Martha não respondeu, mas pensou que aquela era uma conduta imoral, carente de honestidade e de toda ética. Apegou-se ao meu caso:
— Não é inteligente continuar mantendo meu marido preso, porque a cada dia aumenta mais os que se unem à campanha pela liberdade dele e isso prejudica a imagem que Castro quer manter dele e de seu regime no exterior.
— Senhora, em Castro chocam-se a inteligência e a soberba — olhava ao redor enquanto falava. — E a soberba sempre triunfa — terminou.
Martha levantou-se; compreendeu que a insistência de Schori em olhar para o relógio tentava terminar a entrevista-relâmpago e quis adiantar-se. Antes de se separarem, Pierr Schori avisou-a de que a conversa com ele não devia se tornar conhecida pela imprensa. Talvez não quisesse provocar a soberba de Castro.
Ramón Ramudo, o hispano-sueco, foi libertado logo que a Polícia Política cubana mudou a acusação original que lhe havia feito, de agente da CIA, pela de contrabandista de lenços de seda, crime muito perseguido em Cuba. Ramudo conseguiu fazer sair as cartas que eu tinha escrito na cela de castigo, em pedacinhos de jornais, e chegou com elas a Estocolmo.
Foi a última pessoa que teve contato comigo e por uma dessas estranhas coincidências que Deus prepara. Martha ainda estava na capital da Suécia quando Ramudo, magro e amarelo, ainda com a marca da prisão e das torturas no olhar, soube de sua presença lá. O encontro dos dois e o testemunho de Ramudo na televisão sueca, em que mostrou minhas cartas, foi de valor extraordinário porque a imprensa do mundo inteiro recolheu suas declarações.
Da Suécia, Martha seguiu para a Noruega, onde a maravilhosa atriz Liv Ullmann, com um grupo de jornalistas e intelectuais, sensibilizados pelo que Martha lhes contou, fundaram um comitê para trabalhar pela minha liberdade, em Oslo, e da Europa nórdica, de gelos perpétuos, a bola de neve, já impossível de se deter, esmagará a soberba de Castro que, pelo menos desta vez, apesar dos augúrios de Pierr Schori, não triunfaria; ao contrário, teria que ceder.
* * *
Meu tratamento continuou. Foram passando meses de exercícios diários; já podia andar entre as barras paralelas sem a ajuda de aparelhos ortopédicos, ficar de cócoras e dar pequenos saltos no mesmo lugar, como se estivesse correndo. Para mim, os primeiros passos no caminhos do restabelecimento tiveram um valor indescritível: voltava a me sustentar sobre as pernas, voltava a vencer outro obstáculo! Tenho vários ossos do pé direito fora do lugar, aqueles que fraturei em 1961, durante a fuga do presídio e que se soldaram errado. Os médicos, quando vêem as radiografias, dizem que é impossível andar com essas lesões sem coxear gravemente. Mas eu não coxeava. Obriguei-me a não fazê-lo e, torcendo o pé no sentido contrário, fui exercitando novos músculos, até conseguir compensar a deficiência.
Curiosamente, apesar de já estar com as pernas fortalecidas, poder fazer trote suave e ficar de cócoras no mesmo lugar, entre as paralelas ou no banheiro antes da ducha diária, não podia andar pelo cubículo sem me apoiar em alguma coisa. Era impossível por causa da perda da linha de marcha, aquele mesmo descontrole que nos fazia andar em ziguezague, no presídio de Boniato. Por isso tinha que continuar usando a cadeira de rodas.
Se tentasse ir da minha cama ao banheiro, atravessando o cubículo, meu andar era errante e a primeira vez que o fiz não consegui manter a linha e fui parar na parede do fundo. Precisava, para concluir aquela etapa do tratamento, de espaço aberto para que o cérebro voltasse a ter a perspectiva de profundidade de que carecia entre aquelas quatro paredes. Mas o segredo de minha recuperação física tinha que ser guardado até o último minuto.
Uma tarde, outro especialista veio me examinar; fez um teste muscular, observou-me fazendo exercícios e me explicou que com apenas uns dias de espaço aberto eu recuperaria a linha de marcha.
Dias depois, o dr. Puente subiu uma bicicleta de ginástica e comecei a fazer exercícios nela.
Os médicos intensificaram o tratamento, de manhã e à tarde. Aproximava-se a minha saída, da qual eu nem sequer suspeitava. No entanto, a tortura continuava. Aquela dualidade carcerária era grotesca, uma loucura. A comida continuava sendo abundante e de qualidade, mas não me davam nenhum comprimido. Algo me provocava alergia e meu corpo estava ficando cheio de vergões, além de coçar de modo desesperador, mas não me davam remédio. Uma aspirina era tão difícil de conseguir quanto ver o sol.
Uma madrugada, um grupo de coronéis apareceu no meu cubículo. Ordenaram-me que recolhesse tudo o que tinha.
— O general quer vê-lo — disse o chefe do grupo.
A caravana, composta de três carros, saiu da prisão. Chegamos à Vila Marista, sede da Lubianka cubana, um enorme conjunto de edifícios.
Deixaram-me em uma cela dos longuíssimos corredores. Por aqueles corredores passaram dezenas de milhares de cubanos que foram submetidos a interrogatórios alienantes para arrancar-lhes confissões sob pressão de torturas. Muitos não puderam resistir e morreram. Logo a Polícia Política informava que haviam se suicidado.
O expediente do "suicídio" naqueles tétricos calabouços serviu para desvirtuar o assassinato de Eurípedes Nuñes, um dirigente operário que foi Secretário-Geral do Sindicato dos Trabalhadores da conhecida fábrica de tabacos H. Uppmann. Também foi liquidado desta maneira o professor de Filosofia da Universidade de Havana, Javier de Varona; o médico e ativista pelos Direitos Humanos, dr. José Janet; o comandante do Diretório Revolucionário e ex-ministro do Comércio Exterior de Cuba, Alberto Mora; só para citar casos de pessoas conhecidas, pois a lista de vítimas anônimas, de homens e mulheres simples, cujos nomes não transcendem, e que desapareceram naqueles calabouços, é interminável. Não há listas, nem detalhes, jamais alguém é testemunha das detenções. O terror fecha olhos e lábios.
Os cidadãos podem ser presos por simples suspeitas e ser mantidos sob processo de investigação e interrogatórios durante anos, como aconteceu com o dissidente marxista e professor universitário de Economia, Elizardo Sánchez Santa Cruz, a quem por dois anos mantiveram naqueles calabouços, submetido a todo tipo de pressões. na tentativa de arrancar-lhe uma confissão que envolvesse outras pessoas, assim como sua auto-acusação.
Um dos casos típicos de tortura física e mental que conheci é o do médico Mario Zaldivar, que foi clínico no Hospital Militar de Havana. Foi submetido a câmaras de congelamento e aquecimento alternados, assim como a surras. Depois, ameaçaram-no de tomarem represálias contra a família dele, se contasse o que tinha acontecido. A última vez que o vi estava aterrorizado.
Manuel del Valle, depois de interrogatórios massacrantes e torturas, foi retirado uma madrugada, com os pés e as mãos amarrados; levaram-no para o tétrico "matadouro de Castro", onde o amordaçaram com esparadrapo, prenderam-lhe os braços para trás, passados por uma tábua, e fuzilaram-no com tiros de festim. Essa prática de falsos fuzilamentos era usada constantemente.
Orlando Garcia Plasencia e muitos outros de seus companheiros foram detidos por uma conspiração abortada que tinha, entre outros planos, o de atentar contra a vida de Castro. Projetavam atirar nele com uma bazuca. Um dos conspiradores, uma moça chamada Dalia Jorge, não pôde resistir aos interrogatórios. Colocaram-na completamente nua diante de um grupo de oficiais. Se para um homem é humilhante ficar nu diante de seus verdugos, para uma mulher o é infinitamente mais. Aos poucos, com aquelas técnicas de interrogatório, a cela fria e o terror, obrigada a se exibir nua, a resistência de Dalia Jorge desmoronou. Delatou então todos os seus antigos companheiros e informou tudo que sabia. Enquanto Garcia Plasencia e outros grupos sofriam torturas, ela perambulava pelo presídio, porque lhe haviam concedido liberdade dentro daquela zona. Quando sentiu a formação de um novo ser em suas entranhas, não pôde saber qual daqueles oficiais que a haviam possuído era o pai.
Para arrancar de Garcia Plasencia uma confissão que implicasse outros supostos conspiradores, torturaram-no durante semanas. Completamente nu, amarravam-lhe as mãos às costas e obrigavam-no a subir sobre os depósitos de gelo, diante de um aparelho de ar-condicionado ligado no máximo de frio. Se, dolorido pelo contato do gelo nas solas dos pés Garcia Plasencia se abaixava, o guarda jogava um jarro de água gelada nele.
Depois de semanas dessas torturas, passaram a amarrá-lo com cordas, em posição fetal, cabeça enfiada entre os joelhos; quando urinava empapava a cabeça com a própria urina. Também amarravam-no pelos ombros e, com a cabeça coberta por um capuz, mergulhavam-no em água quase até a asfixia. Uma vez disseram-lhe que iam imergi-lo no poço dos crocodilos. Garcia Plasencia me contou que, enquanto iam-no descendo, ele calculou a distância que o separava da água e encolheu os pés. Mas, assim mesmo, sentiu o lombo viscoso e áspero dos crocodilos, que não eram mais do que as carapaças de inofensivas tartarugas.
Uma madrugada, o próprio Castro apareceu. Por que não atirou em mim? — disse-lhe. — Você é um covarde.
O prisioneiro não respondeu e Castro o esbofeteou. Garcia Plasencia estava manietado e completamente nu.
Hoje, mais de vinte anos depois, continua no presídio do Combinado do Leste.
O calabouço que me destinaram na sede da Polícia Política tinha uma abertura pela qual o guarda do corredor assomava-se constantemente. Isso tinha a finalidade de fazer o preso se sentir constantemente vigiado.
Poucas horas depois, uma verdadeira corte de coronéis e ajudantes foi me buscar. Esperava-me um homem de uns quarenta e oito anos, em um escritório luxuosíssimo, com tapetes e cortinas vermelhas. Era o general, chefe da Lubianka.
— Valladares, trouxemos você para cá porque vamos pô-lo em liberdade... e possivelmente iremos deixá-lo sair do país.
A notícia não teve o efeito que esperavam e o general percebeu. Eu havia conhecido casos de prisioneiros que tinham sido manipulados, iludidos por essa idéia.
A notícia não o agrada, Valladares?
— Por que vão me libertar, general? — perguntei, sem acreditar muito.
Desde há muitos anos mantinha a conduta de não me iludir com nada do que eles dissessem.
— Porque a revolução irá dando solução a casos como o seu, apesar da sua hostilidade na prisão e sua recusa aos planos de reeducação política — e olhou seu relógio, um Rolex dos que Castro dá e que se tornaram em Cuba provas das simpatias pessoais do ditador. — Já é muito tarde, você precisa descansar ... — levantou-se e acrescentou: — Sabemos que precisa de um pouco de exercício ao ar livre e deve tomar um pouco de sol, porque está muito pálido. Amanhã o companheiro Alvarez Cambra, seu médico, virá vê-lo. Ele orientou o seu tratamento e está a par de como evoluiu.
Eu não pude dormir pelo que restava da madrugada. A notícia que iam me dar a liberdade era algo que já não esperava e em que não podia acreditar; temia que fosse outra jogada da Polícia Política e tentava adivinhar que maquinação ocultava. Talvez quisessem me iludir com a idéia da libertação para mais tarde apresentar-me alguma condição, como assinar que aceitava minha reabilitação ou algo do estilo. Minha experiência com inimigos capazes de tudo dizia-me que devia suspeitar até o último instante e que eles não iriam me libertar em troca de nada. Eu nem sequer podia desconfiar que o nível de opinião pública mundial, tão ansiado por mim, tinha chegado à altura necessária para obrigar Castro a me libertar, apesar de sua soberba e do juramento que não o faria enquanto houvesse uma campanha a meu favor.
Na tarde seguinte, o dr. Alvarez Cambra me visitou; muito gentilmente, disse-me que eu seria levado ao ginásio e que me deixariam andar na quadra de esportes.
Primeiro, fizeram-me percorrer os corredores, apoiado em uns oficiais. Depois, levaram-me ao ginásio, onde o general me esperava. Nos dias seguintes, faziam-me subir e descer escadas, primeiro devagar, depois mais depressa. Dia a dia fui adquirindo a habilidade. Certa manhã, acompanhado pelo dr. Alvarez Cambra, saí ao polígono esportivo. Os primeiros passos ainda eram titubeantes; entre ele e o general, fui avançando. Do outro lado me filmavam.
O dr. Alvarez Cambra explicou-me que o cerebelo se readaptaria logo e assim foi. Através do general, eu soube que não apenas teria a liberdade, mas que também me permitiriam sair do país.
Respondi-lhe que aceitava, desde que minha família também pudesse ir embora de Cuba. Disse-me que sobre isso teria que consultar o nível superior.
Quando me levaram ao polígono, comecei a dar voltas nele, primeiro devagar, depois mais depressa, a trote curto.
— Quando puder correr bem, irá embora —dizia-me o general.
Perguntei pela minha família e ele disse que haviam respondido que ela não podia ser incluída.
— Então, general, não aceito a saída. Sem minha família eu não irei. Vocês hostilizaram minha gente durante anos, mantiveram-nos como reféns, para tomar represálias contra mim; agora, não vou embora deixando-os aqui. Eles estão com tudo pronto; passaportes, vistos, passagens. Não é justo que continuem sofrendo em um país que os hostiliza e fustiga.
— Você está louco, não sabe o que diz. Sua família irá depois.
— Não, general. Não aceito isso.
— Olhe, amanhã virá uma pessoa que vai falar com você e fazê-lo mudar de idéia.
No dia seguinte, eu estava na quadra fazendo exercícios, quando o general chegou acompanhado por um senhor de bigodes, alto e claro. Era Pierre Charasse, o embaixador interino da França. Foi na conversa com ele que soube, enfim, o porquê da minha libertação. O presidente Mitterrand a havia pedido a Castro e este tinha cedido. Mostrou-me a cópia de um telegrama da presidência francesa: esperava-se minha chegada a Paris nos próximos dias e a imprensa mundial já estava dando a notícia.
Deus me iluminou. Compreendi em segundos que o jogo tinha mudado, que minha posição era forte.
Expliquei ao sr. Charasse a situação da minha família e tudo o que tinham feito contra ela. Pedi-lhe que transmitisse meus agradecimentos ao presidente da França e acrescentei:
— Prefiro continuar num calabouço, comendo farinha de milho, mas com a consciência tranqüila, do que comer um pato com laranja no "Maxim's" de Paris, sabendo-me traidor da minha família.
O embaixador foi muito gentil. Tentou me fazer raciocinar. Certamente para ele, que sabia que eu estava preso há vinte e dois anos, minha negativa de ir para Paris, para a liberdade, tinha que parecer loucura.
Quando ele foi embora uma grande tranqüilidade me envolveu. Eu sabia que o mais importante era viver em harmonia com a própria consciência, agindo como se acha certo, sem levar em conta as conseqüências. Minha verdadeira liberdade era essa, a que Deus dá interiormente aos homens. Eu não podia deixar a minha família para trás. Nos regimes marxistas elas são tomadas como reféns — essa prática é bem conhecida no mundo inteiro — para impor silêncio aos que estão no exterior.
No entanto, a reação do general foi de indignação. Quando mandou me buscar, a ira congestionava-lhe o rosto. Repetiu-me — coisa que tinha me dito durante anos — que eles não aceitavam imposições e que Castro, quando soube da minha exigência, respondera que eu apodrecesse na prisão.
— Vamos lhe dar uma última oportunidade, Valladares.
— Agradeço, mas sem minha família eu não irei, general.
Nessa noite, com grande hostilidade, levaram-me de volta à prisão. O clima era tenso. Os mesmos coronéis que dias antes se desfaziam em atenções e gentilezas para comigo, como que para apagar em algumas horas os anos de torturas e ignomínias, não me dirigiam a palavra. Um silêncio total reinou entre eles e eu, durante todo o trajeto.
Dois dias depois, as autoridades trouxeram minha família, acompanhada pelo sr. Charasse. Minha mãe e eu nos abraçamos, depois de longos anos sem nos vermos; minha irmã me beijava, emocionada. Estavam felizes por me ver andando. Não sabiam do tratamento que me tinham dado em segredo, para não poder informar a respeito. Quando, meses atrás, perguntavam por mim, os oficiais diziam que eu me negava a ser tratado.
Soube, então, que em conversas entre Castro e o governo francês, tinham resolvido incluir minha família na negociação. Ainda assim, respondi que não acreditava nas palavras de Castro.
— Martha esperou vinte e um anos por você; nenhum dos dois merece que esse encontro demore mais — disse-me minha irmã, me abraçando. — Vá, meu irmão, que pelo menos nós estamos lá fora, ao passo que você sofreu muito e merece um pouco de felicidade... Vá e seja o que Deus quiser...
— Não tenha pena — disse-me minha mãe. — Nosso sonho era ver você livre e já posso morrer tranqüila.
Novamente levaram-me para a sede da Polícia Política. Outra vez os coronéis estavam sorridentes e atenciosos.
No dia da partida tornaram a me filmar no campo esportivo, enquanto eu corria ao redor dele.
Quando me tiravam da cela, o oficial que me acompanhava assobiava para avisar que ia levando um preso, sinal que usavam para avisar um ao outro e evitar que eu cruzasse com outros detidos. Lá ninguém deve se ver. Outras vezes, colocam um capuz no preso.
Um preso enlouquecido, no corredor lateral, empurrou o guarda e saiu correndo; ao chegar à escada, soltou um grito e se atirou de cabeça por ela abaixo. Quem seria aquele infeliz? Que torturas teria sofrido para chegar àquele ponto?
Deram-me um terno, um capote e uma maleta.
Na última conversa com o general, este me fez uma velada ameaça : minha família ficava e dependia de mim que a deixassem sair ou não, insinuando que se eu fizesse declarações contra Cuba nunca sairia.
— Os braços da revolução são longos, Valladares, não se esqueça disso... — e ficava implícita uma sinistra ameaça contra mim.
Nada respondi. Minha mente estava fora daquela sala, longe... muito longe, em Paris, onde Martha me esperava, minha Penélope real. Em 1979 eu havia escrito um poema para ela que terminava com uma premonição, um canto à esperança, à sua angustiante espera...
Chegarei a ti
desta vez não duvide
já está decidido nosso encontro
apesar do ódio e dos abismos.
Chegou a hora da partida. A comitiva de vários carros enfiou-se pela Avenida de Rancho Boyeros, rumo ao Aeroporto Internacional José Marti. O avião partiria às 7 da noite. Um sol vermelho como sangue tingia a tarde de escarlate e em meu coração elevei uma prece agradecida a Deus por ter me ajudado a esperar contra toda esperança, e roguei-Lhe pela minha família, de quem não tinham permitido que eu me despedisse, por meus companheiros que ficavam para trás, na noite interminável dos cárceres políticos cubanos.
Os carros corriam, velozes, e uma mistura de melancólica tristeza e alegria foi me afundando nas lembranças de vinte e dois anos . .. Lembrava-me dos sargentos Porfirio e Matanzas, afundando as baionetas no corpo de Ernesto Diaz Madruga; de Roberto Lopez Chavez agonizando em uma cela, implorando como louco por um pouco de água e dos guardas que lhe urinavam na cara, na boca; de Boitel a quem, também depois dos cinqüenta e tantos dias de greve de fome, negaram água, porque o próprio Castro tinha dado ordem de matá-lo; depois de Clara, sua atribulada e velha mãe, agredida pelo tenente Abad nas dependências da Polícia Política, só porque queria saber onde haviam enterrado seu filho; lembrava-me de Carrión com um tiro na perna, pedindo ao miliciano Jagüey que não atirasse mais e este, sem compaixão, metralhando-o pelas costas; e pensava que outros oficiais, semelhantes aos que me rodeavam, haviam proibido aos familiares que chorassem na funerária, sob ameaça de levar o cadáver.
Lembrei de Estebita, de Pire, que amanheceram mortos nas celas muradas, vítimas de experiências biológicas. De Diosdado Aquit, do Chino Tan, de Eddy Molina e tantos outros assassinados nos campos de trabalhos forçados.
Uma legião de espectros nus, aleijados, passou pela minha mente, do mesmo jeito que nas revistas horrorosas com centenas de feridos, os mutilados, a dinamite para nos fazer em pedaços, os celas de confinamento com seu regime de surras, as mãos decepadas a facão de Eduardo Capote. Campos de concentração, torturas, mulheres surradas no cárcere, o militar que me jogava excrementos e urina no rosto, as surras que deram em Eloy, em Izaguirre. Martin Perez com os testículos feridos a tiros. O pranto de Robertico chamando pela mãe.
E no meio da visão apocalíptica de minhas terríveis experiências passadas, entre a fumaça acinzentada da pólvora e da orgia de pancadas, de prisioneiros abatidos a tiros, um homem famélico, esquelético, com cabelos brancos, olhos azuis fulgurantes e coração cheio de amor, erguendo os braços para o céu invisível e pedindo demência para seus verdugos ...
"Perdoai-os, Senhor, eles não sabem o que fazem!", enquanto uma rajada de metralhadora' perfurava o peito do Irmão da Fé.
"Do nosso ponto de vista, não temos problema algum com os Direitos Humanos: aqui não há desaparecidos, aqui não há torturados, aqui não há assassinados. Em vinte e cinco anos de revolução, apesar das dificuldades e dos perigos pelos quais passamos, jamais se cometeu uma tortura, jamais se cometeu um crime." (Declarações de Fidel Castro a jornalistas franceses e norte-americanos, no Palácio da Revolução, em Havana, a 28 de julho de 1983, publicadas no jornal Granma, na edição de 10 de agosto do mesmo ano).
(Último capítulo)
* * *
AS CHARGES DO DIA